Capítulo XXXVIII - Desesperada

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Notas: Quem é vivo sempre aparece, né? Feliz natal, meu povo, quem puder fique em casa e se cuidem ❤️

Música: No Way - Fifth Harmony


* * *

- Boa noite, Michael, como está?

- Boa noite, senhorita, bem e você?

- Ótima. Posso entrar?

- Com certeza – o porteiro sorriu para Normani antes de abrir o portão automático a nossa frente.

Era sexta noite e havíamos acabado de entrar no condomínio mais luxuoso de toda Los Angeles, onde só moravam as pessoas mais milionárias que alguém pudesse imaginar e que nunca pensei que, ao menos, passaria perto. O lugar era tão grande que parecia mais uma cidade com as mansões afastadas umas das outras, mantendo a privacidade e o luxo.

Após deixarmos Camila em casa terça à noite, voltei com Normani no carro discutindo a ideia desse jantar e, no final, ela e a latina estavam certas. Eu não poderia fugir de conhecer a família da minha namorada ou deixar o medo e a insegurança atrasarem esse inevitável encontro. À vista disso, fomos dormir aquela noite comigo a fazendo contar cada detalhe dos seus familiares antes de, claro, também conversarmos sobre a repercussão do nosso namoro.

Por mais que Normani afirmasse que isso não importava, quis saber tudo sobre ambos para me preparar. Nesse sentindo, finalmente aceitei que ela me comprasse algo, já que realmente não tinha roupas para esse evento, e acabei passando boa parte da quinta rodando as ruas com Camila e Lauren até a branquela perder a paciência com meu nervosismo e indecisão e escolher por mim um vestido e salto. O pior foi ter que me preparar mentalmente e isso sim me custou alguns pequenos surtos antes de tomar coragem de vez. Apesar de tudo isso, aqui eu estava, na boca do lobo, e ainda me sentindo zero preparada. Minhas mãos suavam, as pernas tremiam, estava nervosa e talvez prestes a parar de respirar. Eu nem era boa com pessoas normais, imagina com esse povo burguês e, para piorar, com a matriarca que já me odiava. Ou seja, estava ferrada.

- Você está bem? – Normani perguntou esperando outro portão se abrir, agora em frente a uma enorme mansão.

- Estou nervosa, só isso. E se seu pai me odiar também? Não sei lidar e conviver com pessoas, Mani.

- Isso é impossível, eu garanto que ele vai gostar de você. Tenta respirar fundo, ok? – ela segurou uma das minhas mãos, levando até seus lábios e deixando um pequeno beijo antes de conectar nossos olhos e nos levar a nossa própria dimensão. – Somos só eu e você, babe. Vai dar tudo certo. Confia em mim?

- Confio, mas me desculpe se eu fizer algo errado e tudo for horrível?

- Não se preocupe com isso – sorriu uma última vez antes de beijar o mesmo local, soltar minha mão e acelerar o carro. – Me lembre de carregar meu celular quando entrarmos? Esqueci de fazer isso ontem de noite e ele está morto.

Assenti enquanto entravamos em um jardim tão grande que precisamos dar a volta em um chafariz para chegarmos na entrada. Um homem, levemente barbudo, de aparência jovem e com terno, aguardava e fez questão de abrir a porta ao meu lado antes de dar a volta e encontrar Normani que também já saía.

- Hey, Ty! Como você está? E sua mãe? – ela o cumprimentou.

- Estamos bem, Mani, obrigada por perguntar.

- E a faculdade?

- Vou para o último ano. Quero você na minha formatura.

- Estarei lá – Normani deu uma risada antes de me apresentar a ele rapidamente e entregar chave do carro para que fosse estacionado.

- Pelo menos você é uma rica simpática, Kordei – falei com deboche segurando sua mão e sendo guiada até as escadas de entrada para uma varanda.

- Que bom não te decepcionar, Dinah Jane – ela sorriu. – Mas o Ty não é alguém com quem sou só simpática, ele é meu amigo – paramos em frente a porta de entrada com ela se virando para mim. – Ele veio trabalhar aqui um pouco antes de terminar com Zendaya e estava insuportável, acabamos conversando muito e nos aproximamos. Foi a única pessoa com quem conversei por meses. Ele passou algumas barras e não conseguia terminar a faculdade, então tentei ajudar mesmo de Londres. Você vai a formatura dele comigo.

