Inocência Perdida

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Não havia mais como ajudar

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Não havia mais como ajudar. Tudo o que restava a ser feito agora era esperar o veredito do conselho, sobre se iriam punir Finn e Murphy ou não. Kara Leigh estava tensa com aquilo, e não sabia se conseguiria ficar parada por muito mais tempo. Ela precisava liberar energia.

—Encontro você mais tarde? – Kara Leigh perguntou a Juliet. – Preciso falar com a Octavia agora.

—Claro. – Juliet respondeu. – Agora que você... bem... sabe que é minha irmã, que é parte tanto de um povo quanto do outro... acho que perigos territoriais estão fora de questão. Pode ir, eu preciso assumir meu turno na cerca de qualquer maneira.

—Juliet... – Kara Leigh a chamou, antes que a guarda pudesse sair. – Tome cuidado na cerca, está bem?

Ela realmente estava preocupada com os efeitos que o massacre da aldeia teriam a partir de agora. O povo dela estava planejando vingança, e ela sabia disso. Esperaria um cerco no território skaikru a qualquer momento. E se isso acontecesse, os primeiros a se darem mal seriam os vigias da cerca. Ela já perdeu um irmão. Não queria perder a irmã também. Principalmente quando acabou de descobrir que tinha uma irmã.

Enfim, seguiu seu caminho para fora da estação, procurando por Octavia. Quando a encontrou, ela estava sentada com Bellamy e Clarke. Os três pareciam estar discutindo planos de novo.

—Estão analisando o interior da montanha? – Kara Leigh perguntou, se aproximando.

—Sim, eles me deram um mapa quando estive lá. – Clarke respondeu. – Só que o mapa estava todo errado, sem saídas disponíveis. Eu memorizei e consegui reproduzir uma parte aqui. Principalmente os túneis pelos quais fugimos.

—Você memorizou tudo? Eu só me lembro da jaula, dos túneis e da cachoeira... – Kara Leigh disse. – E muito mal, por sinal. Eu ainda estava sob efeito daquela coisa que viviam injetando em mim...

—Devia ser um calmante. Para você não lutar enquanto eles drenavam seu sangue. – Clarke respondeu. – Deixa as pessoas sonolentas mesmo. O julgamento já acabou?

—Não, ainda estão finalizando. – Kara Leigh respondeu. – Eu vim aqui pedir um favor para a Octavia, na verdade.

—Para mim? Achei que estivesse irritada comigo. Pelo incidente do cinto... – Octavia respondeu.

Na verdade, era Octavia que estava irritada. Não demonstrava perto de Bellamy e Clarke, mas estava irritada. A reunião com Abby e Juliet mexeu com ela. Ouvir que Kara Leigh era uma segunda filha, assim como ela... a fez ter raiva. Não de ninguém em particular, mas de tudo. De não ter tido a oportunidade de crescer na Terra como Kara Leigh teve. De Bellamy não a proteger devidamente, como Lincoln protegeu Kara Leigh.

E por ela ainda estar cometendo a burrice de se envolver com alguém como Murphy. Ela merecia melhor do que isso. Mas por algum motivo que Octavia não entendia, ela realmente gostava daquele traste. E iria acabar se machucando mais cedo ou mais tarde. Murphy era como uma granada. Uma hora iria explodir e machucar todos ao seu redor. E Kara Leigh era quem estava mais próxima a ele. Octavia se sentia responsável por ela, pois Lincoln não estava mais ali. Contudo, mesmo que não aprovasse aquele relacionamento, ela apenas queria ver sua melhor amiga feliz. Mesmo que soubesse que teria que catar os pedacinhos que sobrassem dela quando ela descobrir o que Murphy era de verdade.

—Não, não estou... por que eu me irritaria por algo tão bobo? – Kara Leigh perguntou, franzindo a testa. – Enfim, eu queria perguntar se você não gostaria de treinar espadas comigo...

