Capítulo 2 - Ela

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Escrita com Nm478xP


"Ela talvez seja o rosto que eu não posso esquecer (...)"


Já se passavam das 7 da manhã em Londres, as amplas janelas de vidro do hotel mostravam uma bela visão da cidade europeia, terra da rainha. Os olhos verdes de Estevão observavam atentamente o clima nevoado que havia lá fora, isso até sentir algo cutucando suas pernas. Olhou para baixo e viu Felipe com a cabeça pendida para o lado, sentando o olhando em expectativa. O husky siberiano sabia que aquela era a hora de seu passeio matinal diário e levantou-se animado com o rabo abanando quando viu seu dono se aproximando dele para por sua coleira de couro com uma medalha prateada que mantinha seu nome gravado. Estevão pôs seu casaco escuro e grosso acompanhado de um cachecol para se proteger contra o frio lá fora e logo prendeu a guia na coleira de Felipe saindo do quarto e passando seu cartão na porta. Caminhou até o elevador recebendo o olhar de alguns dos hóspedes que comentavam sobre o cachorro. Era divertido as vezes que via algum cliente reclamando com um funcionário que o "homem da cobertura" tinha um cachorro consigo e mais divertido ainda era a cara que faziam ao saber que sendo dono da rede de hotéis o senhor San Roman poderia manter em sua suíte até mesmo vinte cachorros se quisesse.

Às vezes se irritava com aquelas pessoas. Felipe sempre fora um cão tranquilo e pacífico exceto quando via seu dono agitado. Estevão se lembrava perfeitamente do dia em que encontrou o husky. Caminhava sozinho por uma rua pouco movimentada da cidade com as mãos nos bolsos do casaco para aplacar mais o frio, mas parou ao notar um pedaço de papelão se mexendo no meio da rua. Cuidadosamente tirou a caixa e viu o pequeno filhote de pelos pretos e brancos um pouco encardidos pela sujeita, olhou para os lados procurando o dono daquele animal e estranhando um cachorro de raça tão bonito abandonado daquela forma. Sem resposta por um possível dono levou o filhote para seu hotel e depois de pôr até mesmo um anúncio nos jornais em busca do proprietário da bola de pelos decidiu que o lugar de Felipe era ao seu lado.

Estevão era praticamente puxando pelo cão de grande porte que estava completamente animado para seu passeio. Sentou-se no banco de sempre daquela praça e soltou Felipe de sua guia o vendo farejar cada canto que andava e começar a correr brincando com outros cachorros das pessoas que costumavam a frequentar o local. Descansou suas costas no apoio do banco suspirando, já era uma rotina estar sempre ali sozinho com seu fiel escudeiro. Uma rotina que logo mudaria, já que sua passagem e malas já estavam prontas para embarcar o mais rápido possível para o México. Depois de tanto tempo na Europa percebeu que era hora de mudar de ares. Esteve lá por tanto tempo desde os 5 anos, quando seu pai decidiu expandir os negócios da família criando uma filial da rede de hotéis San Roman fora do México e mais tarde uma rede de resorts também. Agradecia todos os dias pelo já falecido Sr. San Roman ter sido tão patriota a ponto de não querer que a matriz, a primeira e mais antiga das redes hoteleiras se mudasse para Londres. Esse era mais um pretexto para deixar a cidade.

Aos olhos de Estevão aquela era uma cidade cinza. Vazia, fria e solitária tanto quanto a infância que passou nela. Cresceu vendo que com a mesma proporção que o negócio expandia, seu pai esquecia de como ser um verdadeiro pai e marido. Foram inúmeras as vezes que quando criança se sentia preso nas paredes daquele hotel enquanto via sua mãe cada vez mais obcecada por roupas caras e procedimentos de beleza e assim foi por muito tempo. Ele a viu chorar e a viu morrer, assim como seu pai. O jovem Estevão de 12 anos atrás acreditava que tinha que consertar algo quem nem mesmo era sua culpa.

- Novamente divagando? - perguntou o homem jovem de cabelos e olhos castanhos sentando-se ao seu lado.

- Pensando, meu amigo. - Suspirou Estevão.

Leve-me ao Seu CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora