Capítulo IV - Olhares e... Atração?

542 36 19
                                    

Música de hoje: Ocean Eyes - Billie Ellish, Astronomyy remix
Espero que gostem :)

* * *

Por mais que Normani odiasse ser acordada, aparentemente ser acordada para ouvir a voz de Dinah e ir a ver não tinha sido em nada ruim para ela. Se levantou imediatamente da cama, antes que seu sono voltasse, olhando pelo seu quarto e vendo Melanie, Ally e Dylan jogados de qualquer jeito pelo cômodo. A festa havia ficado tão doida na noite anterior que acharam melhor irem para a mesma casa e cuidarem uns dos outros.

- Mani, finalmente sua bolsa parou de tocar - Melanie murmurou ainda com os olhos fechados, a fazendo rir levemente de seu estado.

- Sim meu bem, desculpe por ter te acordado. Volte a dormir - respondeu indo até o lado da cama em que ela estava, lhe dando um beijo na testa e ajeitando seu cabelo.

- Onde você vai? Vem dormir mais.

- Correr um pouco para recuperar meu corpo de ontem a noite. Trago café da manhã pra vocês.

- Você e essa mania estranha de fazer exercícios pra se recuperar da ressaca. Não esquece meu pão, pois tu nunca compra comida de verdade - reclamou emburrada antes de cair no sono novamente, tirando outra risada de sua amiga.

Normani foi direto para o banheiro enorme do seu quarto tirar o vestido da noite anterior que ainda usava e tomar um banho, antes de fazer exatamente o que havia dito a Melanie. Correu por cerca de uma hora pela praia que ficava no final da rua do edifício no qual morava, comprou café para seus amigos e, quando voltou para casa, todos já estavam acordados. Tomaram café conversando aleatoriedades, comentando sobre a última noite e rindo por tanto tempo que nem viram a hora passar, antes que eles fossem embora e ela pudesse se arrumar para ir até Dinah.

Para a negra era explícita a atração que rolava entre as duas. A forma como se olhavam fazia o momento parecer que estava passando em câmera lenta, como se os poucos segundos em que se observaram tivessem naquele momento durado, na verdade, alguns bons minutos. Normani já tinha mais experiência do que precisava para perceber quando havia uma tensão sexual no ar com outra pessoa e, ainda, saber que sensações como aquelas só passavam depois de uma boa transa, o que ela sempre fazia questão de concretizar. Ela era boa no jogo da sedução e sabia disso, portanto, não ficava acanhada em usar seus artifícios para conquistar aquelas que seu corpo queria. O campo da conquista não era mais um problema para ela a muito tempo, a única diferença era que com Dinah parecia querer mais. O interesse não era apenas em uma transa para saciar seus corpos e aliviar a tensão, queria também conversas e momentos reais com a loira. Por mais que elas não se conhecessem e haviam tido apenas 3 curtos instantes juntas, a vontade de saber mais sobre quem ela era e sua vida estava ali. Na realidade, apenas algumas stalkeadas não haviam saciado esse desejo para nenhuma das duas. Entretanto, para Normani, isso era claro e mútuo. Para Dinah, era algo do qual ela precisava fugir antes que caísse novamente nas dúvidas que sua mente a pregava.

Era início da tarde quando, de trás do balcão onde trabalhava, Dinah reconheceu pela porta e janelas de vidro a mercedes preta, na qual viu Normani entrar na última vez em que esteve ali, passando rapidamente pelo local. Pediu licença a Henrique por um minuto para que pudesse pegar seu celular, o qual foi prontamente aceito pelo homem que ocupou seu posto, antes de sair sentindo uma certa ansiedade e nervosismo tomando conta de seu corpo, fazendo companhia a tristeza que estava ali desde que saiu da casa de Kalil.

Assim que a negra estacionou um pouco a frente da lanchonete, pegou o aparelho rosa dentro do porta luvas e desceu do carro. No mesmo instante se perdeu observando a mulher que vinha em sua direção, fazendo com que, outra vez, o tempo parecesse em câmera lenta para ambas. Uma admirava a beleza e elegância da mulher que saía do carro e batia a porta, sem que parasse de lhe encarar. Mesmo que aquilo fizesse seu nervosismo aumentar, Dinah não conseguia desviar seus olhos de Normani. A calça de moletom preta extremamente estilosa que usava, o tênis branco nos pés, a cropped preto que deixava a barriga torneada e piercing no umbigo a mostra, além de seus cachos caindo perfeitamente alinhados por seu ombro, tudo parecia ainda mais lindo por estar nela. Já a outra se perguntava como a loira poderia ser tão linda e praticamente desfilar em sua direção com tanta graça. Tudo nela parecia ser simples, desde a calça jeans e a blusa de manga branca por baixo do avental vermelho manchado, até o tênis surrado em seus pés, o cabelo em um rabo de cavalo e a forma como a fazia se sentir completamente atraída. Amor a primeira vista poderia ser a coisa mais falsa que os contos românticos já venderam, mas a atração a primeira vista era comprovada por elas.