Octavia franziu a testa imediatamente. Treinar espadas? Quem é você e o que fez com a Kara Leigh que eu conheço? Octavia pensou. Todas as vezes que Octavia a chamou para treinar, ela recusava, dizendo que não gostava de violência. É, as coisas realmente mudam. Tempos atrás, Octavia era uma garota completamente diferente também. A convivência com Lincoln despertou seu verdadeiro eu, adormecido em dezesseis anos de aprisionamento debaixo do chão. Talvez tenha sido a convivência com Murphy que despertou este lado em Kara Leigh. Mais um motivo para Octavia se preocupar. Em todo caso, era bom. Assim, ela saberia se defender caso ficasse em apuros.

—Ok... está com sua adaga? – Octavia perguntou, se levantando.

—Estou. – Kara Leigh respondeu. – Podemos ir?

—Está bem. – Octavia respondeu, indicando para Kara Leigh a seguir. – Por que esse interesse repentino em lutar? Você odiava violência...

—Realmente, eu odiava. Mas percebi que os tempos que estamos vivendo são complicados. Conversas não resolvem mais conflitos. – Kara Leigh respondeu. – Quando dois querem brigar, não há quem os impeça. Quando só um quer... o outro morre por falta de defesa. Então, a violência se torna obrigatória.

—Você costumava resolver as coisas na base da diplomacia... – Octavia disse, caminhando com a terrestre para um lugar mais afastado do Acampamento.

—E olhe só como eu acabei. Presa e torturada dentro daquela maldita montanha! – Kara Leigh respondeu, de maneira agressiva. – Eu poderia até estar morta! Não foi a diplomacia que me salvou...

—É... também não foi a diplomacia que salvou o Lincoln. – Octavia respondeu, com pesar. – Ele tentou resolver nossos problemas de forma pacífica. E veja o que fizeram com ele... Você tem razão, não podemos ficar de cabeça baixa, oferecendo o outro lado do rosto para alguém bater.

—Não me entenda mal, O. Eu quero de verdade acabar com essa guerra. Mas se o único jeito de alguém me ouvir é na base da força bruta... que assim seja. – Kara Leigh respondeu. – E quanto ao Lincoln... eu sinto que ele ainda está vivo. Esperando para voltar para casa.

—Eu vi os Ceifadores o levarem. E eu não pude fazer nada... – Octavia respondeu. Aquele assunto começou a mexer com ela. Octavia se sentia mal sempre que lembrava da noite em que Lincoln foi levado.

—Foi um acidente, a culpa não foi sua. – Kara Leigh respondeu, confortando a skaikru com um abraço amigável. Octavia foi pega de surpresa por esse gesto, mas retribuiu, satisfeita por esta parte meiga da terrestre ainda permanecer com ela.

—Vamos, estou doida para ver suas habilidades de luta. – Octavia disse, quando Kara Leigh a soltou. O poder de um abraço podia ser grande...

Em uma parte afastada do Acampamento, entre alguns destroços da estação, as duas travaram um duelo de espadas quase tão perfeito quanto uma dança. Por mais que Octavia não tivesse intenção de machucá-la de verdade, ela deixava escapar sem querer alguns socos e chutes contra a loira. Por mais que Kara Leigh tivesse experiência com a cultura terrestre, Octavia foi treinada durante mais tempo, sabia manusear uma espada melhor. Portanto, os pequenos combates das duas acabavam sempre com Octavia como vitoriosa.

—O que houve? Pensei que soubesse como usar a espada. Lincoln disse que você era boa... – Octavia indagou, estendendo a mão para Kara Leigh, que estava no chão após perder o último duelo.

—Não gosto da espada. Eu sei que tenho que usá-la, mas... eu não gosto. Me lembra o dia que minha mãe morreu. – Kara Leigh respondeu, se levantando. – Quando eu matei alguém pela primeira vez... foi usando uma espada.

—E se você não estiver usando a arma certa? – Octavia perguntou. – Nem todos se adaptam a qualquer arma. Eu mesma detesto armas de fogo. Acho a espada muito mais prática. Você nunca fica sem munição, tudo o que precisa fazer é manter a lâmina afiada.

