Não importa se somos fortes, traumas sempre deixam cicatrizes. Demi Lovato.
Natália
Fazia dois minutos quê terminou o turno da noite, estava prestes a pegar uma xícara de café na cafeteira, que ficava depois do pavilhão da ala 1 a 12, antes de pegar minha bolsa para voltar para casa, quando sinto uma mão tocar no meu ombro, o medo que senti fez me encolher o corpo, o coração batia violentamente no peito, minhas mãos tremiam ao mesmo tempo que me virava rápido, deparando com o doutor Gabriel.
_Ei, sou eu, não queria te assustar que tal...
Tento prestar atenção em suas palavras, mas estava ficando sufocante, o medo entalava a minha garganta como se houvesse uma bola de espuma tampando minhas vias respiratórias, a sensação de perigo estava cada vez maior, meus olhos ardiam enquanto segurava as lágrimas ao mesmo tempo que insistiam em procurar cantos que pudessem me esconder.
Sabia que estava em um lugar seguro... Um hospital, que aqueles eventos no passado não voltariam a me machucar... Eles não podiam mais, não sou mais uma garotinha que foi maltratada e vendida por aqueles que deveriam a proteger, e muito menos aquela vítima torturada e estuprada, consegui ter uma família que me ama mesmo na época sendo muito mais velha para ser adotada, mesmo com bagagem, eles quiseram me amar, consegui um ótimo emprego, não tem perigo aqui... Não tem riscos aqui... estou num lugar seguro...
Repito mentalmente a mim mesma, tentando me convencer das palavras, porém as imagens nas sombras das paredes... elas eram tão reais!
Conseguia ver todos aqueles acontecimentos desenrolar em minha cabeça, o momento que me forçaram a me despir, como marcaram cada pedaço do meu corpo com diversas cores após me usar como saco de pancadas, ou quando completei 11 anos e eles descobriram que havia menstruado pela primeira vez e simplesmente fui jogada num prostibulo para satisfazer suas vontades...
A baile subia por minha garganta, sentia o suor se acumular em minhas mãos, estava prestes a sair dali, quando sinto mãos desconhecidas me tocar...
O grito saiu basicamente automático.
_Ei, sou eu, o doutor Gabriel, seu colega, esqueceu que estou ao seu lado? Está tudo bem? Que tal uma passada na minha casa para conversarmos?
Escuto o dizer, obrigando-me lembrar da sua presença, sentia que tentava me acalmar mas, sua presença me apavorava o inferno fora de mim, mesmo não tendo nada haver com o passado, evitar não associar ele ao cara que me violou, era difícil demais para conseguir.
_Des... desculpe-me mas não.
Digo me afastando o mais rápido possível, estava chegando ao fim do pavilhão, quando vi que deixaram a porta do quarto 8 aberta, o que era uma violação de uma das regras do hospital, que diziam que as portas deveriam manter-se fechadas, principalmente se estivessem ocupadas por pacientes.
Estava prestes a fechar a porta, quando eu a vi.
"Irmã"
Foi a única coisa que passou por minha cabeça, não me lembrava de muitas coisas antes de ser vendida, mas lembrava que tinha uma irmã gêmea não idêntica de pele negra, o que faziam as pessoas na época questionar se éramos mesmo irmãs ou até mesmo se realmente éramos gêmeas, já que eu nasci com pele branca.
Lembro que gostávamos de brincar com massinha de modelar que ganhávamos da pré-escola de uma professora simpática que não me lembro o nome, enquanto ela criava esculturas de fadas e outras criaturas mágicas como sereias, eu gostava de tentar recriar os rostos das pessoas que via, na época sonhava em trabalhar como desenhista na polícia mas por conta dos acontecimentos que acabaram com a minha infância, nunca mais tive informações sobre o seu paradeiro, apesar de que fui informada que encontraram nossos pais biológicos mortos por overdose numa viela.
Não sei se é ela mas, o modo como dormia na cama hospitalar, toda torta, fez me ficar mais calma e desejar rir enquanto a ajeitava antes que acabasse caindo da cama.
Porém podia ser apenas coisas de minha cabeça e não tinha coragem o suficiente para abordá-la.
Antes que eu mudasse de idéia e fizesse uma besteira, fecho rapidamente a porta e corro em direção a ala dos funcionários pegar minhas coisas e ir embora, tinha perdido a vontade de beber café.
715 palavras.
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A MOÇA DE BRANCO
Misterio / SuspensoObra em revisão. Plágio é crime, crie a sua. Antes de tudo quero deixar algo bem claro, em nenhum momento, estarei fazendo apologia ou romance a um crime/violência, se você se identificar com alguma cena por favor, procure ajuda . Sinopse: Em um...