- Eu não perderia por nada – com carinho, sorrimos uma para a outra. Era bom conhecer cada vez mais sobre ela, mas o encanto acabou com Normani me dando um beijo na bochecha e se virando para tocar a campainha. Meu coração, imediatamente, disparou e senti que logo ele pularia para fora da boca. Oi, Deus, sou eu de novo, sei que não estamos em um bom momento, mas, se está aí, essa é a hora de me salvar. – Não vai ter aquele monte de talheres e pratos não, né? Porque não faço a menor ideia de como usar.

- Relaxa, amor, não costuma ter – ela aumentou o aperto em minhas mãos.

- Não costuma ou não tem nunca? – a olhei desesperada, mas, no mesmo segundo, a porta se abriu.

Na nossa frente apareceu uma mulher com calça social preta e uma blusa branca também social, além do cabelo preso em um coque. Normani já entrou a abraçando e nos apresentando, me fazendo conhecer Lyla, a governanta da casa. Como assim as pessoas ainda tinham governantes? Alguns passos atrás dela estava Andrea pronta para nos receber e, logo, ganhando um abraço de Normani.

- Como está, mama? – perguntou soltando a mãe e a olhando.

- Melhor agora que minhas três filhas estão aqui. E você?

- Estou ótima. Bom, acho que não preciso apresentar vocês duas, não é? – se virou para mim que continuava parada próxima a porta já fechada.

Todas me olhavam e, por um instante, esqueci como movimentar as pernas e puxar oxigênio para os pulmões. Porém, graças a forças divina, me vi dando poucos passos em direção as mulheres e esticando a mão para a mais velha.

- É um prazer revê-la, Sra.Kordei.

- O prazer é meu, Dinah – aceitou o cumprimento suavemente, mas continuando séria. – Venham entrar direito. Derrick está nos esperando louco para te conhecer.

Normani segurou minha mão e começamos a seguir Andrea e Lyla pela mansão toda de conceito aberto. Só o hall era estupidamente enorme, provavelmente maior que o térreo inteiro da casa onde cresci. A sua esquerda havia uma sala de estar que parecia dar em outro cômodo, mas seguimos pela direita, chegando em poucos passos a um salão com uma daquelas escadas enormes. Descendo calmamente, uma mulher de aparência jovem abriu a boca ao nos ver e, ao mesmo tempo em que Normani soltou minha mão para correr, ela desceu metade da escada em uma velocidade surreal até seus corpos se abraçarem no primeiro degrau.

- Sua vaca! Porque não foi me buscar no aeroporto? Onde já se viu abandonar a irmã desse jeito?

- Senti tanta sua falta, Ari – Normani a agarrou mais, enquanto observei Andrea sorrindo abertamente por todo o tempo em que elas ficaram abraçadas.

- Eu também, irmã – se afastou apenas o necessário para a olhar. – A culpa é sua! Da última vez que vim, cheguei em um dia e você já viajou no outro.

- Sabe que precisei ir.

- Foda-se! Sinto falta demais de você morando naquele cubículo da Europa e podermos nos ver sempre. Quando volta?

- Quem disse que volto?

- Papai está bem e os negócios também, já pode abandonar esse país horrível de novo – ela dizia como se fosse óbvio e minha namorada apenas ria.

- Não vou voltar a morar na Europa.

- O que? Esse era o plano!

- Os planos mudaram.

- Por que? Por causa da sua namorada nova? Deixa eu conhecer – Arielle, literalmente, empurrou a irmã da frente para me ver logo atrás de sua mãe. – Caralho, Mani, ela é realmente gostosa!

- Ignore ela, – Normani disse vendo que fiquei, imediatamente, vermelha – Arielle tem uma língua maior e mais rápida que o próprio cérebro.

- Tenho mesmo – Arielle riu vindo até mim e me puxando para um abraço apertado demais. – É um prazer te conhecer, Dinah. Normani fala de você o tempo inteiro.

- O prazer é meu – sorri sem graça.

Andrea nos chamou para voltar a caminhar, mas, antes que eu pudesse segui-las, meu celular começou a vibrar em minha mão em uma chamada de Camila.

- Amor, vamos?

- Sim – olhei para Normani que me esticava a mão e recusei a chamada rapidamente antes de a segurar e voltarmos a andar.

