Chamas

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1 mês antes...

Grávida.

A palavra ecoava na minha cabeça, era como se ela tivesse acertado um tiro na minha orelha e estava zumbindo. Eu observei ela a noite toda, seus olhinhos estavam inchados de tanto chorar, e a ponta do nariz vermelha. Isso vinha acontecendo e eu não percebi, os choros e os enjôos eu achei que eram coisas de mulher e só, não percebi que a minha mulher era forte demais pra estar agindo daquele jeito.

Desde que eu coloquei os olhos nessa garota, ela atormentava minha mente. Seu sorriso, seu modo de me desafiar e eu não conseguir fazer nada pra revisar. Qualquer outra pessoa que se atreveu a levantar a voz pra mim teria morrido, mas não ela. Eu não era capaz de tocar em um fio de cabelo sequer, ela era um ímã e eu nunca consigo me afastar desde o primeiro momento em que ela me olhou.

Eu amava Mary mais do que poderia explicar.

Encaro sua barriga que ainda não tinha forma alguma e suspiro cansado, repouso minha mão sobre ela e permaneço ali enquanto penso em um jeito de tirar ela de perto da cidade sem que Max fosse me matar. E a verdade era que eu iria precisar de ajuda.

Levantei cedo e me arrumei pra resolver as coisas, se tudo desse certo até a noite iríamos estar longe. Dou um beijo em seus cabelos e a deixo dormindo. Graças a um informante nos sem facção fico sabendo que Triz e Quatro estavam lá, e que de manhã iriam para a Franqueza. Eu só tinha que arrumar um jeito de encontrar com eles.

Vejo os dois passando por perto do beco onde eu estava e eu agarro o pescoço do Quatro, mas não era pra machucar mesmo eu querendo muito mas agora tenho prioridades, preciso tirar Mary da cidade a qualquer custo.

— Larga ele.– Triz diz apontando sua arma pra mim.

— Eu não estou aqui pra levar vocês.– digo e solto o Quatro — Eu preciso de ajuda.– digo levantando as mãos e me rendendo.

— E porque ajudariamos você?– Quatro pergunta

— É importante, é sobre a Mary.– digo e eles trocam olhares pra se comunicar.

Demora um pouco até que eles finalmente entram no beco pra não serem vistos comigo, explico a eles todos o meu plano. Peço ao Quatro total descrição mas não digo a eles que ela estava grávida mas mesmo não querendo pedi perdão por tudo o que fiz a eles. Eu sabia que Mary precisava de um homem agora e não alguém que tentava acabar com uma briga feita desde a adolescência.

— Vamos te ajudar, mas por ela.– Triz responde e eu comemoro mentalmente.

— Não mate ninguém no processo.– Quatro pede e eu assinto

— Nos vemos mais tarde.– Saio do beco e os deixo lá.

Passo o dia todo na Erudição resolvendo alguns assuntos e a noite chega, era hora de invadir a Franqueza por ordens de Jeanine. Precisávamos usar o dispositivo de triagem em todos pra achar os divergentes, e foi isso que eu fiz. Achamos a Triz e eu precisava atuar na frente do Max por isso tratei ela mal e quase matei uma criança. Iríamos levar a Triz e então Quatro chegou me dando um soco e me desarmando, ele estava com alguns soldados da Franqueza e o resto do prédio estava dormindo por causa do dispositivo de indução. Me levanto com dificuldade, era hora de nós dois lutarmos, e eu esperei tanto por esse momento para ser apenas teatral.

— Tem sorte de ter essa arma Quatro.– o provoco e vejo ele virar — Nós dois sabemos que você não é grande coisa sem ela – ele entrega a arma dele na mão de um cara. Vou pra cima dele tentando acertar um soco ele desvia e me faz bater o rosto na coluna do prédio, e ainda quebra meu braço me causando uma dor extrema. Filho da mãe, caio no chão com dor e sinto ele puxando minha perna pra sala onde eu estava testando os divergentes, solto alguns murmúrios de dor e consigo me sentar no chão, ele pega a pistola e me encara com fúria nos olhos. Um soldado me algema e vejo Triz perto de nós. — Acha que ela está salva agora? Está errado, Jeanine nunca vai parar de te procurar.– me dirijo a Triz que não diz nada

— Porque? O que a Jeanine quer com ela?– Quatro me pergunta andando até mim — Me fala.

