Capítulo XXVII - Fuga

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Música: The Backpack Song - Bear Attack


* * *

Normani estava ali, no culto de domingo da sua Igreja. Podia estar longe, do outro lado e camuflada, mas presente. Sem compreender, Dinah olhou rapidamente para Camila que a encarava confusa pela sua expressão e, em um salto, voltou a olhar para frente. Suas mãos começaram a suar e se sentiu tonta, mas, sem conseguir se controlar, voltou a olhar Normani e então para Camila novamente. Só pela presença da mulher, já ficava ansiosa e nervosa, fazendo com que os olhos trocassem entre ela e a amiga em desespero. Camila, tentando entender, virou para onde Dinah olhava e reconheceu apenas Lauren, que sorria, e sua família.

- O que? – moveu os lábios sem emitir som para Dinah, que negou voltando a olhar para frente.

- Camila... – Sinu chamou atenção ao perceber a estranheza de Dinah. – Está tudo bem?

- Claro – concordou forçando um sorriso e mantendo o olhar na amiga que já tinha as mãos tremendo.

A música estava quase ao final quando Dinah não resistiu a encarar Normani mais uma vez. Ela estava séria, impassível e a olhava descaradamente. Camila, então, voltou a olhar a mesma direção e, apenas agora, percebeu a mulher ao lado da namorada, a levando a forçar um pouco a vista e a encarar por alguns segundos. No momento que se tocou de quem era, ficou chocada e virou para Dinah que a olhava mordendo o lábio inferior angustiada. A mais nova se perguntava o que fazer, quis sair correndo até a ex, se jogar em seus braços e não a soltar, pois todo seu corpo clamava por ela. Contudo, seus pés a traíram grudando no chão.

Quando a música terminou, Dinah virou para frente e reparou na pastora assumindo o posto para a pregação. Toda Igreja se sentou, mas suas pernas congelaram, levando Camila a forçar seus ombros para baixo e a sentar.

- Pare de a olhar e disfarça antes que alguém perceba – a latina sussurrou no ouvido da amiga antes de endireitar o corpo e ignorar os olhares confusos dos pais.

- Está tudo bem? – Siope questionou Dinah voltando a passar o braço pelos seus ombros, a fazendo se mexer desconfortável.

- Uhum – se limitou a responder mais preocupada em Normani ver o garoto a abraçando.

Durante toda a pregação, Dinah dava pequenas e rápidas olhadas para trás sem conseguir se manter quieta por estar no mesmo lugar que Normani, mas quando Siope começou a questionar o que ela tanto olhava precisou começar a se controlar. O tempo parecia se arrastar e não prestou atenção em nenhuma palavra da pastora, nem ao menos sabia sobre o que pregava. Passou cada segundo tentando decidir o que fazer quando o culto acabasse e se perguntando o que Normani fazia ali. Criou várias teorias, porém, nenhuma fazia sentindo. Acreditava ter sido bem clara ao fazer, com maestria, o trabalho de a afastar e manter longe do caos que estava sua vida, portanto, não conseguia encontrar uma pretensão na presença da mulher. Contudo, ao mesmo tempo que buscava uma explicação, se sentia em êxtase exatamente por estarem no mesmo local.

Quanto mais o fim do culto se aproximava, mais nervosa Dinah se sentia. Por várias vezes precisou segurar a vontade de levantar e ir imediatamente correndo para Normani. Assim, quando o culto finalmente se encerrou, foi a primeira a ficar de pé.

- O que você tem? – Siope perguntou levantando bem na frente, a impedindo de sair da parte dos bancos e ir atrás de Normani. – Ficou estranha o tempo inteiro.

- Nada, só não estou me sentindo bem, preciso tomar um ar – respondeu impaciente.

- Tem certeza?

- Ei! Vocês não vão andar não? Eu quero sair daqui – Funaki resmungou logo atrás de Kamila, fazendo o homem se virar e ir para o corredor do meio.

