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𝗦𝗘𝗫𝗧𝗔-𝗙𝗘𝗜𝗥𝗔, 𝟬𝟮 𝗱𝗲 𝗔𝗕𝗥𝗜𝗟

"Shiori, é a mamãe... escute, eu espero que esteja bem por Keiko ter ficado noiva antes de você. Mal posso esperar pra vê-la hoje à noite. Até mais tarde!"

"Oi, é a mamãe de novo... bem, eu queria te dizer que Louise esteve em Jacksonville recentemente e ela acha que a viu comprando meia dúzia de caixas de biscoito em um dos mercados do centro. Ela também disse que é normal que as pessoas comam demais quando estão deprimidas. Espero mesmo que o noivado de Keiko não tenha chateado você. Tchau, até à noite."

Ao contrário do que minha mãe fez parecer, eu não tinha inveja da minha irmã, Keiko; sim, ela era mais nova, e sim, ela iria se casar primeiro, mas o que realmente me aborrecia, é que conforme mamãe fez questão de demonstrar, todos pensavam que seu relacionamento me deprimia; e sendo assim, todos sentiam pena de mim.

À noite minha irmã daria sua festa de noivado, em Saint Petersburg, e eu estava morrendo de medo de comparecer. Minha mãe garantiria uma celebração incrível para elas e um festival de lamentações para mim.

E por que diabos meia dúzia de biscoitos se tornaram motivo de fofoca? Eram apenas palitinhos de chá verde!

Desde que decidi me privar de algumas situações, comecei a consumir grandes quantidades de açúcar, porque ouvi dizer que liberava a endorfina – um neuro-hormônio que provoca a sensação de bem-estar no cérebro, da mesma forma que acontece quando se faz sexo.

Veja bem onde essa discussão refletiu, todas essas distrações não deveriam estar em pauta, apenas a reunião de emergência que começaria em poucos minutos.

Eu trabalhava em uma empresa chamada Paltrow Design, famosa em todo estado por administrar projetos residenciais de interiores para classe média e alta. Parecia o emprego dos sonhos, mas tudo que eu fazia, o dia todo, era organizar papéis. Não era o bastante para utilizar toda minha energia criativa.

Às quatro horas, nos encaminhamos para o setor de negócios e a reunião se iniciou. Conforme o gerente financeiro, Mitchy Collins, cambaleou em direção à frente da sala, uma funcionária do departamento de recursos humanos entregou envelopes a todos os presentes. Éramos oito, no total. Após rasgar o envelope, puxei as folhas de papel que estavam dentro dele e...

— Estamos sendo demitidos? - eu perguntei, incrédula.

— Eu sei que a notícia pode ser um choque pra alguns de vocês, mas não havia nada que pudesse ser feito a respeito - Mitchy se virou para mim, com um sorriso falso ressaltando as bochechas de esquilo.

— Não podem fazer isso! - Sebastian protestou.

— Tentamos de tudo, mas as demissões foram inevitáveis.

Inevitáveis!? Ele teve a coragem de realizar um corte tão drástico de gastos e assinar o desligamento de todos os funcionários da base administrativa sem nenhum aviso prévio, com um argumento tão medíocre.

Minha cabeça começou a girar e senti a raiva arder em meus olhos quando me direcionei a ele, mas reprimi a vontade de acertar seu rosto oleoso e feio com um soco, e sai correndo da sala.

Quando cheguei à casa da minha mãe, tarde da noite, descobri que os detalhes da demissão chegaram antes de mim, assim, eu não era apenas a irmã mais velha e solteira: era a irmã mais velha, solteira e desempregada

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Quando cheguei à casa da minha mãe, tarde da noite, descobri que os detalhes da demissão chegaram antes de mim, assim, eu não era apenas a irmã mais velha e solteira: era a irmã mais velha, solteira e desempregada.

Meus pais, Ayo e Benedict, moravam na mesma casa colonial desde que nos mudamos do sul asiático, e lá foi onde eu cresci, a duzentos e vinte uma milhas do meu atual apartamento, em Jacksonville.

A festa parecia estar animada, então me enfiei entre convidados desconhecidos sem qualquer hesitação.

— Shiori! Pensei que não viria! - disse minha irmã, assim que me viu, jogando os braços ao meu redor.

Keiko estava linda, como sempre. O vestido terracota contrastou perfeitamente com a maquiagem leve e os cabelos loiros que batiam no ombro. Ela se parecia muito comigo, exceto pelo busto mais cheio e os lábios finos.

— Desculpe a demora, tive um dia cheio... mas e então, onde ele 'tá? - perguntei, procurando pelo noivo.

— Bem ali! - apontou ela, após olhar em volta, sorrindo ao encontrá-lo entre os convidados.

Eu segui seu olhar, procurando por ele. Ainda não conhecia o noivo – ninguém na família, na verdade. Eles estavam namorando a pouco mais de cinco semanas, e a única coisa que nós sabíamos era que seu nome era Kedar Williams, trabalhava em alguma empresa importante e tinha mais ou menos a minha idade.

— Keiko!? - localizei o homem de terno azul em um dos cantos do cômodo, conversando com o nosso pai, e me virei novamente para ela, que tinha um sorriso convencido no rosto. — Está explicado porque aceitou esse pedido de casamento tão rápido! Vocês já...!?

— Shiori! Não acredito que você 'tá me perguntando uma coisa dessas! - ela me repreendeu, com o rosto vermelho.

— Desculpe! - eu disse, rindo. — Mas como vocês se conhecem a pouco mais de um mês e ele já sabe que quer passar o resto da vida com você, eu achei que...

— Shiori Adhika... você não retorna as minhas ligações... quer me matar de preocupação!? - era minha mãe, impedindo que eu pudesse dizer mais alguma coisa.

— Mamãe! - exclamei, aumentando meu tom de voz, tentando fazer parecer que estava feliz em vê-la.

Embora eu tivesse planos de passar a noite ali, poucos minutos ouvindo teorias sobre o meu fracasso, foram o suficiente. Decidi ligar para uma das minhas colegas de trabalho e saber se ela ainda estava comemorando nossa demissão. Não conseguia passar por aquilo sóbria!

 Não conseguia passar por aquilo sóbria!

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𝗦𝗔́𝗕𝗔𝗗𝗢, 𝟬𝟯 𝗱𝗲 𝗔𝗕𝗥𝗜𝗟

Toc, toc, toc.

Ouvi pancadas fortes na porta do quarto e comecei a imaginar quem estava me atormentando àquela hora da manhã. Eu detestava acordar cedo nos fins de semana, e todos que me conheciam sabiam disso.

Quando abri os olhos para o relógio digital ao meu lado, rapidamente percebi três coisas: a primeira era que
não tinha ninguém batendo na minha porta, era apenas minha cabeça latejando. A segunda coisa era que a manhã havia terminado e já passavam do meio-dia. E a terceira, era que o relógio que eu estava olhando não era meu, nem a mesinha de cabeceira onde ele estava.

Quando tentei me levantar, assustada, senti um peso extra sobre minha cintura, e percebi algumas coisas familiares...

Mas era impossível. Eu não faria isso. Nunca!

— Bom dia, linda! - disse ele, atrás de mim, beijando meu ombro desnudo, concretizando meu pior pesadelo.

Me afastei de Mitchy, às pressas. Sentindo a ânsia de vômito subindo pela minha garganta, me desenrosquei de seus lençóis e pulei da cama, mais uma vez correndo o máximo que pude para longe dele.

◞ hᥲᥕhᥱ  !Onde histórias criam vida. Descubra agora