Capítulo XVII - Exaustão

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Notas: Gente, eu sou péssima com títulos, então tô tentando melhorar no nome dos capítulos ainda, mas por enquanto é isso, sorry.
Espero que vocês gostem desse capítulo, ele não tem nada surpreendente, mas eu gosto bastante. Mais um totalmente baseado em Grey's Anatomy, então a música é de lá também. Inclusive, eu choro demais ouvindo, é linda. Enfim... Boa leitura! :)

Música: How to Save a Life - Nilu


* * *


- Aqui está seu café – Dinah se aproximou entregando o copo para Normani antes de se sentar ao seu lado.

- Obrigada, babe – sorriu levemente.

Junto a Ashley e Dylan, elas aguardavam pelo transplante sentadas em frente ao posto das enfermeiras, enquanto torciam para Derrick continuar estável.

- Como se sente?

- Ansiosa, odeio essa espera e agonia – deitou no ombro da namorada que logo passou o braço por volta do seu ombro, a aconchegando.

- Tem algo que eu possa fazer? – iniciou um cafuné entre os cachos e beijou o topo da cabeça.

- Já é bom o suficiente estar aqui, não imagina o quanto senti sua falta e tenho precisado de você – abraçou a cintura da mais nova.

- Se você puder a fazer dormir também, seria bom – Dylan se intrometeu sentado do lado de Normani.

Dinah o olhou curiosa pela forma como, mesmo mexendo no celular, ele parecia atento a tudo que acontecia ao redor.

- Há quanto tempo não dorme, Manz?

- Se dormi por 1 hora em alguma noite desde segunda foi muito.

- Normani...

- Eu não consigo – a interrompeu. – A insônia vai me comer viva e não posso fazer nada sobre enquanto meu pai não estiver bem.

- Talvez devesse ligar para o seu terapeuta – Ashley disse se levantando e alongando o corpo.

- Ele não é mais meu terapeuta.

- Então que tal entrar em contato com um dos vários que ele te indicou? Você não recebeu alta, precisa continuar.

- Eu sei, vou fazer isso – disse para encerrar o assunto e tomou longo um gole do café recendo olhares preocupados do amigo e da irmã.

- Tenta descansar um pouco agora – Dinah pediu beijando sua testa e a segurando com firmeza.

Normani fechou os olhos aproveitando o aconchego do corpo de Dinah e sua presença tranquila. De certa forma, apenas estarem perto já deixavam ambas mais relaxadas. E teria sido ainda mais relaxante se a ala inteira não tivesse se assustado com o grito de Allyson chegando apressada pelo corredor.

- Oh meu Deus! Eu vim assim que pude – foi direto abraçando Ashley ficando de costas para os outros e sem os ver. – A droga do meu diretor atrasou as gravações e eu não podia contar o motivo para precisar sair. Como está o tio? O que os médicos pretendem fazer se ele tiver outra parada cardíaca? – ela dizia aceleradamente sem dar tempo para resposta nem quando soltou a mais alta, virou vendo a presença inusitada no local e se chocou. – Porra! Você não sabe manter a boca fechada, Normani? Eu sabia que não aguentaria ficar muito tempo longe dela, você apaixonada é uma desgraça! Tia Drea vai te matar, caralh...

- Allyson! – Dylan interrompeu apontando para o ambiente em volta em que alguns funcionários observavam sua gritaria. – Estamos em um hospital, se controle.

- E minha mãe já tentou, Ally. Pare de gritar, minha cabeça já dói o suficiente – Normani pronunciou bebendo mais café ainda abraçada a namorada.

- Me desculpem! – disse em um tom normal colocando as mãos na boca. – Essa situação me deixa agitada e eu tomei tanto café hoje que estou uma pilha. Sinto muito pela reação, Dinah.

- Está tudo bem, estou me acostumando. Foi a mesma reação que recebi essa tarde inteira.

- Ah querida, você vai receber coisas muito piores dessa família – riu sentando ao lado do amigo. – Como estão as coisas aqui?

- Está vendo aquelas duas residentes com o telefone na mão? – Normani as indicou as mulheres que tem observado o tempo inteiro. – Elas ligam para UNO e para vários hospitais a cada 15 minutos, até agora nada. Ninguém tem um coração compatível.

- E se elas conseguirem e acontecer novamente como quarta?

- Isso não pode ser uma possibilidade, ele está pior – Ashley respondeu sentando ao lado de Ally e passando a também observar as residentes.