Dinah saiu andando em disparada. Com dificuldade pela aglomeração de pessoas que saíam da Igreja, tentava chegar até Normani, mas, nem ela ou Lauren, estavam no mesmo lugar de antes, então já seguiu direto para fora esperando as encontrar. Assim que saiu pelas portas, olhou em volta em busca e suspirou frustrada ao não a ver. Sua cabeça estava zonza, o ambiente parecia estar girando e teve certeza que passaria mal de nervoso, mas continuou olhando em todas as direções tentando encontrar Normani ou seu carro. Tudo que conseguiu visualizar foi Lauren com a família perto dos degraus, para onde seguiu imediatamente.

- Cadê ela? – questionou se sentindo desesperada, logo que se aproximava da amiga, que se afastou dos pais e deu alguns passos até ela. – Lauren, cadê a Normani?

- Ela foi embora uns minutos antes de acabar.

- Como assim ela foi embora? – com pesar, Lauren deu de ombros.

- Sinto muito, DJ, ela só foi – Dinah sentiu um soco muito bem dado no seu estômago que só serviu pra sua cabeça girar mais.

- Ok, eu acho que vi um fantasma ou Normani Kordei realmente estava aqui? – Camila se aproximou agitada.

- Ela estava, mas já foi – Lauren explicou para a namorada que a olhou confusa.
- Como assim?

- Você que a trouxe aqui, Laur? – a branquela assentiu para a loira. – Por que? Ficou doida?

- Pra vocês se verem e você desistir dessa palhaçada de terminar com ela. Você queria que ela voltasse, lembra? Imaginei que a única forma de se verem, desde que sua mãe pediu para te vigiarem mais na escola e você não pode sair, era vindo aqui. É o único momento que sai do quarto, DJ, e ela não podia simplesmente bater na sua porta.

- Ela podia ter sido reconhecia!

- Ah para, ela estava bem disfarçada.
- Essa era sua ideia, Lolo? Achou que elas fossem correr para os braços uma da outra? – Camila cruzou os braços para a namorada.

- E você não quis fazer isso, Dinah? – a polinésia respirou fundo sabendo que a amiga não estava tão errada.

- Sei que quer ajudar, Laur, e agradeço muito por isso, mas essa não é a melhor forma.

- Se ela aceitou vir até aqui, por que foi embora?

- Eu não sei, Camz, ela só disse que precisava ir e que não era uma boa ideia – novamente, Dinah sentiu como se levasse uma pancada. Se Normani havia desistido e se tocado de que não era uma boa, talvez houvesse desistido delas também. Por mais que fosse quem terminou e achasse que tenha sido a melhor decisão, imaginar Normani sem ela doía mais que tudo. – DJ, você está bem? Está pálida.

- Estou bem, eu só... – suspirou fundo sentindo seu estomago se revirar. – Não esperava ver ela, só isso.

- Meninas! – Alejandro chegou perto delas interrompendo a conversa. – O almoço será lá em casa hoje, vamos? Sinu convenceu seus pais a irem, Dinah. Sua família também vem, Lauren?

- Acho que sim, vou chamar – Lauren deu um sorriso fechado e se retirou indo até os pais.

Para a maioria, o domingo foi animado. O almoço foi servido em uma mesa externa no jardim traseiro dos Cabello, único lugar da casa em que caberiam todos. Funaki, Lauren e Camila se divertiam assistindo vendo o contraste entre os pais Hansen, muito conservadores, e os Jauregui, super liberais, enquanto os Cabello ficavam no meio tentando mediar e deixar o clima confortável.

Contudo, para Dinah, o dia parecia mais pesado que o normal. Seu corpo doía, mal conseguiu se alimentar e se sentia mais fraca do que nos últimos dias. O tempo todo, como sempre, sua mente pensava em Normani e ela desejava, mais do que qualquer outra coisa, estar com a mulher. Quando as crianças já corriam pela casa e a sobremesa se preparava para ser servida, resolveu pedir licença da mesa e se acomodou no chão da varanda, tentando se isolar por um momento e colocar os pensamentos em ordem. Chegou até a sentir falta da anestesia que rondava seu corpo até aquela manhã e a forma como estava desligada, pois, o despertar pela presença da ex não era uma das sensações mais confortáveis.

- Che, está tudo bem? – Dinah tirou os olhos do chão vendo Camila e Lauren paradas na sua frente.

- Não me sinto muito bem.

- O que você tem, tiger? – Lauren perguntou enquanto sentavam ao lado da loira, a deixando no meio.