- Acho que está procurando por isso - Normani esticou sua mão com o celular assim que Dinah parou em sua frente.

- Meu Deus, você acaba de salvar minha vida! - exclamou animadamente pegando o aparelho. - Muitíssimo obrigada!

- Não precisa agradecer - sorriu levemente.

Nenhuma das duas conseguia desviar os olhos do da outra. Normani estava adorando. Dinah tentava disfarçar o nervosismo e agir o mais normal possível, até porque nem compreendia o que tanto a prendia ali.

- Preciso sim. Você não tinha obrigação nenhuma de vir até aqui, foi muito gentil de sua parte.

- Não foi nada, sério - insistiu.

- De qualquer forma, obrigada. Posso... Te dar um abraço de agradecimento? - perguntou receosa, pois era a única coisa que podia oferecer.

- É claro que pode.

Dinah não tardou em passar seus braços em volta do pescoço de Normani, a qual, imediatamente, passou os seus em volta de sua cintura. Foi o encaixe perfeito que fizeram ambas fecharem seus olhos para o aproveitar o maior conforto que já sentiram em todos seus anos. Em um impulso, a loira, ainda que não precisasse, ficou na ponta de seus pés, apertou mais os braços em volta do pescoço da outra e enfiou levemente o rosto na curva de seu ombro, fazendo com que o cheiro de seu perfume e seus cabelos a abatessem fortemente e a fizesse sentir o que, para ela, era melhor fragrância da humanidade. Naquele momento teve certeza que perto daquela mulher seu corpo agiria sem nenhum consentimento, como se seus quereres apenas se concretizassem sem sua autorização.

A negra não ficou para atrás e, no mesmo instante, como se tivessem combinado aumentou o aperto em volta da cintura, querendo a ter o mais perto possível. Concluiu imediatamente que aquele era o melhor abraço que já teve.

- Obrigada - sussurrou em mais um impulso entre os cabelos cacheados mesmo sem saber muito bem pelo o que agradecia. Pelo celular? Pelo maravilhoso abraço? Pela sensação que não sabia identificar, mas que estava tomando conta de si com os braços da outra em sua volta? Pelo seu cheiro bom? Ela nunca esteve tão confusa.

- Não foi nada Dinah, relaxa - respondeu fazendo a loira sorrir antes de perceber o que estava fazendo e a situação na qual elas estavam.

Assim, em um segundo de sanidade, a mais nova retirou rapidamente seus braços e deu um passo para trás, acabando com o abraço e fazendo um vazio anormal ocupar Normani. Os olhos se abriram e a troca de olhares entre elas voltou. Era algo imperceptível e natural, a qual as deixavam tão perdidas nos olhos uma da outra que mal percebiam o quanto estavam se encarando. Dinah instantaneamente sentiu de volta o medo de tudo aquilo, como se estivesse fazendo algo completamente proibido, ainda que nada demais tivesse acontecido, pois, dentro de si, parecia como um furacão passando. Infelizmente, aquela troca não durou tanto antes que o celular rosa tocasse, desviando total atenção das duas para ele.

- Esse contato tem te ligado a manhã inteira - Normani comentou ao ver o nome de Siope na tela e se lembrar que ele tocou diversas vezes.

- É a droga do meu ex - respondeu revirando os olhos e recusando a chamada, tinha muito mais do que se preocupar do que um relacionamento que já chegou ao fim.

- Ele não aceita um não como resposta? - Normani imaginou que Dinah fosse, então, bissexual, pois tinha certeza do pézinho dela na poça de arco-íris e seu gaydar nunca falhava.

- Por aí. Se eu soubesse que seria tão chato nunca teria começado a namorar.

- Ex's são um saco, deveria ter algo que os fizessem sumir quando tudo terminasse.

- Também tem alguém atrás de você?

- Minha ex é amiga dos meus amigos, então precisamos conviver sempre - Dinah logo ficou confusa pelo "minha", não leu muito sobre a vida amorosa de Normani em suas buscas, já que não era algo que lhe interessou até o momento.

- Deve ser péssimo.

- As vezes sim. Por exemplo, ela estava na festa ontem a noite, sendo o ser mais insuportável da face da terra - revirou os olhos causando uma risada na loira, o que a fez sorrir junto. Ela era definitivamente a pessoa mais riso frouxo que já conheceu.

