Mútuo Benefício

9. Grace

Toda segunda-feira da segunda semana de cada mês, meu pai faz uma reunião em casa com os detetives de seu departamento. E por ser algo totalmente confidencial, não posso estar presente, o que acho bem injusto. Eu adoro saber sobre os casos e suas investigações. É tudo tão excitante! Eu amo os mistérios, e amo ainda mais quando eles são resolvidos. Ultimamente, tenho pensado cada vez mais em entrar para à academia de polícia, mas ainda não falei com meus pais sobre isso. Minha mãe iria surtar. Ela odiava o fato do meu pai ser policial e estar sempre correndo risco, então com certeza, também odiará se eu quiser seguir a mesma carreira. Na verdade, consigo até imaginá-la desmaiando. Já o meu pai, imagino que irá ficar feliz e me apoiar. O problema é que eu não quero que ele me apoie demais. Quero ser detetive pelos meus próprios méritos, porque lutei para conquistar isso, e não apenas por ser filha do Capitão Henderson. Por isso, tenho que manter tudo em segredo, até que eu me decida sobre tudo. Enquanto isso, irei focar nos exames de admissão das faculdades para cursar psicologia, outra profissão pela qual eu sou completamente apaixonada. E bem, eu não preciso escolher um ou outro. Posso cursar Psicologia e depois me especializar em Psicologia Criminal ou Forense. Assim, eu juntaria o útil ao agradável.

Confiro às horas em meu celular pela terceira vez e suspiro. Jake e eu combinamos de nos encontrar nessa lanchonete depois do seu treino para terminarmos o trabalho de literatura, já que não poderíamos fazer na minha casa por conta da reunião do meu pai com seus funcionários e nem na dele, por motivos desconhecidos. Só não imaginei que seu treino duraria tanto assim. O que me livra do completo tédio é o livro que comprei sábado, Estilhaça-me, o primeiro de uma série. O que quer dizer que vou ter que economizar para comprar os outros livros.

— Qual livro você quer? - A voz de Jake adentra em meus ouvidos e eu dou um pequeno sobressalto do banco rosa acolchoado, assustada.

— O quê? - Pergunto confusa, aturdida demais com sua chegada repentina. Por que ele sempre tem que fazer isso?

Jake suspira, e senta-se de frente para mim. Ele passa a mão entre os fios dos cabelos e se debruça sobre a mesa, me encarando de uma forma estranha. Eu diria até que... rancorosa?

— Ontem eu li cem páginas do livro. Sabe quantas páginas eu lia antes, de qualquer outro livro? Duas. Na terceira, eu já estava pegando no sono ou distraído até mesmo com as paredes. Mas com esse maldito livro... Quanto mais eu lia, mais eu queria ler! Eu tive que me forçar a parar porque já estava de madrugada! - Ele exclama, frustrado.

Não consigo conter uma risada. Percy Jackson e os Olimpianos é realmente uma série maravilhosa, mas eu não estava assim tão certa de que venceria a aposta. A verdade é que não sei se fico mais feliz por ele ter gostado do livro ou por eu não precisar fazer o que Jake quiser por uma semana inteira.

— Então parece que eu vou ganhar um livro. - Sorrio vitoriosa.

— Pois é. - Ele murmura, parecendo inconformado por ter perdido. — Qual livro você quer? - Ele repete, com cara de tacho.

— Hum, não sei ainda. Quando eu escolher, te digo. - Anuncio, e então me lembro de uma coisa. — Ah!

— O quê? - Ele pergunta, sem entender.

Abro minha mochila, tiro uma sacola grande de dentro e dou para ele, por cima da mesa.

— Seus casacos. - Explico.

— Achei que nunca fosse vê-los novamente. - Sorri, divertido.

— Eu posso ser muitas coisas, mas não sou ladra. Enfim, vamos começar logo esse trabalho. Já perdemos tempo demais.

Jake e eu voltamos toda a nossa atenção para o trabalho. Quer dizer, quase. De vez em quando, ele soltava algumas piadinhas e eu jogava meu lápis nele, como forma de fazê-lo parar. E bem, não fazia, mas eu continuava do mesmo jeito porque era divertido. Uma hora depois - o que foi equivalente a 15 jogadas de lápis -, nós finalmente terminamos nosso trabalho. Escrevemos oitocentas palavras, mais do que foi pedido, e estruturalmente, nosso texto ficou muito bom. Não que eu queira me gabar, mas não gosto de falsa modéstia. Acho que não vamos tirar nada menos do que um B.