- Meu corpo doí e minha cabeça parece que vai explodir.

- Será que você está doente de novo? – Camila a observava preocupada e Dinah apenas deu de ombros sem conseguir se importar.

- Sei lá – deitou a cabeça no ombro da melhor amiga que logo deu um salto com o contato, assustando as outras duas.

- Você ta muito quente, DJ! – levou a mão a testa da garota. – Com certeza está com febre, vou pegar um termômetro.

- Mila, não prec... – parou a frase ao ser ignorada pela latina que só levantou e entrou na casa.

- Precisa sim – Lauren imitou o gesto da namorada para conferir a temperatura. – Você não ta bem, vem deitar um pouco no sofá e não discute comigo.

Lauren levantou puxando Dinah junto, a qual, no segundo que ficou de pé, se sentiu tão tonta que precisou ser amparada por Lauren que segurou sua cintura até chegarem na sala. A mais nova praticamente caiu deitada no sofá e levou as mãos para cabeça que latejava.

- O que está acontecendo comigo, Laur?

- Talvez seja melhor ir no hospital – respondeu sentando na mesinha de centro e inclinando o corpo para as deixarem próximas. – É a segunda vez que fica mal em menos de 5 dias.

- Hospital custa dinheiro e eu não preciso disso, nunca fico doente – deitou de lado para ficar de frente a Lauren, mas aquele simples movimento fez tudo em volta girar outra vez e seu estomago reclamar. – Acho que vou vomitar.

- Talvez não precise mesmo, não sei se médico resolve seu problema.

- O que quer dizer?

- Não acho que esteja doente fisicamente. Você está doente de amor, Dinah.

- Pelo amor de Deus, não diga isso, porque preciso melhorar.

- Ok, deixa eu ligar pra Normani – respondeu divertida e Dinah arregalou os olhos.

- Não brinca assim comigo, é capaz de eu deixar e não posso. Normani merece mais, muito mais.

Antes que Lauren pudesse abrir a boca para expor o quanto achava aquilo uma grande besteira, as meninas foram, mais uma vez, interrompidas por Alejandro que chegou na sala e foi direto sentar ao lado da nora.

- O que você tem, DJ? Camila gritou da janela do quarto dela perguntando onde está o termômetro, porque você estava passando mal.

- Sua filha é escandalosa, tio.

- Ela está enjoada, quente como uma fogueira, com dor no corpo e na cabeça e mais tonta do que já é.

- Não sabia que era possível Dinah ficar mais tonta – Alejandro riu sendo acompanhado por Lauren, enquanto a mais nova se sentiu pior ao revirar os olhos. As risadas foram interrompidas por Camila descendo as escadas correndo e colocando o medidor na amiga. Enquanto Dinah apertava os olhos tentando não vomitar, os outros três começaram a conversar. – Isso deve ser fraqueza, essa menina não come.

- Eu tenho outra teoria.

- O que, Lolo? – Camila perguntou e viu um sorriso sapeca aparecer nos lábios da namorada.

- Isso é amor.

- É, mulher deixa a gente doente mesmo. Vocês três deveriam tomar mais cuidado – Alejandro brincou fazendo as duas rirem e Camila se sentir imensamente feliz em ver seu pai tão bem com sua sexualidade que já fazia até piadas.

- O que está acontecendo aqui? – uma Milika irritada interrompeu a conversa entrando na sala. – Para de drama, Dinah, você não tem nada.

- Deixa a menina, Milika, ela já está mal o suficiente – Alejandro respondeu sem mais nenhum pingo de paciência para as atitudes da comadre.

- Está nada! Isso é drama, ela só quer atenção. Estava acostumada a ser a queridinha da família e agora que estragou isso quer apelar.

- Ok, chega! Você não vai falar assim com a minha afilhada dentro da minha casa! – o homem se levantou e mais uma discussão começou.

Quanto mais eles brigavam, pior Dinah se sentia. Em pouco tempo, a sala já estava cheia e o barraco montado. Mais uma vez, ela era o centro das atenções e precisava ouvir sua mãe cuspir xingamentos sobre si. Os tons das vozes aumentaram e suas dores e tonteira também, mas a briga só parou quando não conseguiu mais segurar e metade do seu corpo, em um espasmos, foi para fora do sofá e ela vomitou no chão, levando Camila e Lauren darem um salto para trás no susto. Talvez sua única opção restante fosse se afundar.