—Que tipo de arma eu usaria? Fora as espadas, meu povo usa fundas, lanças e arcos. – Kara Leigh respondeu. – Qual você acha que seria a certa para alguém como eu?

—Você é pequena, não tem músculos. Significa que combate corpo-a-corpo não é o seu forte. As armas que você citou agora... são todas necessitadas de uma mira boa. – Octavia respondeu. – O quão boa é a sua mira?

—Razoável. Quer dizer, não sei bem. Passei muito tempo evitando ter que lidar com armas... – Kara Leigh respondeu. – Mas tenho uma visão boa. Se eu entrar na mata, consigo distinguir umas ervas das outras simplesmente olhando para o chão. Não preciso cheirar nem tocar para saber o que são.

—Isso é bom. Uma boa visão pode te ajudar em combates à longa distância. Fazer um bom reconhecimento da área, de quantos inimigos precisará enfrentar, esse tipo de coisa. – Octavia respondeu, retirando uma faca do cinto. – Agora vamos testar sua mira.

Octavia entregou a faca na mão de Kara Leigh e a posicionou de frente para uma placa de metal amassada da estação.

—Atire a faca e acerte bem no meio da placa. – Octavia disse. – Acha que consegue?

—Bem, posso tentar... – Kara Leigh respondeu, colocando a faca entre os dedos da mão direita e a atirando. Infelizmente, não teve o resultado desejado. A faca bateu na placa e caiu no chão. – Opa...

—Não tem problema, tente de novo. – Octavia disse, recolhendo a faca e a entregando para a terrestre.

Kara Leigh tentou mais duas, três, quatro, dez, quinze, vinte e oito vezes. Na trigésima, prestes a desistir, ela deixou a faca deslizar por seus dedos e traçar sua rota até a mira marcada, atingindo a placa de metal em cheio.

—Finalmente! – A terrestre disse, não sabendo se comemorava ou ficava zangada por ter errado tantas vezes. – Eu sou mais forte que você, placa de metal idiota!

—Bem, você precisa treinar mais. – Octavia respondeu. – Até sua mira ficar boa o suficiente.

—O, onde você aprendeu tanto sobre táticas de guerra? – Kara Leigh perguntou. – Não pode ter sido com o Lincoln, ele só te dava lições de espada...

—Depois dele ser levado, eu passei um tempo com Indra e os outros guerreiros da sua aldeia. – Octavia respondeu. – Eles me ensinaram muita coisa. Mas continue treinando. Quando sua mira ficar melhor, eu e você iremos construir um arco.

Octavia disse que iria descansar um pouco, e deixou Kara Leigh com sua faca, para treinar mais. A terrestre continuou praticando por mais algum tempo, até escurecer. Depois que acertou pela primeira vez, sua confiança aumentou e ela começou a acertar mais vezes. Tinha acabado de acertar outra vez quando sentiu braços a envolverem.

—Adivinhe quem acabou de ser perdoado. – A voz de Murphy disse, dando um suave beijo no rosto da garota. – Seu depoimento ajudou muito.

—Ah, John, fico feliz por isso. – Kara Leigh respondeu, se virando e o beijando rapidamente. – Mas eles só perdoaram você. Eles não perdoaram o Finn, certo?

—Então... – Murphy demorou a responder. Ele sabia que ela não iria gostar da resposta. – Eles disseram que nossos crimes na Terra foram esquecidos. Tecnicamente, tanto eu quanto ele fomos perdoados.

Kara Leigh fez uma expressão de raiva e olhou para o lado. A política skaikru era tão fraca ao ponto de perdoar o assassinato de dezoito inocentes? Dezoito? Pelo menos uma coisa a confortava. A política de seu povo iria realizar a justiça apropriada.

—Foi você que atirou aquela faca? – Murphy perguntou, olhando para a placa de metal. Novamente, ele estava tentando distraí-la daquele assunto.

—Foi. Estou praticando minha mira. – Kara Leigh respondeu. – Acabei de descobrir que espadas não são o meu forte e que eu deveria me especializar no uso de outra arma. Um arco é bem mais provável.

