Capítulo: 36 ✓

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Kurenai

O barulho ensurdecedor de gritos e tiros ainda não cessaram, passos no corredor me deixavam alerta como um gato arisco, eu estou pronta para brigar pela minha vida. Com medo, mas pronta.

Tapei a boca da garota que estava comigo de maneira desesperada, não podem saber que estamos aqui, se nos pegarem estaremos fodidas. Eu não sei direito o que fiz depois que me perdi do Jungkook, meu corpo entrou no piloto automático, magicamente, como se extintos primitivos fossem despertados do fundo da minha alma e me carregado até aqui. Aqui onde? Não sei, estou em um cômodo parecido com um quarto, mas não tem nenhuma cama, em vez disso tem estantes com troféus em cima. Uma garota veio comigo, parecia jovem e eu juro já ter visto ela antes, só não me lembro em que lugar. Me escondi junto dela atrás de duas estantes cobertas por panos de veludo na cor vinho. Foi rápido, muito rápido, com se eu soubesse exatamente o que estava fazendo agarrei a garota por trás e tapei sua boca com a mão para evitar que ela falasse ou gritasse. Cedo ou tarde alguém vai vir ao nosso socorro, mesmo com portas e janelas trancadas, a falta do sinal de celular e as paredes a prova de som, o evento tem horário para acabar. A imprensa vai perceber que tem algo errado, vão mandar viaturas para cá, sei que vão. Pelo menos eu espero mesmo que essa seja a verdade.

Não consigo pensar em nada que não seja essa menina, os garotos, a Emma e principalmente eu mesma. Natsu só pode ter enlouquecido de vez, claro que ele já era maluco, mas porra! Matar alguém requer uma força de vontade indescritível e muito coragem, tipo, muita mesmo. Ele sempre foi estranho, quando namorava com esse maluco escutava histórias estranhas sobre sua adolescência. Depois brincava no final dizendo que era piada e que tinha acabado de inventar tudo, mas vendo o que aconteceu hoje eu tenho sérias dúvidas. Isso é uma brincadeira também? Se for, eu quero parar A-G-O-R-A!

- Hum, Humm. - A menina deu tapinhas na minha mão sobre sua boca indicando que queria falar algo.

Como parecia estar mais calma deslizei a mão para baixo deixando-a respirar melhor, ela puxou o ar com força e parecia com dificuldade. O chiado em sua voz foi suficiente para que eu entendesse, estava com falta de ar, ficando como eu quando tenho minhas crises. Na hora tirei a bombinha do bolso lateral do vestido, que eu fiz especialmente para carregar coisas de um jeito escondido. O bolso só pode ser visto de perto e bom, Jung me zoou pela ideia dizendo que eu parecia uma agente secreta ou uma espiã, ele só não imaginaria que teria uma utilidade tão grande. Com urgência eu virei ela de frente para mim, ao ver a bombinha a garota me olhou com as sobrancelhas franzidas.

- Eu também tenho asma. - Sussurrei tão baixo que minha voz até falhou.

Ela concordou pegando o objeto da minha mão e usando-o fazendo os procedimentos sem precisar da minha ajuda, parecia acostumada, assim como eu. Olhando melhor para seu rosto notei algo, claro que reconheci ela! Essa é a Ye-jin, filha do anfitrião da festa - que morreu com a cabeça explodida - e modelo capa de revista infanto-juvenil mais famosa do mercado atualmente. Que desgraça, fui conhecer a garota nas piores condições possíveis. Ela deve estar aterrorizada, ver o pai morrer de uma maneira tão brutal no natal deve deixar qualquer um em choque. Tenho que tirar essa adolescente daqui comigo, ela não conseguiria escapar sozinha, não sem minha ajuda. Com um único pensamento em mente eu abri minha bota e puxei a adaga, os olhos dela se esbugalharam, mas eu logo pedi que se acalme-se.

- Não me entenda mal. É para nossa proteção! - Afirmei convicta e sua expressão se suavizou. - Pode me chamar de Nay, ok? Vou tirar a gente daqui sem se machucar, confie em mim.

- Como vai fazer isso? - Perguntou baixinho, os olhos lacrimejando e os cantos de seus lábios tortos, como se quisesse desabar de tanto chorar. - Não quero acabar como meu pai.

- Essa é a mansão que a empresa da sua família faz festas, certo? - Perguntei ao fechar a minha bota, ela concordou e eu prossegui. - Ótimo, você deve conhecer as passagens e saídas. Vai ser minha guia e eu seus punhos, deixe comigo. Seu trabalho é garantir uma rota segura até a saída mais próxima, de preferência em um lugar que eu possa te tirar daqui sem muitos problemas com a segurança dessa fortaleza.