* * *


- Ei, filha! Está melhor? – Derrick tirou os olhos do livro ao ver uma Normani sonolenta entrar na sala coçando os olhos.

- Não sei, parece que um caminhão passou por cima de mim – respondeu sentando ao lado do pai no sofá e se aconchegando no peito do homem que a abraçou. – Cadê a mamãe?

- Está lá atrás, na academia. Conseguiu dormir? Você chegou aqui péssima – lembrou do final da manhã quando a filha chegou na casa com os olhos cheios e vermelhos e ele precisou ficar ao seu lado até que adormecesse.

- Até que sim, estava com saudades do meu antigo quarto.

- Ele estará aqui sempre que você precisar e do jeitinho que deixou quando foi embora –beijou o topo da sua cabeça a apertando mais. – Quer me contar agora o que aconteceu para aparecer aqui chorando hoje de manhã?

- Dinah terminou comigo – respondeu após soltar um suspiro longo. – Então fui vê-la hoje na Igreja, único lugar pra onde ela ainda pode sair. Não sei o que estava pensando, mas achei que se ela me visse causaria algum efeito.

- E causou?

- Ela só me viu de longe e pareceu abalada, mas vim embora antes que conseguíssemos nos aproximar.

- Por que? Se já estava lá mesmo.

- Ela estava machucada, papa, e não era pouco. Os olhos estavam roxos e tinha alguns cortes no rosto, ou seja, com certeza, tomou uma surra daquelas e eu não sei o porquê. Vê-la daquela forma me fez pensar que os motivos por ela ter terminado comigo podem ser uma droga, mas a ação não.

- Como assim? Quais foram os motivos?

- Ela disse que eu merecia mais do que ela podia me dar com isso de nos escondermos, mas a realidade é que é arriscado. Os pais só descobriram porque ela estava na cama comigo, ela já brigou com a mãe por mim, então, talvez, se eu me manter longe as coisas fiquem mais calmas e ela pare de apanhar. Quando a vi não achei que valesse tanto a pena mais a colocar em risco.

- Não sei se ela está totalmente errada, você realmente merece mais, filha. Tudo isso é um absurdo, não podem continuar a agredindo dessa forma. Precisa haver algo que possamos fazer.

- Além de ir na justiça, o que ela deixou claro que não quer, eu já pensei em tudo, papa.

- Sinto muito que esteja passando por isso, sinto ainda mais por Dinah. Nem imagino o inferno que esteja sendo para ela.

- Eu também sinto, é uma droga não poder tirar ela disso. Pior que acho que o senhor estava certo.

- Sobre o que?

- Eu a amo, papa – respondeu fazendo com que uma risadinha subisse pela garganta do mais velho.

- É claro que ama – deixou um beijo na testa da filha desejando que pudesse fazer qualquer coisa para tirá-la daquela dor.

Infelizmente, Derrick sabia, até mais do que todos, que situações ruins eram necessárias na vida e, nem mesmo sua filha, poderia escapar disso. Tudo que ele podia fazer era apoiar e foi o que fez até ela ir para seu apartamento no final da noite.

Normani acabou se jogando na rotina massiva do dia a dia, se dedicando 100% ao trabalho. Sabia que manter sua cabeça ocupada era o melhor a fazer, então se enchia de tarefas, desde o segundo que acordava até o que dormia, querendo evitar pensar em Dinah. Após explicar para Lauren o motivo de ter ido embora e agradecido pela tentativa de ajuda, evitou ao máximo até falar sobre a polinésia, mesmo que em alguns dias não resistisse e acabasse perguntando por notícias. Ainda assim, nada era o suficiente para excluí-la dos seus pensamentos. Dinah fazia parte de si, possuía seu coração e nem todo trabalho do mundo poderia mudar isso. Era a primeira coisa que vinha na sua cabeça quando abria os olhos pela manhã e última quando os fechava. Nem mesmo a inconsciência do sono ajudou, pois seus sonhos eram todos com a dona do par de olhos castanhos.