Entramos em uma segunda sala com televisão, sofás, mesinha e poltronas na parte da frente e uma área com sinuca e um aparador com bebidas atrás. Derrick estava sentado em uma poltrona preta, enquanto conversava animadamente com Ashley, sentada no sofá. Era incomparável o quanto ele parecia melhor desde a última vez que o vi tendo uma parada cardíaca no hospital, como se fosse outra pessoa, e o sorriso gigante que abriu quando nos viu entrar o fez parecer melhor ainda. Porém, por mais radiante que ele estivesse, meu nervosismo foi capaz de aumentar milhões de vezes quando ele abraçava Normani e, após, vinha me cumprimentar.

- É um imenso prazer finalmente conhecê-la, Dinah.

- O prazer é meu, senhor – minha voz mal saiu e minha mão tremeu muito quando levantei para apertar a dele.

- Sabe que precisa respirar para viver, certo? – ele disse brincalhão e eu só fiquei mais vermelha concordando e ouvindo algumas risadinhas em volta. – Então respire e não precisa tremer. Sou bonito demais pra ficar com medo de mim.

- E convencido também! – Arielle disse causando mais risadas.

- Vocês estão tão abusadas! Estou tentando deixar a garota mais confortável.

- Eu estou bem, Sr.Kordei, obrigada – tentei garantir, mas, com certeza, minha voz baixa passava 0 confiança.

- Espero que sim, até porque estamos entre família. Afinal, você é a Dinah que me doou sangue, certo? Já é parte de nós e tenho muito a lhe agradecer.

- Não foi nada – dei um sorriso sem graça.

- Bom, foi uma das várias coisas que salvou minha vida. Venham, vamos nos sentar.

Tentei disfarçar o quanto estava nervosa sentindo a mão delicada de Normani me puxar até os assentos, mas a parei no caminho para me olhar.

- Seu celular sem bateria – lembrei.

- Ah é! Obrigada por lembrar. Ly, pode colocar pra carregar pra mim, por favor? Nem trouxe carregador.

- É claro, Mani.

Ashley me abraçou rapidamente quando nos aproximamos dela, se mantendo sentada em uma ponta do sofá enorme e espaçoso, sendo seguida por mim, Normani e Arielle, enquanto os mais velhos se acomodaram nas poltronas. Lyla serviu a todos um vinho antes de se retirar e Derrick fez questão de fazer um brinde.

- Então, Normani trazendo uma namorada pra apresentar em um jantar, heim? – Arielle alfinetou a irmã.

- Quem diria – Ashley soltou com deboche.

- Pelo menos, ela nos apresenta e você, Ari?

- Ah papai, não posso trazer em casa cada pessoa com quem me envolvo.

- Teria uma fila enorme para o conhecer, pai – Ashley afirmou arrancando risadas de mim e Normani, ela era cheia de deboche e malícia.

- Essa daí saiu sem vergonha igual as irmãs mais velhas mesmo – Andrea entrou na conversa.

- Eu não sou sem vergonha não – minha namorada afirmou.

- Nem eu, sou a mais sossegada.

- Sossegada, Ashley? Eu nem entendo o que você chama de namoro.

- Você namora? – eu ainda não conseguia aumentar a voz e não me sentir envergonhada, mas a surpresa foi tanta que saiu sozinho.

- Garota, ela ta quase casada – Arielle disse e Ashley confirmou.

- Normani nunca me contou que tinha um cunhado.

- Gosto de fingir que ele não existe.

- Nisso eu e Normani concordamos – Andrea afirmou.

- Vou me casar logo e mamãe ainda não gosta porque temos um relacionamento não-monogâmico, – ela explicou – mas Normani só vai sempre sentir ciúmes de qualquer cunhado ou cunhada que tiver mesmo.

- Há a possibilidade dela ter uma cunhada? – a matriarca questionou surpresa e todos olharam diretamente para Arielle.

- Ah gente, pelo amor, há a possibilidade de vocês terem qualquer coisa vindo de mim – para todos, menos Andrea, foi impossível não rir do semblante sapeca e sorridente.

- Europa têm sido boa pra você, heim? – Normani comentou maliciosa.

- Você sabe bem como é, Bear.

- E o trabalho, Ari? – Derrick perguntou, levando a filha a começar a tagarelar animada, mostrando o quanto amava o que fazia.

