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𝗦𝗘𝗫𝗧𝗔-𝗙𝗘𝗜𝗥𝗔, 𝟭𝟱 𝗱𝗲 𝗝𝗨𝗟𝗛𝗢

Na noite de toda a confusão, quando decidi dar as costas para Calum e ir embora, eu não sabia ao certo o que fazer a seguir – bem, de certo modo, eu até sabia. Era nítido que não deveria chorar, mas era só.

Seria o amor, motivo o bastante para matar alguém?

Pois era como eu me sentia, como se estivesse morta. Foi mais que difícil deixá-lo para trás, como se realmente tivesse-o perdido e com ele, toda a ideia de um futuro feliz.

Para piorar as coisas, quando eu virei a esquina e vi que Ashton estava sozinho, esperando por mim, encará-lo nos olhos fez meu estômago se revirar, eles transpareciam sua raiva, mas acima de tudo, estampavam a culpa, sem nenhum vestígio de arrependimento.

Naquela noite, nós não trocamos nenhuma palavra dentro do táxi, enquanto voltávamos para o apartamento dele. Simplesmente ficamos em silêncio, de mãos dadas, mas cada um olhando para um lado, para as ruas iluminadas, pelas janelas do carro.

E as coisas continuaram esquisitas desde então.

Quando chegamos, ele não demorou para se deitar, e eu passei a noite recordando os acontecimentos.

Calum se desentendeu com Ashton, porque segundo ele, eu estava sendo traída. No calor do momento, nós nos beijamos – eu ainda podia sentir o calor de seus lábios nos meus, ardendo como fogo. Ele pediu para que eu terminasse com Ashton e que ficássemos juntos, mas preferi evitar um coração ainda mais partido.

Depois de passar tempo demais repassando as imagens na minha cabeça, tentei me lembrar se havia visto algo suspeito entre Ashton e a garota que estava sentada no balcão, perto de nós, mas não consegui.

A verdade, era que eu quase não reparei nos dois, mal me lembro como era o rosto dela, porque a única pessoa em quem mantive os olhos, foi Calum.

Relembrar o que aconteceu no fim da noite, logo me trouxe lembranças de Keiko à respeito de Ashton e Payton, e isso me fez pensar no telefonema estranho em que ele me disse estar conversando com Andy, comentando que Sarah não estava se sentindo bem.

Depois de ter certeza de que ele estava dormindo, fui atrás de seu celular e antes que eu pudesse me impedir, comecei a examinar as ligações que ele fez e recebeu naquela noite. Senti ódio de mim mesma por fazer aquilo, porque assim como checar correspondência alheia, eu estava invadindo sua privacidade, era uma atitude tóxica, mas meu instinto me dizia que havia algo a mais naquela história e ele não teria coragem de me contar.

Embora eu estivesse preparada para descobrir qualquer coisa, não encontrei nada – o que, de certo modo, foi o pior que poderia acontecer. Todo o histórico de chamadas no telefone de Ashton havia sido apagado.

Naquele ponto comecei a imaginar se eu não estaria apressando as coisas, criando situações inexistentes, afinal nós nos conhecíamos a quase dez anos, como ele poderia trair minha confiança com tanta facilidade?

Pensar nisso me fez voltar a pessoa que mais confiava no mundo, de novo. Eu estava muito preocupada durante a minha viagem, imaginando que ia me sentir mal em relação a Hood quando voltasse, com vergonha, constrangida e humilhada, mas o que aconteceu foi o oposto.

Acabei dormindo no sofá naquela noite. Quando acordei, na manhã seguinte, estava me sentindo um pouco melhor. As coisas ainda estavam fora do lugar entre nós, mas sem toda aquele álcool no sangue, foi um pouco mais fácil lidar com a situação.

Nós decidimos tomar o café da manhã em uma cafeteria ali perto, e eu me limitei a um expresso forte e sem açúcar. Quando nosso pedido chegou, voltamos a conversar, mas ainda sem mencionar nada sobre a noite anterior.

◞ hᥲᥕhᥱ  !Onde histórias criam vida. Descubra agora