Quando o próximo final de semana chegou, ela estava devastada. Trabalhou o sábado inteiro e, quando a noite caiu, se preparou para, pela primeira vez em muito tempo, passar deitada no sofá, com muita comida e os filmes mais tristes que pudesse encontrar. Seu planejamento teria sido perfeito, se Ally, Chris e Alysha não tivessem batido na sua porta no segundo em que ia sentar no sofá.

- Você não pode ficar nesse estado por causa de mulher de novo, Mani – Ally disse no instante em que Normani abriu a porta e olhou confusa para eles.

- E, definitivamente, você não vai comer pipoca com sorvete, é nojento – Chris encarava o pote que ela segurava em mãos.

- Vou escolher sua roupa e vamos para balada – Alysha disse a empurrando levemente e indo direto para seu quarto.

- Eu não vou para balada nenhuma – afirmou para os dois que, com sorrisos debochados, apenas ignoraram e entraram no apartamento.

Já se passava das 2 horas da manhã quando Normani estava completamente bêbada, dançando e rindo animada com os amigos. No momento em que uma mulher se aproximou para cumprimentar Chris, seus olhos se fixaram em seu corpo e, quando percebeu, andavam de mãos dadas para o pequeno corredor que dava na área de fumantes. Não sabia seu nome e mal tinha reparado nela, mas era bonita e ela precisava daquilo.

Antes que chegassem ao final, ela prensou o corpo da mulher contra a parede. Sua cabeça girava por todo álcool e seu corpo impaciente clamava por sexo, mas, no segundo que os lábios iam se tocar, a imagem de Dinah sorrindo veio com tudo, a fazendo desviar e sentir os lábios da outra começarem a beijar seu pescoço. Não eram beijos delicados e suaves como o de Dinah, mas sim rudes e apressados. As mãos já invadiam a barra do seu vestido e só podia pensar que também não eram como as de Dinah. Meses atrás ela amaria a rapidez com que chegaram aquele ponto, os toques decididos e firmes, mas, agora, só podia pensar em Dinah. Decidida em tirar a ex de sua mente, empurrou mais a mulher contra a parede e segurou seu rosto, porém, mais uma vez, a lembrança de Dinah a impediu de concretizar o beijo.

- O que foi? – a mulher perguntou confusa e Normani apenas abriu a pouca sem conseguir emitir nenhum som. – Está tudo bem?

- Sim! Está tudo bem, é só que eu não posso fazer isso.

- Fiz algo errado? Porque...

- Não, você fez tudo muito certo – garantiu a olhando profundamente. – Sou eu, sabe? Parece que estou traindo minha ex.

- Bom, como você mesma disse, é sua ex. Não tem como trair ex. É só um beijo, Normani. Acredite, estou há muito tempo querendo te beijar.

- Nós nos conhecemos? – arqueou uma sobrancelha.

- Você não me conhece, mas quem não conhece Normani Kordei? – riu.

- Me desculpe, mas realmente não posso fazer isso.

- Quer ir tomar um drink então?

- Obrigada! – negou com a cabeça e se aproximou da mulher deixando um selinho forte em seus lábios. – Você é linda e, com certeza, tem muitas pessoas aqui querendo um drink e até mais contigo. Eu não sou uma delas, desculpa. Pode, por favor, não comentar sobre isso com ninguém?

- Não se preocupe, não vou.

- Obrigada – sorriu uma última vez antes de dar as costas e sair andando.

Normani caminhou até os amigos, pegou seu celular com Chris, se despediu rapidamente e, sob protestos, foi embora para casa. Estava decidida a, assim que amanhecesse, ir atrás de Dinah novamente e nada mais tiraria isso de sua cabeça. Ela precisava de Dinah e não podia fugir ou negar.

Quando acordou pela amanhã com o despertador tocando, lembrou que tinha o programado antes de cair bêbada na cama e da decisão que tomou. Podia ter sido um pouco de influência do álcool, mas não deixava de ser assertiva. Assim, tomou um banho rápido, vestiu uma calça justa preta, um moletom da mesma cor com capuz, óculos escuro e o primeiro tênis que encontrou, antes de fazer o caminho já conhecido até a Igreja da comunidade de Dinah.

