Pense na pessoa mais azarada que conhece. Agora multiplique por mil. O resultado ainda não chegará nem perto de todo azar que eu tenho.
Faltavam 40 minutos. Apenas malditos 40 minutos para eu chegar em Chicago. Mas, é claro que o pneu do carro tinha que furar no meio do caminho, me fazendo parar na estrada escura, completamente sozinha. Respiro fundo, tentando manter a calma e estaciono o carro no acostamento. Em seguida, ligo o pisca alerta. Pego meu spray de pimenta no porta-luvas e o guardo dentro do bolso interno do casaco. Afinal, estou sozinha. E sou uma mulher.
Saio do carro e abro o porta-malas. Tiro o triângulo de sinalização de dentro e o coloco há pelo menos 30 metros da traseira do automóvel. Depois, pego também o estepe, macaco e chave de roda, deixando para trás o manual do veículo. Essa não é a primeira vez que faço isso, então não preciso de instruções. Com a chave de roda, afrouxo os parafusos da roda que está com o pneu furado, encaixando e girando a chave no sentido anti-horário. Feito isso, posiciono o macaco, levanto o carro e continuo desparafusando. Quando termino, removo os parafusos e o pneu vazio. Suspiro. Está quase acabando. Encaixo o estepe, colocando-o no eixo e alinhando o aro do estepe com os parafusos da roda. Então, coloco os parafusos e os aperto até que estejam bem firmes, girando-os no sentido horário. Por fim, desço o carro por completo e tiro o macaco.
— Ótimo. - Murmuro para mim mesma, enquanto olho para o meu trabalho. Limpo o suor que se formou em minha testa com o dorso da mão e guardo as ferramentas no porta-malas novamente.
Enquanto volto para casa, tento não pensar no motivo que me fez passar despercebidamente por um buraco enorme e furar o pneu do carro. Mas obviamente, não obtenho êxito. Ainda consigo imaginar com perfeição o rosto de Jake tão próximo ao meu, sua respiração quente e suave, o modo como ele olhava para os meus olhos, os meus lábios... Sinto um arrepio subir pela espinha, e estremeço. Por que diabos ainda estou pensando nisso?! Ligo o som e deixo tocar no aleatório, cantando as músicas que conheço. Qualquer coisa para afastar Jake dos meus pensamentos.
Chego em casa faltando vinte minutos para às onze. Meu pai estava deitado no sofá assistindo algum filme policial, mas senta-se quando me vê.
— Você demorou. - Afirma, mas parece aliviado em me ver. — Aconteceu alguma coisa?
— Sim, só o pneu do carro que furou. - Jogo as chaves do automóvel em cima da mesinha de vidro entre o sofá e a TV. — Você pode levar para o mecânico amanhã? Para trocar o estepe por outro pneu.
— Claro, sem problemas. - Ele assegura. — Então, como foi com Jake?
Engulo em seco. Eu realmente estava torcendo para papai não mencioná-lo, apesar de que sabia que isso aconteceria, já que foi ele quem deu a ideia de eu ir até Geneva.
— Foi... bem! Muito bem, na verdade. Nossa, me deu uma fome agora. Acho que vou preparar um sanduíche! - Mudo de assunto, e vou em direção a cozinha.
— Tem certeza? Você parece agitada. - Ouço a voz de desconfiança do meu pai atrás de mim.
É claro que estou agitada! Não consigo parar de pensar naquele exato momento que tive com Jake, assim como também não consigo parar de pensar o que poderia ter acontecido se meu celular não tocasse com a mensagem de Ben. Ben, que me chamou para ir a um encontro amanhã à noite e eu esqueci de responder porque estava ocupada demais tentando sair o mais rápido possível de Geneva.
— Eu? Claro que não! É impressão sua. - Viro para olhá-lo, e dou um sorriso amarelo. — Bom... acho que vou dormir. Boa noite, pai!
— Você não ia comer? - Ele franze o cenho, parecendo confuso.
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Mútuo Benefício
Romance🏆 VENCEDOR DO WATTYS 2021 NA CATEGORIA NEW ADULT Grace Henderson, apesar de jovem e de seu humor sarcástico, é independente e responsável, tendo como algumas de suas preocupações um armário constantemente emperrado e uma paixão repentina por um gar...