Mútuo Benefício

17. Grace

Incrédula. É assim que me encontro depois de Jake bater à porta da minha casa e revelar que quer denunciar seu pai por violência doméstica. Quero acreditar que tudo não passa de um engano, que eu ouvi errado, que é apenas o meu cérebro me pregando uma peça, mas é só olhar para ele que eu sei que é real. Jake já havia me contado que seu pai é alcoólatra, mas isso? Eu não fazia ideia. Ele é sempre tão divertido e sorridente que chega a ser difícil de acreditar. No entanto, parece que seu bom humor é mais do que um estado de espírito. É também uma armadura que permite com que ele esconda o que realmente acontece.

Observo suas feições enquanto limpo seu rosto manchado de sangue, com um pedaço de algodão molhado em álcool. Ao passar para suas mãos, noto que ele se contrai quando o líquido entra em contato com sua pele ferida. Peço desculpas e continuo, dessa vez com mais cautela. Jake não responde. Desde que meu pai saiu para resolver a situação, ele não deu uma única palavra. Apenas encara o nada em silêncio, perdido em seus próprios pensamentos e chocado demais para falar alguma coisa. E eu, não posso deixar de ficar preocupada. Esse não é o Jake que eu conheço. Queria que ele falasse alguma coisa, me contasse o que está pensando, ou até mesmo, surtasse. Qualquer coisa, menos esse silêncio devastador.

A porta principal é aberta e assim como eu, ele vira a cabeça para olhar. Quando meu pai entra, Jake levanta-se do sofá de imediato e vai de encontro ao Capitão Henderson.

— E então? Você o prendeu? - Ele pergunta, ansioso. Nem parece que estava paralisado, em um silêncio mortal, há segundos atrás.

— Grace, é melhor você subir e tentar dormir. Preciso conversar com Jake a sós. - Meu pai olha para mim, ignorando momentaneamente a pergunta do jogador de futebol.

— Mas...

— Por favor, querida. - Ele insiste, e eu suspiro derrotada.

É claro que quero ficar, mas não vou discutir sobre isso. Então, apenas o obedeço. Bom, parcialmente. Subo às escadas e fecho a porta do meu quarto com mais força que o normal, para que os dois possam ouvir lá de baixo. Depois, volto para a escada e sento no topo, silenciosamente.

— Vamos nos sentar. - Ouço meu pai dizer. Desço um degrau e me inclino um pouco, conseguindo assim visualizar os dois sentando-se no sofá. Jake está de costas para mim, e meu pai, de lado.

— Você o prendeu ou não? - Meu parceiro volta a repetir.

Meu pai respira fundo e dá um longo suspiro, fazendo uma cara que eu conheço muito bem. E antes que ele diga algo, eu já sei a resposta.

— Não.

— O quê?! Por quê? - Jake levanta a voz, claramente alterado. — Você é policial, essa é a sua função! Você deveria... deveria...

— Jake. - Papai diz calmamente, e põe a mão sobre o ombro do meu parceiro, dando um leve aperto. — Sua mãe não quis fazer a denúncia. Ela disse que apenas caiu da escada.

— Não! Isso é mentira! Eu vi! Vi quando ele... ele... - Jake tenta dizer, mas não consegue. Consigo perceber a dor em sua voz, e tudo que quero fazer é correr escada à baixo e abraçá-lo, mas não posso. Então, abraço minhas próprias pernas e mordo os lábios, apenas o observando de longe.

— Eu acredito em você, filho. - Meu pai assegura, olhando nos olhos dele. — Mas eu e nem ninguém podemos fazer nada se sua mãe não denunciá-lo.

Jake volta o olhar para o chão, e permanece assim por um tempo, sem nada dizer. Meu pai também nada diz, e se instaura um silêncio ensurdecedor, muito pior do que antes.

— E o que eu vou fazer agora? - Grant quebra o silêncio após um tempo.

— Bom, enquanto sua mãe se arrumava para levar seu pai para o hospital, eu tomei a liberdade de entrar em seu quarto e pegar algumas coisas. - Papai começa a dizer, e Jake vira para encará-lo, com o cenho franzido, assim como eu.