- Você sabe auto-defesa ou algo do tipo? - Sorriu com um fio de esperança me devolvendo a bombinha, que eu guardei no mesmo lugar.

- Digamos que eu saiba de uns truques. - Falei uma meia verdade, de fato sei algumas coisas, mas não chega à ser auto-defesa. De tanto brigar com Natsu no passado, de me defender dos meus pais quando nova e de enfrentar quem fazia bullying comigo e com meus amigos de escola, eu fiquei boa em briga de rua. A única regra desse estilo de luta é garantir sua sobrevivência, o resto é fichinha, vale tudo. - Fica atrás de mim e se vêr alguém, puxe esse pano.

- Pano?

Com um pesar no coração eu pego a barra do meu vestido e a faca, corto uma tira dele deixando-o um palmo mais curto e levanto o pano rasgado. Dou uma ponta para ela e seguro a outra com a mão esquerda, na direita estava a adaga que eu segurei firmemente - tão forte que a ponta dos meus dedos ficaram brancas. Olhei para ela e ela me olhou de volta, está óbvio que não quer fazer parte do meu plano, mas conforme o tempo passa as estatísticas e probabilidades de sermos achadas e mortas aumentam drasticamente, preciso ser rápida.

- Prefere ir descalça ou consegue correr de saltos? - Olhei com uma dúvida real para seus calçados, eu em seu lugar estaria ferrada correndo com um desses.

- Sou uma modelo, essa é minha habilidade principal. - Confirmou e eu acenei sorrindo de canto.

- Ótimo.

- Ótimo. - Repetiu.

- Vem comigo e faça silêncio. - Me levantei e ajudei ela a se levantar também, já de pé empurrei a estante para abrir um caminho que pudéssemos passar.

Passei o pano enrolado na minha mão duas vezes, ela fez o mesmo deixando a distância entre nós menor, só uns quarenta centímetros de tecido pendurado. Caminhei em uma postura ligeiramente abaixada, envolvendo todos os músculos do meu corpo conforme me movimentei. Tentei diminuir o impacto da minha bota contra o chão, permitindo uma movimentação mais suave. Ye-jin é esperta, me imitou quase que imediatamente e obteve sucesso depois de umas duas tentativas, ela aprende rápido. Mantive o corpo compacto, distribuindo meu peso uniformemente para não bater ruidosamente com os sapatos no piso de madeira. Assim que cheguei na maçaneta virei ela girando o objeto com a mão que segurava o pano, não abri de imediato, só deixei a porta escorada. Com um último olhar de encorajamento meu esperei a confirmação da garota, mesmo receosa ela acenou em positivo. É agora.

Eu só posso ser uma louca suicida como minha mãe.

Abri uma fresta da porta checando se um dos lados do corredor está ocupado, nada, lentamente botei minha cabeça para fora e dessa vez me virei ligeira para o lado contrário. Completamente vazio. Não posso perder tempo, abri a porta dando graças à Deus por essa merda de fechadura não ter rangido, a garota veio atrás. Uma vez fora do cômodo eu fechei a porta atrás de nós, ela fez um sinal com a mão indicando que lado tomar. Primeiro apontou para uma direção e depois jogou a mão para o lado, para virarmos primeiro a direita. Confirmei com um aceno e sai em disparada, silenciosamente percorri o corredor levando a garota comigo. Dei uma espiada antes de virar o corredor, limpo de novo, fomos praticamente correndo na ponta dos pés até uma porta. Antes de abrir de novo perguntei o que fazer, a menina explicou da melhor maneira possível um caminho, que eu espero não esquecer na hora do desespero. Parece simples, primeiro abrimos a porta, na esquerda é um longo corredor e na direita existe uma porta, segundo ela temos que entrar por essa porta para entrar num quarto que tem uma janela não tão resistente quanto às outras da mansão. Se conseguirmos quebrar posso tirá-la daqui e correr para chamar a polícia, um estrondo de uma janela quebrando vai atrair muita gente, sendo repórteres ou gente querendo nos matar. Só vamos ter uma chance, temos que ser perfeitas nisso.

𝐏𝐨𝐬𝐬𝐞𝐬𝐬𝐢𝐯𝐞 𝐋𝐨𝐯𝐞 • sᴇɴᴅᴏ ʀᴇᴇsᴄʀɪᴛᴀ.Onde histórias criam vida. Descubra agora