—Mas você detesta armas. – Murphy respondeu, estranhando o comportamento dela. O interesse repentino dela em armas tinha a ver com Finn?

—Tem uma guerra se aproximando, John. – Kara Leigh respondeu. – E eu preciso aprender a me defender sozinha.

Mas o que diabos estava acontecendo com ela? Desde que ela voltou, ela está apresentando um comportamento muito diferente do usual. Não era possível que aquilo tudo era o trauma causado por Finn na aldeia.

—Aconteceu mais uma coisa, você vai ficar louco quando eu contar! – Kara Leigh disse, puxando Murphy para se sentarem perto dos destroços.

Devidamente sentados e recostados, ela começou a contar sobre tudo o que viveu naquele dia, enquanto Murphy estava preso. A principal parte era bem óbvia. Quando ela contou sobre ter descoberto que era irmã biológica da guarda Juliet Stryder, e por consequência, descendente dos skaikru, Murphy achou que iria ter um piripaque. Como ela havia dito, ele realmente ficou louco e a encheu de perguntas como "mas como isso é possível?" e "você não nasceu na Terra?". Porém, quando ela começou a explicar mais a fundo, tudo passou a fazer sentido.

Murphy se lembrou do período da febre hemorrágica, quando Kara Leigh estava doente e foi trancada dentro da jaula com ele. Ele se lembrou que ela havia dito que ela e sua mãe não nasceram em clã nenhum. Fazia sentido, se a mãe dela havia descido do céu ainda grávida. Afinal, por que alguém viveria sozinho na floresta por tanto tempo? Agora tudo se encaixava.

—Caramba... você é uma segunda filha. Eu nunca pensei que diria isso, mas agradeço à sua mãe por ter descido para a Terra. – Murphy disse, segurando a mão de Kara Leigh. – Pelo menos, me deu a oportunidade de conhecer você. De poder amar você...

—Eu também amo você. – Kara Leigh respondeu, capturando os lábios dele, com toda a ternura do mundo.

Eles continuaram a se beijar por um indeterminado período de tempo. Aquela garota era realmente um presente que caiu do céu para ele, literalmente. Porém, era como uma flor, que precisava da terra para florescer. Ele pensou se as coisas teriam sido diferentes se ela tivesse sido criada na Arca, escondida, como Octavia foi. Será que teria sido pega? Ou presa? Provavelmente sim, a Arca era grande, mas nem tanto. Será que ele a teria conhecido na Skybox? Teria se apaixonado por ela ainda assim?

—Seu cabelo está diferente... você fez alguma coisa? – Murphy perguntou, reparando na mudança de visual dela.

—Foi a Juliet. Ela ficou passando duas chapas quentes no meu cabelo por um tempão, e ficou desse jeito. – Kara Leigh respondeu, colocando uma mecha atrás da orelha. – Você não gostou?

—Tá brincando comigo? Você é a garota mais gata desse acampamento! E é toda minha... – Murphy respondeu, a beijando de forma intensa. – Vou precisar ficar de olho, algum idiota daqueles lá dentro vai tentar roubar você de mim.

—Acho difícil de acontecer, já que a maioria das pessoas daqui me odeia. Mas se acontecer, eu mesma posso dar uma lição no sujeito. – Kara Leigh respondeu, com um ar de empoderamento. – Você fica engraçado desse jeito...

—Desse jeito como? – Murphy perguntou.

—Com ciúmes. Quer dizer, só de vez em quando, porque a última vez que eu te vi com ciúmes, você apontou uma arma para a minha cabeça... – Kara Leigh respondeu, se lembrando do dia que entrou furtivamente no acampamento do céu. – O Jasper quase fez xixi nas calças. É, acho que não é tão engraçado assim...

—Eu não ia atirar, eu jamais atiraria. – Murphy respondeu, segurando o rosto dela de forma delicada. – Só fiz aquilo com o único propósito de fazer o Jasper mijar nas calças. A arma não estava nem carregada.