- O que aconteceu quarta? – Dinah perguntou olhando para a namorada.

- Há uma lista de prioridades da UNO e ele está em primeiro lugar pelo estado. Quando recebeu uma doação na quarta, um cara sofreu um acidente e precisou do coração na mesa da cirurgia, então passou na frente e nós perdemos.

- Isso é meio mórbido, sabe? – Ashley refletiu cruzando os braços e as pernas sem tirar os olhos das residentes que já se sentiam pressionadas. – Estamos aqui esperando que alguém compatível tenha uma morte cerebral. Alguma família vai sofrer e chorar uma perda e torcemos para isso pra que nós não choremos. É horrível.

- Eu não ligo se é horrível, só quero meu pai bem – Normani disse friamente antes de fechar os olhos, voltar a relaxar sobre Dinah e deixar um silêncio pesado se instalar.

Não restava mais nada além da espera. Foi assim por toda tarde, sentindo a agonia de cada vez que o telefone tocava, que os médicos, enfermeiros ou residentes iam examinar Derrick e a cada batimento cardíaco que era medido. O tempo se arrastava e, sem dúvidas, mesmo com tudo que já tinha passado, aquela estava sendo uma das semanas mais difíceis para Normani.  A única capaz de amenizar a dor da espera e do medo havia sido Dinah. Com os carinhos, cuidados, afeto e apoio que a loira ofereceu por todo o tempo que esteve em seu lado, ela conseguiu relaxar por alguns instantes pela primeira vez em dias. Dinah lhe oferecia uma segurança e tranquilidade que antes considerava surreais vindas de alguém além de si própria desde que aprendeu a autossuficiência, mas que ao seu lado ocupavam todo o espaço. Apesar de saber que seu impulso ao contar a verdade para namorada era desaprovado por todos ali, desejou ter aberto a boca antes e, assim, evitado os dias que passaram longe.

- Está na hora de vocês irem para casa, precisam descansar – Andrea pronunciou duramente ao sair do quarto pela primeira vez, assim que a noite caiu. – Não quero ninguém passando a noite aqui. Não ajuda, muito pelo contrário.

- Mama, porque a senhora não vai pra casa? Eu posso passar a noite com o papa e você pode descansar.

- Ashley, não. Eu quero ficar com Derrick e quero ficar sozinha. Já pedi ao meu assistente para me trazer roupa e comida, vocês podem ir embora.

- Mãe, a senhora ficou lá a tarde inteira... – Normani tentou argumentar, mas logo foi interrompida.

- E ficarei a noite também. Vão descansar e, se algo mudar, eu ligo para vocês.

- Tem certeza, tia Drea? Talvez você...

- Não me faça repetir, Dylan. Saíam daqui – a mais velha deu as costas voltando para o quarto.

- Ela não está nada bem, está mais dura que o normal – Ally fez uma careta.

- Vocês só não estão acostumados, ela sempre foi assim comigo – Normani levantou ajeitando o blazer. – Vamos?

- Posso dormir no seu apartamento, Mani? Não quero ficar sozinha naquela casa enorme – Ashley se referiu a casa dos pais, onde sempre ficava quando estava na cidade.

- Claro, podemos ficar todos juntos.

- Eu pago a pizza. Mas, se fomos dormir juntos, não quero te escutar gemendo durante a noite. Você e Dinah que se controlem – Ally tentou aliviar o clima fazendo todos rirem, menos Normani que apenas revirou os olhos e Dinah que ficou envergonhada.

Depois de quatro noites acordada, Normani realmente não tinha mais humor para nada, apenas sentia a exaustão que, em algum momento, levaria seu corpo a entrar em colapso e pararia. A última vez que ficou muito tempo com insônia, acabou em uma crise que a levou a ser internada em um hospital psiquiátrico. Podia não estar tão instável como naquela época, mas ainda não era um dos seus melhores momentos.

- Eu preciso ir pra casa, não se preocupe com isso – Dinah sorriu suavemente.

- Vem, eu vou te levar – Normani esticou a mão para a namorada que, ao ver seus olhos caídos e o rosto batido, negou.

- Eu posso ir sozinha, Manz. Você precisa descansar.

- Você sabe que não vou te deixar ir sozinha e não vamos discutir isso hoje, por favor – respondeu impaciente impressionando Dinah com seu tom, a qual olhou para os outros que pareciam preocupados.

