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𝗤𝗨𝗔𝗥𝗧𝗔-𝗙𝗘𝗜𝗥𝗔, 𝟮𝟴 𝗱𝗲 𝗔𝗕𝗥𝗜𝗟

Essa foi uma história um pouco mais complicada. Conheci Wi Ha-Joon, o coreano número nove da minha lista, ainda na faculdade. Nós tínhamos aulas no mesmo campus, prédios no mesmo quarteirão e almoçávamos no mesmo refeitório – nos víamos quase todos os dias, o que resultou no início da nossa amizade.

Ele era gentil, atencioso, inteligente e muito gato. Eu passava todo meu tempo livre com ele e boa parte do meu tempo acadêmico, pensando nele. Sem perceber, eu estava me apaixonando pelo meu melhor amigo.

Em uma das festas de calouros, eu bebi além da conta e acabei dando com a língua nos dentes, depois de ter que assistir outra garota do nosso ciclo de amigos tentando beijá-lo. No início da declaração, ele pareceu surpreso, mas depois abriu seu melhor sorriso e disse que sentia o mesmo por mim.

Eu não podia estar mais feliz, sendo correspondida por alguém incrível demais para mim e, em pouco mais de uma semana, estávamos tendo um tórrido caso de amor. Eu amei aquele semestre, amei aquele verão, amei Ha-Joon. Até que o outono chegou.

É engraçado perceber a velocidade com que as coisas boas podem mudar.

O momento em que senti que tudo poderia dar errado, foi quando Ha-Joon foi reprovado. Isso causou um verdadeiro efeito dominó. Ele deixou escapar sua alegria de viver. Com o último semestre arruinado, as inocentes festas em que ele participava nos fins de semana começaram a sair do controle e se transformaram em ocorrências diárias em alojamentos de calouros. Ele estava sempre bêbado, e frequentemente iniciava alguma discussão comigo a respeito de coisas sem importância.

No começo, aquelas brigas acabavam levando a belas transas conciliatórias, mas depois de algum tempo, o seu hábito de sempre estar fedendo a álcool afetou aquela área do nosso relacionamento também.

Como não parava de frequentar festas e quase nunca estava em casa Ha-Joon deixou de pagar seu aluguel durante dois meses, e eu acabei emprestando o dinheiro necessário à ele.

Sim, sei que foi algo imbecil, mas além de meu namorado ele ainda era meu melhor amigo.

Qualquer mulher, por mais idiota que fosse, teria terminado o relacionamento, mas eu, por outro lado, não era uma idiota qualquer; era uma idiota otimista. Achei mesmo que poderia ajudá-lo.

Certo dia, nós saímos pra comemorar o aniversário de um dos nossos amigos, e por volta da meia-noite, Ha-Joon sumiu. Ele não me disse que iria para casa; e preocupada, eu saí do bar para telefonar para ele.

Foi aí que aconteceu uma coisa estranha: eu ouvi os toques do celular pela chamada do aparelho e pelo outro lado da rua. E quando olhei em volta para ver de onde o som estava saindo, eu o vi em pé na esquina, beijando outra garota.

Quando ele olhou na minha direção, o sorriso desapareceu do rosto dele. Eu não sabia o que dizer, apenas corri para casa e disse que ia embora.

— Ah, é sério isso? - disse ele, suspirando. — Você 'tá louca! - ouvir essas palavras saindo da boca dele me encheu de ódio.

Eu não conseguia acreditar que ele, depois do que fez, teve a audácia de me chamar de louca.

Sem conseguir me controlar, comecei a gritar com ele, dizendo que eu o achava um vagabundo, sem futuro algum. Durante todo o tempo ele permaneceu em silêncio, olhando para mim. Quando terminei, eu esperei por uma resposta, esperei que ele reagisse, que pedisse desculpas ou que gritasse de volta. Mas não aconteceu nada disso.

Em vez de me dizer que estava arrependido, Ha-Joon simplesmente me olhou de cima a baixo... e riu. Ele deu a gargalhada mais escandalosa que já ouvi na minha vida. Ficar frente a frente com uma pessoa que ri de você, no momento em que você está com raiva, é algo que só serve para lhe enfurecer ainda mais.

Para ser honesta, quando fiz minha lista, só de escrever o nome dele fiquei tão irritada que quase pensei em tirá-lo, mas me esforcei para tentar focar apenas em meu ex-melhor amigo, assim, eu me esquecia um pouco dele como meu ex-namorado. E acabei decidindo que, talvez, ele merecesse uma nova chance.

Embora ele tivesse residência fixa em Chicago quando eu o conheci, estava morando com os seus pais em Springfield, ainda em Illinois.

Dei entrada no hotel na noite de segunda-feira e estou sentada do lado de fora de sua casa desde então. Depois de esperar um pouco mais, decidi telefonar para Calum, para ter a certeza que aquele era o endereço certo.

Quando ele atendeu, coloquei o celular próximo ao rádio do meu carro.

Sabe, eu tenho um pouco mais de respeito por você quando 'tá ouvindo Madonna - começa ele, enquanto abaixo o volume de Stay With Me no som do carro.

— Por favor, já ouvi Adele tocando no apartamento do lado, que por acaso, é o seu - eu dei risada, e ele acabou rindo também. — Eu tenho uma pergunta... sabe o endereço que você me deu pra procurar Wi Ha-Joon? Você tem certeza de que é o lugar certo?

Tenho, cem por cento - disse Calum, de maneira rápida e confiante. Ouvi um grunhido e um estalo no telefone.

— O que você 'tá fazendo aí? - perguntei, curiosa.

Abdominais - respondeu, sua voz diminuindo no fim.

Oh!

— Abdominais? Você não precisa de abdominais.

Ah, eu sei que já sou gostoso o bastante pra você.

— Não seja convencido, eu só... - Duke começou a latir, olhando pela janela do carro. — Duke... saí daí! Eu só quis dizer que 'tá tudo bem com o seu abdômen!

Aham... - duvidei que acreditasse na desculpa esfarrapada que dei. — E o que acha das minhas pernas?

— Não acho nada, Calum... eu me recuso a responder perguntas que possam me incriminar - argumentei, rindo.

Acha que elas são fortes o suficiente? Sabe, eu costumo saltar um pouco pra animar shows lotados.

— Duke está impossível hoje, não para de latir pro gatinho na calçada... - desconversei, pegando meu cachorro no colo. — Então, vamos te deixar fazendo seus exercícios.

Tudo bem, Brosnan - ele soltou uma risadinha. — Antes do ensaio ainda preciso fazer um pouco de elevação pélvica - eu quase engasguei. — É um exercício muito bom pra manter a firmeza dos quadris.

— Aah... boa sorte, então! - estava prestes a desligar o telefone, mas não me contive. — Calum!?

Sim?

— Suas pernas são ótimas! - e desliguei antes que ele pudesse dizer alguma coisa, com um sorriso no rosto.

Um flerte inocente com melhor amigo depois de tantos desastres não faria mal a ninguém, não é!?

◞ hᥲᥕhᥱ  !Onde histórias criam vida. Descubra agora