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"Shiori... oi, é o vizinho, Calum. O cara que tem aquelas pernas, você sabe... olha, eu enviei informações sobre outros amigos seus por e-mail. Algee, Will e o Chance. Todos eles estão solteiros, caso você esteja se perguntando. Passe aqui no meu apartamento quando voltar pra casa, quero conhecer o Duke. Até mais!"

𝗧𝗘𝗥𝗖̧𝗔-𝗙𝗘𝗜𝗥𝗔, 𝟭𝟯 𝗱𝗲 𝗔𝗕𝗥𝗜𝗟

Embora a viagem entre Atlanta e Saint Louis demorasse algumas horas, a adrenalina que sentia por estar furiosa e a imensa quantidade de cafeína que ingeri, fizeram com que eu fosse capaz de dirigir durante a madrugada e a uma parte significativa da manhã. Estava irritada porque a minha primeira tentativa de encontrar um dos homens da lista foi, no mínimo, constrangedora. Mas não podia deixar que a experiência ruim me impedisse de continuar.

Na recepção do hotel, fui informada de que eles não permitiam a entrada de animais de estimação, e assim eu precisei colocar Duke entre as roupas de uma das minhas bolsas. Meu quarto era longo, estreito e a decoração em xadrez marrom em contraste com a iluminação amarela me causava náuseas.

Depois de trocar os lençóis da cama pelos que eu trouxe de casa, eu me deitei e fechei os olhos, me forçando a descansar. Precisava admitir que, dentre todas as pessoas que poderiam vir depois de Nathaniel, eu gostaria que fosse alguém com um pouco mais de potencial. Michael Provost sempre foi meio idiota, para dizer o mínimo, e nós não terminamos muito bem. Mas as pessoas mudam, com certeza. E todos merecem uma segunda chance.

Não quero parecer maldosa, mas duvido muito que Michael tenha recebido um diploma universitário. Durante todo o tempo em que namoramos, ele passou a maior parte sentado comendo produtos industrializados e jogando videogame. Eu sei que é comum, eu também gosto de me prender a telas as vezes, mas Michael não era o tipo de pessoa que queria jogar ocasionalmente - ele queria jogar o tempo todo. Era um inferno conseguir alguns minutos de atenção, principalmente quando estava em alguma partida de League of Legends.

Sim, os gamers são os piores.

Foi o toque do meu celular quem me acordou

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Foi o toque do meu celular quem me acordou. Por um breve momento, me esqueci de onde estava.

Saint Louis, Michael Provost. Peguei o celular e atendi.

Você 'tá viva? - gritou Keiko.

— Não, esse é um modelo de vida artificial, deseja deixar algum recado? - respondi, bocejando. — Me esqueci de retornar a ligação quando cheguei, desculpe!

Ah, não precisa se desculpar! Só deduzi que seu carro se chocou contra um caminhão ou capotou numa curva dupla, que te assaltaram na fronteira e levaram até seu cachorro... nada demais - diz ela, com ironia.

Então, conclui que realmente foi uma má ideia dizer a ela que ia dirigir durante a madrugada. Depois de me desculpar mais uma vez, eu lhe garanti que mandaria notícias com mais frequência, e ela mudou de assunto.

E então, você já começou a procurar emprego?

— Hm, não... - balbucio. — Atualizei meu currículo, mas não procurei empresas pra encaminhar... mas sabe o que eu ouvi falar? Você conhece a Vogue Living?

Vogue Living? A revista?

— Ela mesma, eu fiquei sabendo, por um contato, que eles estão abrindo um catálogo de reformas e vão precisar de profissionais de auxílio... é quase um Property Brothers com subcelebridades.

Isso é ótimo! - ela se empolgou. — Gosto da Vogue!

— É, eu também! - disse a ela. — Mas no momento não posso focar nisso... preciso me concentrar na minha atual missão e somente nela.

Pra mim, isso é loucura - retrucou Keiko.

— Já sei, Keiko! Já sei! - suspirei. — Até mais!

Desliguei a chamada e decidi começar minha tarde ensolarada com um banho frio, torta de nozes e um expresso bem forte. Penteei meus fios de cabelo, prendendo-os em uma trança lateral e me espreguicei em um vestido amarelo de algodão, tentando viver.

Perseguir ex-namorados era uma bela maneira de não ter tempo de arranjar um novo!

Michael morava a cerca de quinze minutos do hotel onde me hospedei, em um condomínio não muito grande, cheio de sobrados brancos, idênticos. Depois de colocar meus óculos escuros, estacionei do outro lado da rua e aguardei.

Durante a próxima hora, contei tudo sobre Provost a Duke. Ele era meu comparsa, então era importante que soubesse o que estávamos fazendo. Mesmo que ter encontrado Nathaniel tenha sido vergonhoso e uma perda de tempo, não teria adotado Duke se não tivesse ido atrás dele.

Acho que tudo na vida acontece por alguma razão.

Por volta das cinco horas, percebi algum movimento vindo de sua casa, e fiquei um pouco nervosa, movendo meu carro até o retorno que havia no fim da rua. Reconheci Michael assim que ele saiu de casa e entrou em seu carro.

Quando ele deu a partida e seguiu pela rua, fui dirigindo atrás dele, lentamente. Michael virou à direita em uma avenida, a esquerda duas vezes, e depois de alguns minutos, estacionou seu carro em um supermercado.

Quando entrei, encontrei-o na seção de hortaliças, escolhendo batatas. Escolhi uma cesta e me aproximei dele, parando ao chegar até uma pilha com bandejas de folhas. Peguei uma delas e comecei a ler o rótulo com os valores nutricionais e, lentamente, fui andando em direção a ele, até que acabamos nos esbarrando.

— Ah, me desculpe! - eu disse.

— Que isso, não foi nada - respondeu ele. Michael olhou para mim, voltou seu olhar para as batatas inglesas, e então para mim outra vez. — Espera... Shiori?

Quando ouvi-o dizer meu nome, parei de fingir que estava lendo sobre rúculas e ergui a cabeça.

No momento em que Michael e eu nos olhamos nos olhos, soltei um falso suspiro, teatral até – ou não – e coloquei a mão vazia sobre o peito para aumentar a intensidade dramática do momento.

— Oh, minha nossa... Michael!? - em partes, eu estava  realmente supresa comigo mesma por ter chamado a atenção de um típico padrão americano. Ele havia mudado o corte de cabelo mas os olhos azuis ainda mantinham a mesma essência, ele estava mais alto e ainda mais bonito do que eu me lembrava.

— Sim! - disse ele, sorrindo. — Nossa, é tão bom ver você!

Sim, nós íamos nos casar!

◞ hᥲᥕhᥱ  !Onde histórias criam vida. Descubra agora