A loira nunca havia recebido aquele tom grosso de Normani. Ela sabia que sua namorada não estava bem e percebia nitidamente como todos estavam aflitos com o estado da mulher. Mais do que nunca, queria cuidar dela, mas não fazia ideia de como.

- Tudo bem – se deu por vencida ao levantar e abraçar Normani.

Os cincos saíram do local juntos, mas não sem antes Normani precisar ouvir reclamações por ter estacionado no lugar errado e arriscado. Ela sabia que tinha errado, mas se sentia cansada demais até para se preocupar com algo tão pequeno. Deixou a chave do apartamento com o melhor amigo, para que pudessem a esperar lá, e dirigiu até o bairro de Dinah, fazendo um caminho silencioso. Dessa vez sem a música no carro, as conversas ou as risadas de sempre. De tempos em tempos, suas mãos procuravam uma a outra para um carinho e os olhos se encontravam repletos de cuidado. Entre os toques e olhares, o amor ia florescendo e elas nem ao menos percebiam. Após uma parada rápida na casa de Lauren para que a mais nova pudesse pegar seu material, Normani a deixou até alguns metros antes da sua residência, onde estacionou o carro e a olhou sorrindo.

- Está entregue, senhorita.

- Obrigada – sorriu tirando o cinto.

- Eu quem agradeço. Obrigada por ter ficado comigo hoje, não imagina o quanto significou pra mim.

- Você sabe que não precisa agradecer. Vai ficar bem durante a noite?

- Sim, é bom saber que vou chegar em casa e minha irmã e amigos estarão lá.

- Fico aliviada em saber que não vai ficar sozinha. Me promete que vai tentar descansar?

- Estou tentando, mas minha mente não para um segundo.

- E se eu te ligar mais tarde? Podemos conversar e vou te distrair com minhas piadas péssimas até que consiga dormir.

- Seria perfeito. Faria isso?

- Normani... – se aproximou e segurou o rosto negro entre as mãos sorrindo por toda beleza dos seus traços. – Não entende? Isso não é nada. Eu faria qualquer coisa por você.

A resposta só foi possível em um beijo. Com o toque, Normani tentava passar tudo que seu coração sentia, mas ela ainda não conseguia decifrar. A forma como se beijavam chegava a ser quase dolorosa, pela saudade, pelos sentimentos não compreendidos, pelos acontecimentos da semana. Tudo que sentiam era convertido em paixão e demonstrado no beijo. A mais velha levou uma das mãos a coxa da namorada, apertando, e a outra afundou na nuca, a fazendo soltar um suspirou na boca. Foi inevitável sorrir, amava as reações que provocava no corpo polinésio.

Infelizmente, pelo estado de Normani, o contato não se aprofundou tanto e, logo, estavam apenas se olhando e acariciando o rosto uma da outra. Permaneceram na própria bolha até que o celular de Dinah recebeu uma nova notificação da irmã avisando que estava quase chegando em casa e precisou ir para que os pais não desconfiassem sobre ter passado o dia longe.

- Promete me ligar assim que tiver qualquer notícia do seu pai? Não importa qual seja – pediu pegando suas coisas.

- Prometo – a beijou uma última vez.

Para ambas, a noite foi de recheada de preocupação e angústia. No apartamento de Normani, a pizza foi acompanhada de silêncio e não demorou muito para que todos estivessem dormindo, menos ela que permaneceu horas na área de lazer detonando o maço de cigarro que havia comprado na manhã daquele mesmo dia, enquanto observava o mar. O fumo, que costumava durar no mínimo duas semanas na sua bolsa, agora não sobrevivia por um dia. Do outro lado da cidade, Dinah precisou driblar muito sua irmã para não responder as perguntas sobre ter faltado trabalho. Justificou apenas que estava ajudando uma amiga e deixou por aquilo sabendo que, mais do que nunca, precisava guardar Normani como segredo. Isto era o que mais doía em seu peito, queria gritar para o mundo toda paixão, mas, ao invés disso, elas pareciam se prender cada vez mais em uma rede de mentiras.

Como prometido, Dinah ligou para a namorada assim que sua família dormiu e passou boa parte da madrugada tentando a distrair, gastou todo seu arsenal de piadas e sentiu uma felicidade única ao ouvir a risada da negra e imaginar o sorriso que ela dava. O dia acabava de amanhecer quando Dinah, já deitada em sua cama, não aguento e adormeceu, enquanto Normani seguiu observando o mar e se deliciando com a respiração calma do outro lado da linha.

Everlasting Love - NorminahOnde histórias criam vida. Descubra agora