Minha escolha

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Eu treinei a vida toda.

Minha mãe sempre dizia que era perda de tempo, que eu era esperta demais pra ser de outra facção que não fosse erudição. Mas desde pequena, enquanto os outros estudavam, eu estava treinando, se eu não me tornasse a número um na audácia, então meu esforço não valeria a pena. Eu sempre os via, animados e correndo pelas ruas, livres como eu queria ser, mas a escolha era minha.

— Audácia.– a moça que fez meu teste de aptidão diz assim que eu acordo da simulação, sinto minhas mãos formigando. — Em todo meu tempo aqui eu nunca havia visto um teste tão conclusivo. Você passou pela simulação como se tivesse nascido na audácia.

— Meu pai era de lá, pode ter alguma conexão?– pergunto e ela nega.

— O teste mostra a força dentro de si.– passo a mão nas têmporas que estavam doloridas — Acho que o difícil vai ser avisar sua mãe sobre o resultado.

— Ela não pode saber, ou ela me mata.– digo e ela concorda, levanto da cadeira e me despeço, pego o caminho e chego rápido em casa, vejo a porta do laboratório dela aberta, com certeza estava fazendo mais um de seus soros.

— E então, Erudição?– ela pergunta sem nem me olhar enquanto me encosto no batente da porta.

— Sim, como você disse.– cruzo os braços analisando sua reação.

— Ótimo.– ela vira pra mim com um sorriso e larga suas coisas vindo até mim.– No tempo que estamos, algumas coisas vão mudar, é essencial que fique ao meu lado.– ela diz segurando meus ombros.

Veja bem minha mãe não era uma pessoa má, pelo menos não comigo. Ela só era controladora demais, sendo a líder da Erudição ela acabou tornando isso um problema, ela era inteligente demais o que me dava um certo orgulho mas o jeito que ela usava a inteligência pra parecer superior a qualquer pessoa me assustava.

— Eu preciso dormir pra cerimônia de amanhã.– digo e sinto seus braços me abraçar carinhosamente.

— Eu sei que sempre ficará do meu lado.– ela me solta e encara meu rosto — Só temos uma a outra.– mas isso iria mudar.

Eu subi para o meu quarto, mas depois de um banho presumi que não conseguiria dormir, a ansiedade me dominava de tal forma que não conseguia nem me deitar. Andava de um lado pro outro no quarto, até parar na frente do espelho, visualizei meu cabelo loiro longo e então um estalo na mente, um sorriso travesso me apareceu e eu corri até o laboratório de minha mãe, tinha a certeza que ela guardava algumas tintas de cabelo e nem sei porque, peguei umas duas caixas de tinta preta petróleo. Essa seria uma nova eu, era uma mudança radical mas eu precisava disso, e eu sentia uma adrenalina louca enquanto o fazia.

Sentia a água na cabeça levar toda a coloração loira consigo, sequei com a toalha e após passar o secador vi no espelho meu cabelo perfeito preto, meus olhos verdes estavam cintilantes, eu estava a cara de meu pai, eu sou poderia ter uma foto dele, mamãe odiava a lembrança dele. E finalmente consegui descansar um pouco, acordei com duas batidas na minha porta.

— Já está na hora, levante.– a voz de minha mãe disse do outro lado da porta, me levantei rapidamente e coloquei uma camisa azul, uma calça azul e botas pretas, peguei uma jaqueta azul também pois pela última vez precisava honrar a Erudição e depois de hoje eu não iria querer ver essa cor novamente. Penteio meus cabelos e vejo minhas ondas perfeitas se formando, o que me tira um sorriso, tenho certeza que puxei toda a beleza de meu pai.

Saio do quarto e caminho até a sala de estar onde minha mãe me esperava sentada, ela me olha de soslaio e depois volta seu olhar aterrorizado até mim e me analisa de cima a baixo.

Flames - Eric ( A Saga Divergente)Onde histórias criam vida. Descubra agora