- Falando nisso, como foi ontem?

- Ótimo, me diverti tanto - se lembrou dos momentos no quarto com a irmã da Alysha e dos após dançando bebissima com seus amigos. - E o resto de sua noite, como foi?

- Nossa, super animada! Fui pra casa, caí no sono e só acordei hoje de manhã já procurando meu celular como uma doida.

Era incrível como a conversa fluía naturalmente entre as duas.

- Não acredito! Dinah, como você foi pra casa dormir em uma sexta a noite? Se eu soubesse tinha te chamado pra ficar na festa - Normani estava claramente indignada em como uma mulher tão linda como a Dinah não esteve com alguém ou em algum lugar, o que apenas a deixou mais curiosa sobre ela.

- Não acho que iria realmente me querer lá.

- O que quer dizer? É claro que eu iria, estava adorando nossa conversa ontem.

- Tenho certeza que haviam muitas outras pessoas bem mais interessantes que eu e com conversas melhores - mais uma vez Normani se via indignada ao perceber que Dinah parecia ser insegura.

- Acredite, você é interessantíssima pra mim - respondeu firmando o olhar profundamente no seu, como forma de demonstrar o quanto estava sendo sincera. - Haviam várias pessoas naquela festa, mas eu realmente teria gostado de conversar com você. Ainda quero. Sei que nem nos conhecêssemos, mas você já se mostrou ser muito divertida, além de ser uma mulher linda. Não duvide do quão encantadora é.

Instantaneamente, os olhos de Dinah se encheram de água, o que acabou de ouvir a deixou emocionada. Era pouco e a nada tão relevante, mas mal se lembrava de alguém em sua vida a elogiando com tanta sinceridade, além de sua mãe e Camila, as quais ela acreditava que apenas a amavam muito. Siope a chamava de "gata" e "gostosa", porém de forma rude e sempre nos momentos em que queria algo, ou antes de tentar lhe comer, como se isso realmente fosse funcionar. Por isso, havia desacreditado de sua beleza e qualidades a muito tempo. Se achava esforçada nos estudos, trabalho e só, nada mais do que suas obrigações. Até chegou a pensar em se arrumar mais, ou mudar o estilo, mas todo seu dinheiro era reservado a despesas da casa e ainda faltava. A única mudança que realmente fez foi pintar o cabelo há um pouca mais de 1 mês atrás, após ganhar um sorteio no Instagram, e acreditava que aquela foi sua primeira e última vez tendo sorte em algo. Talvez só um agradinho de Deus para lhe dar uma alegria pelo menos uma vez na vida.

- Dinah, está tudo bem? - Normani perguntou ao observar os olhos lacrimegados e a ponta do nariz avermelhando.

- Sim, me desculpe - respondeu forçando um sorriso e abaixando a cabeça para tentar disfarçar enquanto limpava uma lágrima que teimou em cair. - Sou uma idiota chorona, me ignore.

- Ei, o que foi? - estendeu a mão para acariciar o braço da loira em um gesto de carinho.

Seus olhos voltaram a se encontrar e, estranhamente, Dinah que era tão tímida e nunca se sentia confortável suficiente para conversar com alguém, viu conforto e segurança nos olhos de Normani. Acreditou, então, que a negra estivesse realmente se importando. E ela estava, foi de imediato a preocupação tomar conta de si quando viu o par de olhos castanhos molhados.

- Acho que só fiquei emocionada pelo o que disse, nunca recebo elogios e você pareceu tão sincera. Sei que não é motivo pra lágrimas, eu só... - se sentiu receosa, não queria incomodar alguém que era praticamente uma desconhecida com suas questões.

- O que? - perguntou com a voz mais suave que podia.

- Não estou muito bem desde hoje de manhã. Não é nada, sou chorona mesmo.

- Quer falar sobre o que te deixou assim essa manhã?

- Não quero te incomodar, Normani, tenho certeza que tem coisas mais importantes para fazer.

- Na verdade, não. E você não me incomoda, Dinah - respondeu com tanta firmeza que fez com que a loira, outra vez, estranhasse a forma como acreditava nela e sentisse medo da total falta de controle que tinha sobre si quando estavam perto, a qual fazia com que sua boca agisse mais rápido que sua mente.

- Não sei se entenderia.

- Sou bem compreensível, tente.