Conversamos por um bom tempo antes de servirem uma tábua de queijos na mesinha de centro. Haviam tantos tipos que a maioria eu nunca havia provado, ou ouvido falar. Como Normani, o resto da família bebia muito e, logo, até uma garrafa de Whisky já estava sendo servida para todos, menos eu e Arielle que recusamos. Assim, eles iam ficando cada vez mais engraçados. Eram pessoas animadas e amorosas que chegavam a me lembrar meus momentos familiares antes de tudo se desfazer. Por mais que Andrea nem me olhasse, ou se dirigisse diretamente para mim, dava para perceber o quanto era divertida e carinhosa com sua família.

O tempo inteiro Normani se manteve próxima a mim, me incluindo nos assuntos, beijando minha mão vez ou outra e acariciando, como ela sempre fazia sem nem perceber, era natural. Atenciosa como sempre, ela se certificava de que eu estivesse bem e confortável, me fazendo, se possível, a amar mais.

- Então, Dinah, vamos falar sobre você. É o que todos estamos interessados hoje mesmo – Arielle soltou logo quando eu estava mais tranquila.

Ao mesmo tempo, meu celular começou a vibrar, agora em uma chamada de Lauren, que recusei rapidamente querendo dar meu melhor naquela conversa para que mais nenhum membro da família me odiasse. Notei que ainda haviam várias mensagens, mas preferi não abrir no momento e desliguei o celular de uma vez para que não atrapalhasse mais. Eu sabia que minhas amigas estavam ansiosas para saber sobre essa noite, mas elas precisariam esperar terminar.

- O que quer saber? – engoli a seco.

- Tudo! Normani não me contou nada e, nesse momento, sei tanto quanto a internet, o que não é justo. O que você faz?

- Estou terminando a escola.

- Quis dizer faculdade?

- Não, ela quis dizer o último ano da escola – minha namorada respondeu se debruçando para alcançar a mesinha e colocar mais whisky em sem copo enquanto já me preparei para as reações que viriam, principalmente, pelo semblante desconfortável que Andrea assumiu diante do assunto.

- Quantos anos você tem? – Arielle perguntou chocada.

- Acabei de fazer 18.

- Normani! Ela é mais nova que eu que sou sua irmã mais nova! Socorro!

- Pois é, Ari, pois é – a matriarca disse tomando um gole longo do seu copo.

- Ai você não me conta mais nada mesmo – reclamou emburrada para a irmã que só deu de ombros com deboche, a deixando mais irritada. – Como isso aconteceu? Digo, vocês parecem ser tão diferentes, como terminaram morando juntas?

- É uma longa história, irmãzinha, quase 40 capítulos.

- Porra, que tour enorme.

- E como está sendo isso de morarem juntas? – Derrick disse suavemente, mexendo o copo em sua mão e cruzando as pernas. Agora entendia de onde Normani havia herdado tanta elegância.

- Acho que bom, não é? – olhei para minha namorada com receio.

- Está sendo ótimo, babe – sorriu se aproximando e deixando um beijo longo em minha bochecha que me arrancou um sorriso tão bobo. Normani era fofa demais, ela ainda ia me fazer explodir de paixão.

- Fico surpresa com isso – a voz de Andrea se fez presente de forma áspera, demonstrando seu descontentamento. – Digo, são tão novas para já estarem morando juntas, pode ser difícil.

- Eu acho que é sorte – Ashley opinou. – Encontrar o amor cedo e já saber quem você quer.

- Não acho que isso é “já saber”. Não tem como ter certeza, afinal, vocês se conhecem a tão pouco tempo.

- Nos conhecemos a 5 meses, mãe, não é tão pouco assim e nem mesmo é sobre o tempo – Normani se endireitou incomodada e já senti o clima começar a pesar.

- 5 meses não é nada, Normani. Você já teve relacionamento bem mais longo que não chegou nem perto disso.

- Precisa mesmo voltar nisso? Deveria é agradecer que não cheguei. Se em 2 anos só fui descobrir quem ela realmente era no final, talvez não seja sobre a quantidade de tempo.

- Bem, você não pode ter certeza. Isso não passou pela cabeça de vocês? Talvez tenham dado um passo maior que as pernas.

- Sério, mãe? Realmente quer...

- Na verdade, – interrompi a mulher ao meu lado e segurei sua mão para que acalmasse e não começasse a brigar com a mãe, aquilo não precisava ir para além de uma conversa – isso passou muito pelas nossas cabeças, então não foi uma decisão tomada do nada.

- Oh não? Então o que levou a ela?

- Ash, e Nova York, como tem sido? – Arielle tentou mudar de assunto sentindo o climão que já estava.

- Eu fiz uma perguntar, Arielle, deixa elas responderem primeiro – ela me lançou um olhar desafiador, como se quisesse testar minha reação, mas mal sabia o quanto eu odiava ser desafiada. – Não me levem a mal, só quero entender.

- O fato de eu ter si...

- Não precisa contar se não quiser, Dinah – Normani me interrompeu com o tom de voz duro.

- Eu tenho – nossos olhos se encontraram e minha voz se abaixo direcionada apenas a ela. – É sua família, Mani, é normal que queiram saber como uma estranha terminou morando contigo. Que bom que se interessam.

- Você não é uma estranha.

- Pra você não, mas pra eles sim. Relaxa, ok – voltei a olhar para a família que nos encarava interessados. Tentei parecer o mais firme possível, decidida a não deixar que Andrea acabasse comigo outra vez. – O que nos levou a isso foi meus pais terem me expulsado de casa umas semanas atrás ao saberem da minha sexualidade. Eu não tinha pra onde ir e Normani e algumas amigas me ajudaram, então acabei morando com ela.

- Por que com ela? – perguntou me encarando com superioridade, como se buscasse qualquer erro em minha fala.

- Meus melhores amigos e uma professora até me ofereceram um lugar pra ficar e cheguei a passar uns dias na casa de uma delas, mas, em algum ponto, pareceu mais lógico ficar com Normani.

- Mais lógico ou mais confortável?

- Mãe! Sério?

- Não é nada confortável, Sra.Kordei. Preciso acordar 2h mais cedo do que antes para atravessar a cidade e chegar na escola e no final do dia, quando saio já cansada do trabalho, ainda demoro mais horas até chegar no apartamento. Não sei se a senhora sabe como é essa rotina, mas não é nada confortável. A casa da minha melhor amiga não ficava a 5 minutos desses lugares, mas a família dela, por mais que quisesse, não tinha condições de manter outra pessoa lá.

- Andrea não sabe como é isso, Dinah, nunca nem passou perto de um transporte público – Derrick se pronunciou risonho, dando uma aliviada no clima. Contudo, ao contrário do resto, sua esposa não pareceu achar nem um pouco de graça e estava com a cara ainda mais fechada por eu não ter abaixado a cabeça para ela. – Mas obrigada por ter nos esclarecido isso, estávamos preocupados com vocês duas. Morar juntas é algo grande, sabe? De qualquer forma, fico feliz que tenha encontrado pessoas como Normani para lhe ajudar nesse momento. É muito triste que tenha passado por isso e sinto muito. É absurdo que pais tenham coragem de machucar um filho dessa forma.

- Obrigada, senhor, mas não é algo fixo, sabe? Quero ter meu próprio lugar.

- Já disse pra ela que isso é uma bobeira.

- Você não vai entender, Mani, mas é importante conseguir trabalhar e conquistar suas coisas, faz a gente se sentir capaz – sorri concordando com Derrick. Talvez por não ter nascido rico como sua esposa, ele conseguisse me compreender. – Eu gostei de você, Dinah. É bom tê-la na família.

- Ui conquistou o sogrão! – Arielle soltou causando risadas e me deixando muito envergonhada. Pelo visto, ela me deixaria assim sempre.

- Com licença, vou ver como está o jantar – Andrea se levantou séria saindo e tive certeza de que aquela mulher nunca gostaria de mim e não fazia ideia de como agir sobre isso.

De qualquer forma, continuamos conversando aleatoriedades e eu me divertia cada vez mais. Normani bebia consideravelmente sobre a afirmação de que, após o jantar, ficaria melhor para dirigir, o que eu duvidava, mas ela estava tão feliz e solta com a família que nem ousaria me contrapor. Após alguns minutos, Andrea retornou avisando que o jantar estava servido e todos levantaram ansiosos para comer. Arielle abraçou a mãe e foram caminhando juntas, enquanto Normani fez o mesmo com o pai e eu e Ashley fomos alguns passos atrás conversando. Ao final da sala havia uma abertura que dava em um corredor com duas portas e outra abertura no final, para a qual íamos. Porém, no meio do caminho, Normani soltou o pai, virando e parando na minha frente, fazendo com que sua família seguisse e nós duas ficássemos para trás.