Ao chegar no local, que já tinha a entrada vazia, foi até a parte de dentro e sentou no canto do último banco. O culto parecia estar no meio, mas nem sequer deu atenção para o que acontecia, estando mais preocupada em encontrar Dinah. Não demorou até ver os cabelos loiros e agradeceu por, dessa vez, estar sentada ao lado das irmãs e Siope nem estar por perto. Ficou a observando fixamente e repensando qual atitude tomar, não queria simplesmente fugir como havia feito semana passada, mas também não podia fazer algo que gerasse grandes atritos. Na realidade, nem conseguia saber qual era seu objetivo certo ali, mas sabia que queria Dinah e que, talvez, Lauren estivesse certa. Era hora de tomar atitudes drásticas, partir para o contra-ataque e aproveitar o único lugar em que sabia que a garota estaria e poderia tentar chegar até ela. Pela primeira vez na vida, Normani não tinha um plano, não tinha cada passo planejado e calculado, ou um discurso pronto. Apenas apareceu para o amor e torcia fortemente para que ele a segurasse dessa vez. Podia ser idiota de acreditar novamente no sentimento, ela sabia que não era nem de longe a decisão mais inteligente que tomou, mas não sentia que podia impedir. O amor era o precipício, mas também a mão que empurrava e impedia que fugisse da queda. 

Enquanto refletia, aguardou até perceber que a celebração chegava ao fim. Apenas então, levantou e foi para o lado de fora disposta a esperar Dinah, sem querer causar confusão dentro da Igreja. Não era uma pessoa religiosa, muito pelo contrário, mas mantinha um mínimo de respeito por todas e quaisquer divindades existentes. Normani se apoiou na lateral do seu carro, estacionado bem em frente à Igreja, apoiando as costas perto da porta do motorista, cruzou as pernas e os braços, ajeitou o capuz e aguardou.

Quando o culto acabou, a movimentação de pessoas saindo e parando para conversar foi grande, por isso, tentou manter os olhos na porta esperando quem realmente importava. Demorou longos minutos e o local já estava até esvaziado quando Dinah foi uma das últimas pessoas a sair. Ela apareceu caminhando entre Lauren e Camila e com as famílias Hansen e Cabello um pouco atrás. A primeira coisa que Normani reparou foi seu rosto com os machucados parecendo cicatrizarem e os roxos menores, demonstrando que não havia novos hematomas e, provavelmente, sem novas surras. Agradeceu por isso, enquanto a observava caminhar distraidamente até os degraus em um vestido longo, florido e com duas pequenas fendas em cada lateral que marcavam a cintura.

No momento em que os olhos castanhos encontraram os seus, a dona deles parou subitamente e abriu a boca em choque. Se encararam por um instante que fez Normani até esquecer de respirar. Em um impulso, descruzou os braços e deu um passo para frente. Não sabia o que fazer, nem imaginava o que se passava na cabeça da outra, mas começou a torcer para que Dinah viesse até ela, para que ainda fosse tão apaixonada quanto antes e que não a ignorasse ou fugisse.

Do topo, Dinah sentia seus batimentos acelerarem e subirem pela boca ao ver a presença do outro lado da rua. Normani havia voltado por ela e a aguardava, então, talvez não tivesse desistido e o amor fosse recíproco. Entretanto, estavam naquela situação novamente e continuava não fazendo ideia de como agir. Sua parte racional e covarde a mandava ignorar e seguir o caminho para casa, como se nada tivesse acontecendo, focar nas decisões que tomou e as manter, enquanto seu coração, mais do que nunca, quis que corresse para os braços da mulher, se desculpasse por ter terminado e fizesse o que fosse possível para a ter de volta. Nunca na vida se sentiu tão confusa.

- DJ, está tudo bem? Você tá pálida – Lauren perguntou preocupada.

- Meu Deus! Ela voltou – Camila pronunciou ao ver o motivo da súbita parada da melhor amiga, levando a namorada a olhar para mesma direção e sorrir ao entender.

- Isso! – a menina dos olhos verdes comemorou sorrindo.

- Ela voltou... – Dinah pronunciou com a voz fraca, como se a ficha ainda não tivesse caído, ainda sem desviar o olhar do par de olhos pretos.