- Ok... - suspirou fundo antes de continuar. Ela nunca se abria para ninguém além de suas amigas, principalmente para estranhos, mas Normani havia conseguido te passar certa confiança logo de cara. - Eu tenho um melhor amigo de infância, crescemos e planejamos uma vida juntos com nossa outra amiga, Camila. Infelizmente, a família dele passou por várias barras e, com tanta coisa que acontecia com todos nós, acabamos nos afastando. Hoje cedo fomos visitá-lo e eles estão péssimos, está tudo um horror e ele tem feito coisas para garantir a sobrevivência de todos que acabam o colocam em risco. E eu temo pela vida dele, sabe? Me preocupo tanto e fico tão triste em ver tudo que eles estão passando e eu não sabia, não estive lá pra ele, enquanto ele sempre esteve aqui pra mim, sempre. Sinto que falhei com uma das pessoas mais importantes pra mim - quando finalizou algumas lágrimas escorriam livremente pelo seu rosto sem que pudesse fazer nada pra impedir.

Normani sentiu seu coração se apertando ao perceber a sinceridade, agonia e tristeza da loira em cada palavra. Ela realmente se importava e estava sofrendo pelo amigo, o que a fazer pensar o quanto, em um mundo onde todos são tão egoístas e só pensam em si, pessoas como Dinah, que choravam ao pensar na dor do outro e temer por eles, eram raras. Eram do tipo que ela queria ter por perto e que, aparentemente, mereciam as melhores coisas que o universo poderia oferecer. Não teve, então, outra reação senão de a puxar de volta para o abraço e acariciar suas costas até que a sentisse mais calma.

- Eu sinto muito por eles Dinah, de verdade. Isso tudo é realmente péssimo e queria muito poder te dar uma solução. Imagino que não tenha sido fácil pra ele tomar uma decisão que o coloque em risco, mas, por favor, tente tirar essa culpa de dentro de si. Você mesma disse que acontecia tanta coisa com todos vocês. As vezes a vida é tão corrida que não dá tempo de parar e ver o que está acontecendo em volta e não é por mal. Mas existem momentos que a gente para e percebe e muitos só olham e não se importam. Você está se importando e tenho certeza que é uma ótima amiga por isso. Só tente estar lá agora, tenho certeza que ele vai apreciar - sussurrou carinhosamente tentando fazer ao menos que ela se sentisse um pouco melhor.

- Obrigada, Normani, mesmo - sussurrou apertando mais seus braços em volta da mulher e seus olhos fechados, antes de se separarem de uma vez.

Sorriram uma pra outra enquanto Dinah passava a mão por seu rosto limpando as lágrimas. Normani sentiu imediata vontade de fazer aquilo por ela e a abraçar novamente. Apesar de nunca se permitir ser carinhosa com ninguém além de suas irmãos e amigos próximos, sentiu uma vontade genuína dessa vez. Observou bem seus traços no rosto, suas bochechas e nariz avermelhados pelo choro, querendo apenas soltar a ponta de sua língua que coçava para a chamar de linda. Entretanto, decidiu controlar suas vontades naquele instante para não a deixar envergonhada, acanhada, ou parecer que estava se aproveitando do seu momento de fragilidade. Acreditava fielmente que teriam outras oportunidades e não estava errada.

Antes que pudesse dizer qualquer outra coisa uma para outra ouviram um grito vindo da porta da lanchonete as interromper, causando um susto e um erro nas batidas do coração de Dinah ao pensar na possibilidade de quase a verem abraçada a outra mulher. Mas ela não estava fazendo nada errado, estava?

- Dinah! - olhou para atrás vendo Josh a chamar. - Precisamos de você aqui dentro, volta logo!

- Preciso ir - disse timidamente após Josh voltar para dentro do local sem aguardar sua resposta.

- Tudo bem. Bom trabalho!

- Obrigada. Tenho um ótimo dia! E valeu pelo celular - se despediu sorrindo antes de virar e iniciar o caminho de volta ao serviço.

Normani sorriu ao ver ela se afastar e sentir seu coração se aquecer pelo breve momento que passaram juntas. Definitivamente queria muito mais da loira.

- Dinah! - chamou assim que teve um relapso para não se esquecer de novo - Me passa seu número? - pediu ao vê-la se virar.

- O que? - perguntou confusa por não imaginar uma mulher como aquela querendo mais contato com ela.

- Seu número. Para conversarmos mais - deu de ombros.

Apesar de não entender o que aquilo significava, Dinah tinha medo das possibilidades. Queria só conseguir negar e se afastar. Ainda que Normani tivesse sido tão gentil instantes atrás, ela não podia ficar próxima de algo que a levasse a sentir coisas. Quis, portanto, fugir, se esconder da mulher que a fizera sentir inúmeras sensações tão rápido, se esconder de si e das suas próprias emoções. Porém, mais uma vez, ela não tinha controle algum perto de Normani. Ela queria aquilo e ponto. Não havia controle, apenas impulsos.

- Anota aí.


P.O.V DINAH

Everlasting Love - NorminahOnde histórias criam vida. Descubra agora