— Tudo o que sei é que ela é exatamente o que a Jeanine quer. Ela é a cobaia perfeita.– vejo os dois trocarem olhares, Quatro destrava a arma e eu o encaro com sarcasmo — Isso era pra me assustar?

— É responsável pela morte de centenas de pessoas. Sabe a punição pra isso.– era o sinal de que iria acontecer agora.

— Escuta, achei um jeito de viver com o sangue nas mãos, você consegue?– pergunto e ele exita por alguns segundos mas lanço meu olhar suplicando pra ele fazer aquilo, e ele faz.

Aponta a arma na minha direção e atira mas não me acerta, eu finjo que caio morto, estava tudo planejado desde o início, mordo uma pílula escondida na minha boca que me faria dormir pra pensarem que eu estava morto. E assim eu durmo.

Acordo sentindo algo em movimento e uma dor imensa no braço que eu percebo enfaixado,eu logo reconheço que estava no vagão do trem indo pro meu destino, e xinguei mentalmente quando vi que ela não estava ali, vi umas três malas com mantimentos e roupas ao meu lado e uma carta.

Eric não sei como te dizer isso, mas Mary estava na Franqueza e ela acabou caindo no sono com o dispositivo da Erudição. Quando ela acordou viu seu corpo no chão e passou mal, não tivemos tempo de nos desculpar ou dizer sobre o plano, eu sei que iria buscá-la ao anoitecer na casa de vocês mas ela estava aqui e não pensamos em manda-la pra casa porque não a vimos mais no dia, achamos que pudesse ter voltado e iria encontrar você. É melhor você ficar sumido até explicarmos a ela tudo o que aconteceu e sobre o plano, vai se organizando e aproveita e reforma a casa no meio da floresta que está destruída, no momento certo levo ela até você, vou proteger ela como se fosse minha irmãzinha e quando ela estiver pronta vocês se verão outra vez. Te coloquei no trem com tudo o que você vai precisar e daqui um tempo mando mais coisas sempre que puder.

Eu acredito no seu arrependimento, também mudei muito por amor. Mas o resto da cidade não acreditará, então faz o que estou pedindo, ela vai ficar a salvo até que podemos contar.

Quatro

Amassei a carta com raiva, droga eu pensei em tudo menos em onde ela estaria quando o plano acontecesse. Mil vezes droga!
E acabei confiando na palavra do quatro, a cidade vai ter recursos pra manter ela e o bebê bem, ele só tem que cumprir a palavra dele e a manter segura enquanto eu arrumo o nosso pequeno lar.

Desço no final dos trilhos e caminho por um tempo questionável, não lembrava que a casa abandonada era tão longe, quando a avisto sinto um alívio e cansasso também, teria muito trabalho.

Agora

Saio pra fora da cabana ao ver o Quatro na mata e vejo ela passa a frente dele olhando tudo com confusão no olhar, saio da casa e vejo ela me encarar com aqueles olhinhos brilhantes, ela estava pronta para chorar e por um momento eu perdi o fôlego, ela desmaia e Quatro corre para segura-la, eu corro também a tempo de ver ela fechando os olhos e a pego no colo. Levo ela pra dentro da cabana com Quatro me seguindo e a deixo na cama desacordada.

— Porque trouxe ela agora?– pergunto desesperado — Alguém seguiu vocês?– olho pela janela atordoado.

— É uma história muito longa depois ela te explica.– ele diz e eu sorrio irônico

— Eu tenho todo o tempo do mundo.– cruzo os braços

— Mas eu não! Preciso ir.– ele suspira mas não se move pra sair — Agora eu entendo porque queria tirar ela da cidade, ela está grávida e você nem avisou.

— Eu não queria que ninguém soubesse.– digo sem querer explicar

— Parece que ela também não.– ele diz e abaixa a cabeça — Tá rolando uma guerra na cidade agora, preciso chegar a tempo de parar tudo. Cuida dela, e se tudo der certo mando mais coisas na próxima semana pelo trem. – assinto e o acompanho até a parte de fora da casa.

— Quatro.– chamo antes dele ir embora e aperto sua mão — Obrigado, por tudo e por cuidar dela. – ele assente, não diz nada e vai embora, volto pra dentro da casa e fico esperando ela acordar.

Flames - Eric ( A Saga Divergente)Onde histórias criam vida. Descubra agora