—Você me deu um susto enorme nesse dia! – Kara Leigh reclamou, se soltando dos braços dele.

—Mas eu compensei depois, não se lembra? Ou já esqueceu do nosso bunker? – Murphy perguntou, a abraçando outra vez.

O bunker... outra memória boa que Finn conseguiu arruinar. No mesmo lugar onde Murphy e Kara Leigh tiveram sua primeira vez, agora jazia o corpo de um terrestre morto por Finn. Murphy era a favor de matá-lo sim, mas não dentro do bunker. Ao menos Kara Leigh não estava lá para ver a atrocidade.

—Não, não esqueci. Até acho que os quartos dentro dessa nave gigante se parecem um pouco com o nosso bunker. – Kara Leigh respondeu, olhando melhor para Murphy e reparando em outra coisa. – O que é isso na sua testa?

Murphy estava com um corte aberto acima da sobrancelha, como se alguém tivesse atirado alguma coisa nele.

—Alguns guardas conseguem ser uns imbecis... – Murphy respondeu. – Isso aqui foi cortesia de um deles, quando entrei na prisão.

—Vem, me deixe dar um jeito nisso antes que infeccione... – Kara Leigh disse, pegando a mão de Murphy e o puxando para dentro da estação.

*~*

Kara Leigh não tinha acesso a suas ervas de sempre, mas por sorte, a tenda médica skaikru tinha alguns recursos sobrando. Alguns eram estranhos para ela, como gaze e esparadrapo, mas servindo para cobrir o corte, ela não se importava.

Murphy aproveitou o comentário que ela havia feito sobre os quartos se parecerem com o bunker e a chamou para ver o quarto dele. Na verdade, como ele não era santo nem nada, o interesse dele era poder passar uma quantidade de tempo maior que cinco minutos sozinho com ela, sem interrupções. E principalmente sem Octavia por perto. Ela era a rainha das interrupções.

Agora, Murphy estava sentado em uma cadeira, com Kara Leigh em seu colo, tratando do corte em sua testa. Só que ela não parecia realmente concentrada em limpar o corte. Estava mais interessada no que estava fazendo enquanto limpava o corte. Coisas como passar os dedos por seu cabelo e beijar a lateral de seu rosto. Murphy reagia a essas pequenas provocações colocando a mão nas coxas dela e segurando sua cintura de forma mais firme. No fundo, ele estava rindo de nervoso, por achar que logo perderia o controle e a atacaria.

—Por que essas pessoas continuam te atacando? – Kara Leigh perguntou, terminando de fixar o curativo na testa dele. – Acho que só eu consigo ver o quanto você é valioso. Eu estou tentando entender por que eles te odeiam tanto...

—Eles me odeiam desde o dia que descemos. Eu confesso que grande parte disso é por culpa minha, eu fui um babaca. Se você tivesse me conhecido antes de eu ser exilado, provavelmente teria me odiado também. – Murphy respondeu. – Mas isso tem muito a ver com a morte do Wells. Eu posso ter sido um babaca de primeira, mas eu não matei o engomadinho. Eu fui enforcado por isso...

Kara Leigh se lembrava de ele ter contado a história da garotinha de doze anos que assassinou alguém e Murphy foi acusado. E quando ele tentou buscar justiça por isso, praticamente todos foram contra ele, simplesmente porque a autora do crime era uma criança.

—Eu me lembro disso. A garotinha... Charlotte, certo? Octavia disse que a morte dela foi culpa sua, e Clarke e Bellamy concordam. Foi por isso que te exilaram... e é por isso que eles te odeiam até hoje, não é? – Ela perguntou, esperando a confirmação. Murphy apenas assentiu. – E é por isso que eles vivem me dizendo que eu não devia andar com você... que mais cedo ou mais tarde você vai me machucar... mas é só porque não te conhecem direito.

