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𝗧𝗘𝗥𝗖̧𝗔-𝗙𝗘𝗜𝗥𝗔, 𝟭𝟬 𝗱𝗲 𝗠𝗔𝗜𝗢

Eu finalmente consegui sair da clínica de reabilitação.

— Da próxima vez, e por favor, que não tenha uma, leia os papéis antes de assinar - repreendeu Maelle, antes de se despedir de mim.

Posso dizer que nos tornamos amigas, e que tenho uma dívida de gratidão eterna com ela. Além de convencer Drª. Hetty a telefonar para minha irmã, que confirmou o fato de eu não ser viciada em drogas, ela também cuidou de Duke enquanto eu estava internada – conversou com o veterinário para se certificar de que a cirurgia ocorreu bem e foi até a clinica para pegá-lo.

Me senti extremamente irresponsável. E se não houvesse alguém como ela para cuidar do meu cachorro? Além disso, não contei a Keiko ou Calum – as únicas pessoas que sabiam que eu estava viajando pelo país –, que eu iria me internar em uma clínica de reabilitação.

Pensei que conseguiria sair de lá antes que notassem a minha falta, mas eu estava errada. Fiquei incomunicável durante quase duas semanas, e todos os telefonemas foram direto para minha caixa de mensagens.

Antes de voltar para a estrada, estacionei em uma lanchonete agradável na saída da cidade para tomar limonada com kiwi e comer um sanduíche de frango. Depois de respirar fundo, disquei o número de Keiko, que demorou um pouco para me atender.

— Oi, sou eu - comecei, mas ela não respondeu — Olha, eu sei que não deveria ter feito as coisas desse jeito, mas isso não vai se repetir... me desculpe!

Desculpe? - sua voz era alta e agressiva. — Isso é tudo o que você tem a dizer?

— Eu não sei o que mais poderia dizer, foi uma estupidez fazer o que eu fiz e estou arrependida. Me desculpe!

Você achou que não precisava contar a mim ou a alguma outra pessoa que estava se internando em uma clínica? Falsificando consumo de drogas! Você achou, que se desaparecesse por dias, ninguém notaria?

— Não, mas não pensei que ficaria por tanto tempo, e...

Esse é o seu problema, Shiori! - ela gritou. — Você não para pra pensar, pelo menos não nos outros.

Percebi que não tinha o direito de ficar zangada com ela, especialmente naquele momento. Mas eu detestava o hábito que ela tinha de sempre se intrometer nas decisões que eu tomava sobre minha própria vida, como se fosse responsável por mim. Ela parecia a mamãe.

— Já sou velha o bastante para tomar conta do meu próprio nariz! Por que você se importa tanto com as coisas que faço ou deixo de fazer?

Por que você se importa tanto com o que as outras pessoas pensam de você?

— Eu não me importo com isso - neguei, mordendo o último pedaço do meu sanduíche.

Você se importa, sim - ela riu, ironicamente. — Se não se importasse, não ficaria obcecada com esses seus números idiotas - soltei um longo suspiro, sem ter mais o que dizer. — As suas ações afetam as outras pessoas, Shiori... - prosseguiu Keiko. — Imagine como Calum e eu nos sentimos, você não faz ideia do que causou.

— Me desculpe, Keiko - eu repito. — Eu me arrependo.

Quando encerrei a chamada, estava totalmente sem fôlego, mas não me dei ao luxo de chorar. Ainda tinha outra ligação importante para fazer.

Com o celular ainda nas mãos, liguei para Calum. Pelas trinta e sete mensagens que me enviou na última semana, ele parecia meio fora de si.

No primeiro toque, ele atendeu.

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