- Sim! E o que vai fazer? – Lauren insistiu impaciente com a cara de quem viu fantasma da mais nova. – Você está bem?

Dinah olhou para amiga rapidamente abrindo a boca algumas vezes sem saber o que responder, ou pensar. Acabou apenas soltando uma risada nasal e voltando a si.

- Acho que nunca estive melhor – constatou mandando a racionalidade para puta que pariu e dando o primeiro passo em direção a Normani.

Antes que pudesse dar o segundo, seu pulso foi segurado com uma força enorme e puxado para trás, a fazendo virar a cabeça, ver a mãe irritada e o resto da família também a encarando.

- Nem pense em fazer isso – Milika sussurrou furiosa e apertou mais o pulso da filha. – Não me faça passar essa vergonha aqui e agora.

- Mãe... – engoliu em seco ao ser interrompida.

- Eu não quero saber, Dinah! Não sei o que aquela mulher faz aqui, mas você vai ignorar e andar direto para casa.

- Sinto muito – negou com a cabeça. – Não posso fazer isso.

Em um movimento incrivelmente rápido, Dinah puxou o braço, se desfazendo do aperto da mãe, segurou a barra do vestido e, na frente de parte da comunidade da Igreja, começou a correr até Normani. Ela desceu as escadas deixando todos de boca aberta, atravessou a calçada em dois passos e foi direto para o outro lado da rua em uma corrida de poucos segundos. Normani a observou sorrindo e se preparou para receber seu corpo. No instante em que Dinah pulou contra ela, seus braços apertaram as costas com força e sentiu seu pescoço ser envolvido. A mais nova apenas sentiu a leveza dos pés ao saírem centímetros do chão e já acreditou que estava no paraíso.

- Me desculpa! Me desculpa por ter terminado com você! Me desculpa por ter tido medo! – sua voz embargou contra os cachos negros.

- Está tudo bem, está tudo bem – Normani garantiu a apertando mais.

Sem se importar com mais nada, Dinah afastou a cabeça minimamente e segurou o rosto da mulher que amava entre as mãos selando seus lábios. Nesse momento, os pastores já assistiam da porta, todas as pessoas estavam de boca aberta, algumas horrorizadas, outras chocadas demais para definir. Ninguém esperava que a doce, tímida e quieta Dinah protagonizasse esse espetáculo, nem pensavam que ela tivesse coragem para tal. Contudo, nada era maior do que a raiva e vergonha que Milika sentiu.

- Dinah! – gritou com ódio dando um passo em direção aos degraus e chamando atenção de todos, até das mulheres que se beijavam, e fazendo a olharem. – Volte aqui agora!

- Madrinha, por favor, não faça nada – Camila se pôs na frente da mulher em desespero.

- Me tira daqui, por favor – Dinah implorou a Normani que apenas assentiu e segurou sua mão a levando até o lado do passageiro.

- Sai da minha frente, Camila – Milika desviou da adolescente e começou a descer o mais rápido que podia ao ver que a primogênita estava prestes a ir embora. – Dinah! Não ouse entrar nesse carro!

Normani abriu a porta e enfiou Dinah dentro do veículo, antes de puxar o cinto e se enrolar um pouco para o colocar nela, algo que nem faria se não estivesse com a cabeça tomada pelo nervoso.

- Eu estou bem, não precisa disso! – Dinah garantiu desesperada pelo medo que a mãe as alcançasse e puxou o cinto para si, fazendo com que a outra o soltasse e batesse a porta para voltar para o outro lado.

Por sorte, um carro passou no segundo em que Milika atravessaria, a obrigando a recuar e atrasando seus passos, dando tempo suficiente para que Normani entrasse no carro. Com o nervosismo, teve um pouco de dificuldade em encaixar as chaves, mas, assim que deu partida, tudo que sentiram foi um soco da mãe na traseira antes que dirigisse para longe.

- Dinah! Volte aqui agora! – a polinésia se encolheu ouvindo os gritos da mãe e olhou para trás uma última vez, observando todos que deixava para trás antes de fechar os olhos com força.

Everlasting Love - NorminahOnde histórias criam vida. Descubra agora