—Ah, então eu sou o perigoso! Se eu me lembro bem foi o Bellamy quem te prendeu dentro da nave e te cortou com uma faca! E a Raven te eletrocutou com os cabos de choque! Você omitiu isso de mim, mas os dois confessaram! – Murphy respondeu. Outra vez, ele foi mais grosso com ela do que gostaria. Mas aquele assunto fazia o sangue dele ferver. – Sabe o anel de fogo que te arremessou para longe? Foi ideia da Clarke e do Jasper! E de todo mundo, o mais provável para machucar você sou eu?!

—Não fui eu que disse isso! Eu te defendi, disse que eles estavam sendo duros demais! Você não matou aquela menina, ela mesma se matou. E com certeza, não foi você que matou os dezoito inocentes na minha aldeia! – Kara Leigh respondeu, se levantando e indo até a porta. – Eu vou embora, falo com você mais tarde.

Imediatamente, Murphy se arrependeu do jeito que tinha falado com ela. O que estava dando nele? Era ela. A menina meiga e doce que cuidava dele, sem ter obrigação nenhuma de fazer isso. A primeira que demonstrou alguma empatia por ele, em todo seu período na Terra. Ele não poderia tratá-la daquele jeito nunca. E se... Octavia e os outros estiverem certos? Seria ele quem mais a machucaria? Não, ele não deixaria que isso acontecesse.

—Espere, não vá embora. – Murphy a chamou, indo até ela e a abraçando por trás. – Eu sou um estúpido, me desculpe. É que... eu não gosto quando alguém fala mal de mim para você. Eles não gostam de nós dois juntos, por causa de toda a minha convivência com eles. Eu estou tentando mudar, mas aceitação não é fácil. Você sabe disso mais do que ninguém. Passou anos sendo abusada por motivo nenhum, simplesmente porque algumas pessoas não iam com a sua cara.

—Eu não ligo para o que falam. Eu conheço você, e sei que é uma pessoa boa que cometeu alguns erros. Mas quem nunca cometeu erros? Só que eu também sei que o perdão não é algo concebível de uma hora para outra. Mas você ainda está em tempo de ser perdoado. – Kara Leigh respondeu. – O que eu realmente não gosto nas atitudes deles, é que não é a primeira nem a segunda vez que o Finn comete um erro grave. E ainda conseguem desprezar mais você do que ele.

—Eu já fiz besteiras maiores que as dele. Lembra de quando eu tentei matar o Bellamy e a Octavia teve que arrastar você até o acampamento para colocar juízo na minha cabeça? – Murphy perguntou.

—É, também lembro que você disse que foi o Bellamy que chutou o caixote debaixo de você quando te enforcaram. Isso se chama justiça. É pesado, mas é assim que tem que ser às vezes. – Kara Leigh respondeu. – Finn matou inocentes por nada!

—O que mais eu preciso dizer para você tirar da cabeça que eu sou perfeito? – Murphy perguntou, a abraçando mais forte. – Eu sou cheio de defeitos...

—Eu não acho que você é perfeito, ninguém é perfeito. Assim como você precisa parar de me ver como a garotinha assustada com as ervas que chora por tudo e que deixa qualquer um a abusar porque acredita que violência não é a resposta. – Kara Leigh respondeu. – Eu só acho que você não está nem perto de ser esse lixo todo que todos acham que você é.

Ela está errada. Pelo menos uma pessoa nessa terra é perfeita... ela. Ela é perfeita para mim. Murphy pensou, a virando de frente para ele e colando seus lábios com os dela. Ele a beijou com a maior paixão do mundo, a pegando no colo e indo até a cama. Deitou-se por cima dela, sem parar de beijá-la nem por um segundo.

Ele havia apagado a luz central do quarto, e a única iluminação disponível agora era a de um abajur em um móvel ao lado da cama. Lentamente, ele retirou sua jaqueta e sua camisa, para retirar a blusa dela logo em seguida. Ele fazia tudo sem pressa, aproveitando cada pequeno detalhe.

