Mútuo Benefício

4. Jake

Hoje é terça-feira, o único dia de folga do time de futebol. As aulas já encerraram e eu deveria estar indo para casa, mas aqui estou eu, tocando a campainha da casa de Grace, que para minha surpresa, fica apenas a dois quarteirões de onde moro. Me pergunto como nunca nos encontramos antes.

— Você chegou cedo. - Ela diz, quando abre a porta. Seus cabelos estão presos em um rabo de cavalo e ela veste uma legging preta e uma blusa de moletom cinza que vai até metade das coxas.

— Não tive treino hoje. - Dou de ombros.

Ela não responde, apenas abre passagem para que eu entre em sua casa e depois fecha a porta. Sem pedir permissão, me sento no grande sofá branco no meio da sala, que fica de frente para a TV.

— Então... como vamos fazer isso? - Ela cruza os braços e se aproxima, mas permanece de pé.

— Bom, para marcar um touchdown é preciso percorrer dez jardas. Mas antes de tudo, também é preciso ter um conhecimento sobre o jogo. - Exemplifico, usando uma analogia.

Grace franze o cenho e me olha como se eu estivesse louco.

— O quê?

— Eu preciso saber sobre os gostos de Brittany, assim como você precisa saber sobre Ben. Só então poderemos começar a fazer alguma coisa.

— Você poderia ter dito isso antes. - Ela revira os olhos.

— Sim, mas achei mais interessante da outra forma. - Dou de ombros.

— Ok, eu começo. - Grace suspira e senta-se na outra extremidade do sofá. É quase como se ela tivesse aversão à mim. — Brittany é líder de torcida, e por isso muitas pessoas acham que já sabem tudo sobre ela, principalmente os garotos. Mas estão todos errados. Ela gosta de ler, e seu livro favorito é Romeu e Julieta. Suas cantoras preferidas são Beyoncé e Taylor Swift. A cor preferida é rosa e ela adora Gossip Girl. E... bem, acho que o resto eu posso ir contando quando for necessário.

Ok, não são grandes revelações. Nada que me faça ver Brittany de outro jeito.

— O'Connell também gosta de ler. Uma vez, o time o pegou lendo uma revista no vestiário sobre agronomia! Dá para acreditar?! - Faço uma careta. — E não posso me esquecer que ele prefere a DC do que a Marvel! Chocante. Ben é bem eclético em relação a músicas, mas tem uma mania estranha de escutar música clássica sempre antes de um jogo. Enfim, o cara é um tremendo tédio quando não está jogando ou quando está sóbrio.

— Bom, eu não o achei um tédio, achei... interessante. - Ela conclui.

— Se você diz.

— Então, qual será o nosso primeiro passo? - Pergunta.

— Sermos notados. - Digo como se fosse óbvio.

— Você é jogador do time de futebol, então apesar de Brittany não te conhecer, ela já deve ter ouvido falar sobre e você. E sobre Ben... nós meio que já nos conhecemos. - Ela morde o lábio inferior.

— Como? - Pergunto curioso.

— Foi em Maio. Nós nos esbarramos, meus livros caíram e ele os apanhou. Ele perguntou meu nome, se apresentou e depois nos despedimos. - Responde, e noto que suas bochechas ficam levemente coradas. Engraçado, os dois se conheceram no mesmo mês que eu vi Brittany dançando no campo.

— Hum, isso pode ser bom. Vocês se falaram alguma vez depois disso?

— Não. Provavelmente ele nem lembra mais de mim.

— Talvez, mas isso não irá importar depois de amanhã. - Digo por fim.

— É. - Ela concorda, então olha para a tela do celular e sua expressão muda, como se acabasse de tomar um susto. — Merda, você tem que ir agora!

— Por quê? - Questiono, franzendo o cenho.

Mas antes que Grace possa responder, a porta principal se abre, revelando um homem fardado. Um policial. Ele entra parecendo estar tranquilo, sem se dar conta da minha presença. Então, quando finalmente me vê, seus olhos se estreitam e ele me olha surpreso. Suas feições são sérias. Ele tem os cabelos pretos como carvão, com alguns fios brancos. Os olhos são castanhos, e algumas rugas se encontram ao lado, demonstrando que ele já não é mais tão jovem. O homem está bem barbeado e possui uma postura impecável e invejável, e pelo modo como entrou na casa, não parece ter se confundido, o que só pode significar duas coisas: a) ele é o pai de Grace e b) eu estou ferrado.

— Hey, pai! - Grace é a primeira a falar, e algo em sua voz me diz que ela está nervosa. — Você chegou cedo hoje.

— Quem é esse? - Ele pergunta para ela, sem tirar os olhos de mim.

— Eu sou o Jake. E aí? - Me apresento. Não preciso e nem quero que Grace faça isso por mim. O homem é um pouco assustador, ok, mas não posso me deixar intimidar, afinal, eu sou um quarterback.

— "E aí?" - Ele pergunta com as sobrancelhas erguidas.

— É, tipo "tudo bem?" ou "como vai?", sabe? É uma gíria muito usada por jovens, por isso talvez você não conheça. - Explico.

— Ai, meu Deus. - Escuto Grace murmurar baixinho.

— Então você está me chamando de velho? - Ele semicerra os olhos, parecendo me estudar.

— Bem, Sr. Henderson, nós não podemos dizer que você é exatamente jovem. - Dou uma risada.

— Jake já estava de saída! Vou acompanhá-lo até lá fora e já volto. - Grace interrompe e me puxa pelo braço até o meu carro. — Você está louco?!

— Por quê? - Franzo o cenho, confuso.

— "Por quê"?! Você é inacreditável! - Ela exclama, irritada. — Ainda não consigo acreditar que falou com meu pai daquele jeito!

— Relaxa, gata. Seu pai ainda vai me amar. - Pisco para ela.

— Claro, nos seus sonhos! - Esbraveja. Ela me dá às costas e sai pisando duro, sem ao menos se despedir.

Não entendo porque Grace ficou assim, não fiz nada demais. E está na cara que Henderson me amou. Ok, talvez não, mas é só questão de tempo, pode anotar. Em alguns dias ele estará gostando de mim tanto quanto da filha, ou até mais.

Quando estaciono meu Jeep em frente à minha casa, já sinto meu humor mudar. É sempre assim. Posso estar o mais feliz possível, mas quando chego em casa e me deparo com ele, todas as minhas emoções e sentimentos bons se ausentam. Odeio sentir essas coisas. Odeio que ele me faça senti-las. E o odeio. Ao entrar em casa, escuto sua estúpida voz:

— Suzanna? É você? - Pergunta, claramente bêbado. Como sempre.

— Não. - Respondo, e subo para o meu quarto.

Tranco a porta com a chave e coloco meus fones, com a música no volume máximo. Tiro meus livros da mochila e sento na cadeira da minha escrivaninha para resolver os exercícios. Se eu quiser sair um dia dessa casa, o único jeito é estudando.

Oi, gente! Tudo bem? Se não, melhoras aí ❤️

O Jake tá super crendo que o Capitão Henderson vai gostar dele. Será que vai mesmo ou ele só é confiante e iludido demais? Essa resposta vocês terão nos próximos capítulos (ficou parecendo comercial de novela da Globo, né? 😂). Até segunda, babys!

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