- O que? – perguntei observando seu sorriso lindo e sapeca, mas a única resposta foi ela me contornando por trás, abraçando minha cintura e enfiando o rosto no meu pescoço, que começou a beijar, me empurrando para andarmos lentamente daquela forma. – Você está muito alegrinha! Dylan estava certo, tu bebe e fica querendo me agarrar.

Normani gargalhou alto bem no meu ouvido, a risada mais gostosa do mundo.

- Você é linda, Dinah Jane.

- E você está ficando bêbada – virei para ela, abraçando seu ombro e fazendo com que parássemos os passos. – Como vamos pra casa assim?

- Podemos dormir aqui e te mostro meu antigo quarto – respondeu sorrindo com malicia e eu ri de deboche.

- Nem pensa, não vamos transar na casa dos seus pais.

- Você é tão certinha! Pelo amor, é minha casa também, cresci aqui. Meu quarto está exatamente como deixei quando me mudei, quero te mostrar.

- Estou louca para descobrir como era a Normani adolescente.

- Ela transava lá, sabia?

- Que bom pra ela.

- Sua ridícula! – rimos. – Pelo menos me dá um beijo?

- Não! Estão nos esperando pra jantar, vem – tentei me desvencilhar dos seus braços, mas ela me segurou com mais força. – Mani, é sério. Sua mãe já me odeia de graça, não quero dar motivos.

- Ignore ela, tem coisas que não valem a pena – afirmou se aproximando e tomando meus lábios. Normani poderia me derreter em seus braços facilmente, pois a beijar era estupidamente bom, então, antes que isso se concretizasse, decide finalizar com um selinho e me afastar. – Dih, não...

- Mais tarde, ok? Porque se eu começar a te beijar não vou querer parar, então deixa pra mais tarde quando não iremos precisar parar.

- Que caralho precisar esperar. Vamos logo com isso – finalizou nosso abraço, puxando minha mão até que alcançássemos a cozinha.

A cozinha dos Kordei era simplesmente coisa de outro mundo. Talvez fosse o lugar mais moderno que eu já havia visto e muito, muito, grande.

- Sinto muito que não possamos estar na sala de jantar hoje, Dinah. Infelizmente, está em reforma para o baile de verão – Adrea disse sentando na ponta da mesa, de frente para seu marido.

Pra mim aquilo ali já era uma sala de jantar muito chique, mas ok.

- Teremos baile esse ano? – Normani perguntou puxando a cadeira para eu me sentar ao lado de sua mãe, de frente para Arielle, enquanto ela se acomodou ao meu lado, perto do pai e de frente a irmã mais velha.

- Claro que sim, temos todos os anos. Esse terá vocês três juntas pela primeira vez em muito tempo, vai ser mais do que especial.

- Achei que não teria pela doença do papai.

- Eu já estou ótimo. Precisamos disso, vai ajudar na imagem da empresa e da produtora da sua mãe.

- A empresa está ótima, pai.

- Você sabe como é, Normani, sempre podemos melhorar – Andrea finalizou antes de outras funcionárias, junto a Lyla, se aproximarem e servirem um prato que disseram ser de entrada e que eu nunca tinha visto na vida.

Estranhei a forma um pouco diferente como eles começavam um jantar sem orar antes, talvez pelos antigos costumes intrínsecos em minha mente. Assim, começamos a nos alimentar tomando outro vinho, enquanto eu agradecia a Deus por não terem vários tipos de talheres que eu nem entenderia. Em algum momento, já no prato principal, que ainda tinha o tamanho de um de entrada, e entre conversas animadas, Lyla se aproximou de Normani esticando seu celular e sorrindo.

- Já está carregado, Mani.

- Obrigada, você é perfeita – ela agradeceu pegando o aparelho e começando a digitar. Segui prestando atenção na conversa e nas risadas na mesa até sentir os dedos de Normani tocarem minha coxa e seu rosto se aproximar, chamando minha atenção. – Amor, acho que deveria checar seu celular. Ele está aí?

- Sim, mas desliguei – o peguei do meu colo mostrando a ela que estava com uma feição preocupada. – Aconteceu algo?

- Lauren me mandou umas mensagens confusas e sua irmã também, elas estão te procurando.

- Minha irmã? – me assustei já ligando o aparelho que demorava séculos para iniciar. – Lauren me ligou mais cedo, mas achei que fosse bobeira.

- Relaxa, ok? Pode não ser nada, só cheque suas mensagens.