Desta vez, ela estava usando roupas skaikru. Incluindo as roupas íntimas. A visão dela com um sutiã normal o deixou completamente extasiado. Ela não parava de ser linda. Porém, como ela era ainda mais linda sem a peça, ele tratou de retirar, descendo as alças pelos braços dela de forma provocativa. Com toda a liberdade do mundo, agora ele beijava, chupava e mordiscava os seios dela, enquanto ela mantinha os dedos em seu cabelo, como forma de incentivo.

Ela estava se sentindo pronta. Murphy era bastante habilidoso, ele conseguia fazê-la "derramar cachoeiras" em apenas alguns minutos. Os beijos no pescoço ajudavam muito. Ela estava com os olhos fechados, concentrada nas sensações que ele lhe proporcionava. Foi quando ela sentiu ele abaixar suas calças, juntamente com a calcinha. Ela tentou se mover, mas ele a impediu, fazendo-a permanecer deitada.

—Eu vou te mostrar algo novo. – Murphy disse, dando um rápido selinho nela. – Mas precisa confiar em mim e relaxar.

A essa altura do campeonato, nada mais a assustava. E tudo o que ele a ensinava, a fazia se sentir cada vez melhor. Ela estava ansiosa para ver o que ele iria fazer agora.

Ele começou a trilhar os beijos para baixo, cada vez mais. Ela pensou que ele iria beijar seus seios outra vez, mas ele continuou descendo. Cada vez mais baixo. Até que chegou no lugar desejado, quase arrancando um grito dela. Quando ela pensava que ele não poderia surpreendê-la mais...

—Não pare... só... não pare! – Kara Leigh disse, entre gemidos.

Ela achava que não tinha mais como ele tocá-la de forma ainda mais íntima. Ele fazia movimentos com a língua que a faziam esquecer até do próprio nome. Ela estava literalmente no paraíso. Ele continuou até que ela não conseguisse reprimir o grito que indicava que tinha atingido o ápice.

—Isso foi... foi a melhor coisa que você me mostrou... – Kara Leigh disse, ofegante. – Tem como eu fazer isso em você?

Murphy soltou uma risada de satisfação. Kara Leigh era uma parceira maravilhosa. Não apenas porque ele estava apaixonado por ela, mas porque ela se importava com ele. Na Arca, ele já esteve com garotas que pareciam bonecas, que ficavam paradas, esperando ele fazer o trabalho todo. Mas não ela. Ela se importava se estava sendo bom para ele também.

—Tem sim. – Murphy respondeu, retirando as próprias calças. – Você só precisa...

—Acho que já entendi. – Kara Leigh o interrompeu, tomando controle da situação e invertendo as posições.

Ela abaixou o rosto e começou a "retribuir o favor". Murphy nem conseguiu explicar como deveria ser feito e estava lá, surpreso com a habilidade da garota, mesmo ela nunca tendo feito isso. Murphy deveria ter dito pelo menos umas quatro vezes para ela não morder, mas estava concentrado demais no prazer para se preocupar com isso. E ela nem chegou perto de morder, algo difícil para alguém inexperiente. Quando Murphy sentiu que estava perto de chegar ao ápice, ele a impediu de continuar e inverteu as posições outra vez.

Ele entrelaçou os dedos com os dela e a penetrou, se movimentando entre meio termo, nem devagar demais, nem rápido demais. Eles voltaram aos beijos provocantes e sensuais. Ele a amava muito. E temia que a guerra tirasse completamente a essência meiga que fez com que ele se apaixonasse por ela. Ele queria capturar aquele momento em sua mente. Queria se lembrar dela assim, enquanto era gentil. Ele não tinha certeza do que iria acontecer a partir de agora.

Nesse dia, ele não fez apenas sexo com ela. Ele fez amor. Se pudesse, prolongaria esse momento para sempre. Sem mais guerras e sem mais pessoas tentando separá-los. Apenas ele e ela, e o amor que sentiam um pelo outro.


Continua

𝐓𝐇𝐄 𝐑𝐄𝐀𝐒𝐎𝐍 𝐈𝐒 𝐘𝐎𝐔 | john murphyOnde histórias criam vida. Descubra agora