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𝗗𝗢𝗠𝗜𝗡𝗚𝗢, 𝟭𝟱 𝗱𝗲 𝗠𝗔𝗜𝗢

— Não posso gastar o que restou das minhas economias no salão, o que eu vou fazer com as minhas unhas? E o meu cabelo!? - comentei em voz alta, mas falando comigo mesma, concentrada em ensaboar copos de vidro.

Na sexta-feira, enquanto assistimos ao crepúsculo pela janela do trem vazio na volta para casa e comíamos cachorros-quentes gordurosos com Duke cochilando entre nós; Calum e eu chegamos a conclusão de que para que as coisas não ficassem estranhas e pudéssemos manter a relação amigável que tínhamos a distância – o diálogo no vestiário elevou um pouco as coisas –, deveríamos passar um pouco mais de tempo livre juntos. Então, eu estava ajudando-o a fazer faxina.

— Posso pintar suas unhas! - Calum gritou do banheiro.

— Não, não pode! - enxagüei alguns talheres, respirando fundo. — Ah, mas não importa também... não tenho sequer alguém pra me acompanhar, a situação da minha cutícula vai ser o que menos importa pra minha mãe.

— Eu posso ir com você - ele apareceu na cozinha, trazendo um balde com água e produtos de limpeza.

— Jura? - perguntei, surpresa.

— Sim, eu sou oficialmente um convidado, de qualquer maneira - ele deu de ombros, me empurrando para guardar o desinfetante embaixo da pia. — Não seria tão ruim assim acompanhar você.

Durante o restante da tarde, com o apartamento devidamente limpo, nós dois aproveitamos a companhia um do outro. Com um pote de sorvete de baunilha, assistíamos aos primeiros episódios de Shingeki no Kyojin, – para que ele pudesse conhecer meu ex-namorado, Erwin Smith – e quando nos cansamos de acompanhar legendas, disputamos para ver quem conseguiria olhar nos olhos do outro por mais tempo sem rir, para compensar todas as conversas que tivéssemos pelo celular.

— Isso vai levar horas - comentei.

— Bem, hoje eu tenho a noite toda. E você?

— Não tenho apenas a noite toda. Tenho amanhã e o dia seguinte, e os dias que virão depois - Calum revirou os olhos. — É sério! Não tenho emprego, não tenho namorado, não tenho nada... só tenho um cachorro!

— Sempre tão melodramática - ele resmungou.

Quando a noite caiu, insisti em preparar os rolinhos primavera que meu pai me ensinou, e depois de comermos, nos deitamos no escuro, em uma distância segura – cada um em uma ponta do sofá –, enquanto dividíamos uma garrafa de cerveja barata.

Eu contei a ele sobre as sessões de terapia na clínica de reabilitação, sobre a criança que bateu no meu carro, sobre minhocas, e ele me falou mais sobre sua cidade natal e sua irmã mais velha, Mali-Koa.

— Não, não, não... - protestei, enquanto ele me contava sobre suas viagens como jogador de futebol. — Eu quero saber mais sobre sua vida amorosa, quero ouvir os detalhes sórdidos sobre suas ex-namoradas!

— Nããão! - negou Calum, rindo. — Eu me recuso a falar sobre esse assunto.

— Tudo bem, então - olhei ansiosa para ele. — Que tal me falar sobre a sua namorada atual? Ela não se importa que você passe tanto tempo comigo?

— Eu não tenho namorada - ele virou um gole grande de cerveja e eu estreitei os olhos.

— Ah, por favor, não tente me enganar! - cutuquei sua panturrilha. — Eu vi ela no corredor do prédio e seu celular 'tá tocando sem parar desde manhã - quando disse isso, a tela do celular se acendeu, indicando outra chamada.

Sorrindo, ambos tentamos pegar o aparelho ao mesmo tempo e a minha mão acabou alcançando-o primeiro. Enquanto examinava as ligações que ele recebeu recentemente, eu li os nomes em voz alta.

◞ hᥲᥕhᥱ  !Onde histórias criam vida. Descubra agora