A lerdeza do meu celular não só demorou, como ainda travou. Eu já ficava ansiosa quando consegui desbloquear a tela e ir para as mensagens. A última que eu havia recebido era de Camila há alguns minutos atrás e foi o suficiente para me fazer perder o rumo.

- Dinah, está tudo bem? – minha cabeça ficou tão zonza que a voz de Derrick pareceu vir de metros de distância.
- Amor, o que foi?

- Ela tá ficando pálida – não soube diferenciar se era Arielle ou Ashley, pois, mais uma vez, o mundo parecia estar desabando.

- Dih, olha pra mim – senti os dedos macios de Normani levantando meu queixo e virando para ela, me fazendo a encarar por um segundo antes de desviar para a tela de novo.


Mila: Dinah, custa atender essa droga ou pelo menos ler as mensagens? Sua família foi despejada! DESPEJADA! Seus irmãos não tem mais onde morar e nem você ou Normani atendem essa merda. ME LIGA!!!


- Meu Deus – estava tão perdida e tonta que o sussurro saiu sozinho.

Eu precisava fazer algo, precisava entender o que era aquilo. Desesperada, olhei para Normani que me encarava preocupada e engoli a seco.

- O que aconteceu?

- Preciso fazer uma ligação. Desculpa, é urgente.

- Tudo bem, vai lá na sala. Mas o que houve?

- Eu não entendi – minha voz saiu em um fio, mas eu não tinha tempo para me preocupar com isso ou responder perguntas, só precisava sair dali o mais rápido possível e ligar para Camila. – Me desculpa interromper o jantar, sinto muito.

- Está tudo bem, Dinah, vá fazer sua ligação – Derrick disse suavemente, pois, assim como todas, havia parado de comer e me encarava. Eles pareciam realmente preocupados, o que não me surpreendia, já que eu estava desesperada e nem conseguia disfarçar.

- Sinto muito. Com licença.

No desespero para sair logo, me virei com pressa e só senti uma dor forte me atingir. Acho que simplesmente esqueci de afastar a cadeira e, ao levantar, bati a perna na mesa, o que não só machucou meu joelho, como também fez uma taça de vinho cair no meu vestido e outra em Andrea. No mesmo milésimo, um grito de dor escapou da minha garganta e, com os olhos embaçados, vi todos tomaram um susto grande com o baque, o pulo da mesa e o grito, os fazendo, automaticamente, afastaram suas cadeiras para trás em um salto. De repente, Normani já tinha levantado, puxado minha cadeira para trás e se agachava na minha frente, enquanto ouvíamos sua mãe levantar reclamando sobre a nova mancha em sua roupa e eu me desesperava mais.

O que eu fiz? Minha cabeça não para de girar. Como assim despejados? O que estava acontecendo?

- Está tudo bem? Você machucou? – sussurrou sob as falas da mãe, passando as mãos pelos joelhos e olhando com atenção para se certificar de que não tivesse sido nada sério.

- Estou bem. Me dá licença, por favor – implorei morrendo de vontade de sumir.

Normani me deu espaço e, imediatamente, corri de volta para a sala enquanto discava o número de Camila. Quando alcancei o centro do cômodo já era atendida e escutava muito barulho do outro lado da ligação.

- Camila, o que aconteceu?

- Dinah! Porra! Por que não me atendeu?

-Desculpa, só vi sua mensagem agora. O que quis dizer com despejada?

- Exatamente o que falei. Cara, não entendi nada, mas chegaram aqui com uma ordem imediata de despejo. Parece que o banco tomou a casa dos seus pais e ainda tem uma viatura pra cumprir a ordem.

- O que? Por nada? Eles não podem, Mila! Aí tem a escritura da casa no nome do Gordon, fica na gaveta do guarda roupa dele. Meu avô deixou a casa pra ele, ninguém pode tomar.

- Dinah, já tá rolando.

- Como isso aconteceu?

- Eu não sei! Ninguém tá entendendo nada, nem deu tempo. Estamos tendo que tirar tudo da casa, porque falaram que o que ficar passa a ser do banco. Isso aqui tá um caos.

- Estou indo pra aí agora, chego em alguns minutos.

* * *

Notas: A Dinah sofre, tadinha...
Gente, queria dizer que dividi essa história em 3 partes e estamos bem no fim da segunda, então logo estaremos no fim da fanfic também. Ainda faltam alguns capítulos, mas estamos caminhando pro final.

Everlasting Love - NorminahOnde histórias criam vida. Descubra agora