Ninguém é deixado para trás.

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Terminei de subir a escada que dava acesso ao topo do prédio, a noite parece silenciosa e só o céu estralado parecia barulhento, as estrelas estavam brilhando de um jeito estranho, como se estivessem se explodindo a milhares de anos luz. Me sento em um caixote ainda olhando pra cima e apertando na mão a bolinha do meu cordão.

Estávamos deitados no esconderijo e eu ria de alguma coisa que Eric tinha dito.

— Ela dizia isso, que quando morremos viramos estrelas...– ele termina e eu gargalho mais — As vezes parece que vão cair em cima de nós.

— As estrelas são feitas de focos luminosos sei lá.– lembro de algo que li antes em algum livro

— Você é tão inteligente amor, porque não ficou na Erudição?– ele pergunta rindo

— Isso é conhecimento básico Eric.– sorrio da careta que ele faz — Aliás mesmo quando eu estava lá eu só treinava. Perdia as aulas pra ficar batendo em sacos de areia ou nas meninas que me irritavam.

— Você queria mesmo entrar na Audácia.– ele constata — Mas porque sempre ser a número um?

— Meu pai deixou uma carta pra minha mãe no dia que morreu...– lembro da memória dolorosa e abaixo meu olhar — Eu tinha quatro anos na época, então na carta ele dizia que já estava muito orgulhoso de eu ser uma lutadora mas ele disse que se eu não me empenhasse em tudo o que queria eu nunca teria bons resultados. Seja no que for eu coloco tudo de mim, uma prova besta de matemática ou um caça bandeiras. Qualquer coisa que seja uma competição ou onde eu possa mostrar tudo de mim eu sempre vou querer ser a número um. Eu senti que esse foi o último desejo dele. E tenho certeza que ele está orgulhoso de mim. – termino de falar e encaro o rosto de Eric, seus olhos estavam brilhando o que me faz sorrir com vergonha.

— Você é incrível.– ele diz e sinto minhas bochechas arderem — Eu não sei se importa pra você, mas é a número um pra mim. – me inclino pra cima de seu corpo e o beijo com paixão.

— Desculpa atrapalhar.– escuto a voz do Quatro e me assusto saindo de meu transe, mais um de meus pensamentos com Eric.

— Não precisamos ter essa conversa.– digo e me encolho, controlo ao máximo minhas lágrimas pra não caírem.

— Precisamos sim.– ele se senta em outro caixote ao meu lado e eu abaixo minha cabeça mas enfim crio coragem pra o encarar.

— Eu me envolvi com o Eric sabendo exatamente quem ele era...– digo e encaro meus dedos novamente — No início eu achei que ele era só um cara mal, que tinha uma pose que não podia perder porque ele queria causar medo nas pessoas. Ser respeitado.– molho meus lábios pra continuar — Mas depois eu entendi tudo o que irritava ele, era você... Sempre foi você – olho para o seu rosto e ele abaixa a cabeça — Eu sempre quis ser a número um, E ele sempre quis ser só melhor que você.

— Eu senti isso na pele, mas eu nunca tive nada de especial, só lutei pra sobreviver.– assinto e sinto meus olhos lacrimejando — Dava pra ver no jeito que se olhavam o quanto se amavam, ele sempre protegeu você como podia. — aperto meus lábios segurando o choro — Nos seus medos, nas simulações você matava qualquer um que o causava mal, quero saber se isso mudou? – solto um riso fraco

— Eu tinha medo de perde-lo. E só hoje entendo que meu medo era tão forte porque eu sabia que um dia isso aconteria e eu não poderia fazer nada, por que Eric causou muito mal.– sinto as lágrimas começarem — A intenção do treinamento da simulação era vencer nossos medos não é?– pergunto e ele assente — Então me deixe vencer o meu, sozinha. – peço e ele nega com a cabeça, e segura minha mão.

— Mary, não vou deixar você passar por isso sozinha.– assinto e minhas lágrimas se intensificam, ele se ajoelha na minha frente e me abraça com carinho e eu retribuo deixando as lágrimas saírem. — Me desculpa por te fazer passar por isso.

Depois de mais alguns minutos conversando, eu e Quatro descemos, os sem facção cederam um quarto para mim e eu me deitei pra tentar dormi. Segurando uma foto de Eric e mentalizando seu rosto eu tentei sonhar com ele e mal percebi quando finalmente cai no sono.

Acordo assustada ouvindo vozes altas, me levanto da cama com medo, nunca se sabe minha mãe poderia ter achado o esconderijo deles. Saio do meu quarto e vou até o pátio onde todos estavam reunidos, caminho até Christina e ela parecia nervosa.

— O que aconteceu?– pergunto enquanto todos gritam com a Evelyn, mãe do Quatro e pra mim era só mais uma líder qualquer.

— Triz se entregou pra sua mãe, ela está com a mente perturbada e cheia de culpa pela morte de algumas pessoas.– coloco as mãos na boca surpresa.

— E porque ninguém foi atrás dela ainda?– pergunto

— Todos nós estamos com esse dispositivo.– ela mostra no braço dela e eu passo a mão no meu também, era o mesmo dispositivo que atiraram em nós no dia que Eric foi morto, ele era obra da minha mãe então rapidamente eu resolvi como tirar mas parece que eles não — O dispositivo faz o pessoal da Erudição controlar nossos movimentos e fez uma garota daqui se matar. Quatro era o único sem o dispositivo e foi atrás da Triz sozinho.

— E me diga porque estamos abrigando a filha dela?– Edgar grita como um ditador e todos trazem o olhar até mim — A garota era namorada do Eric e filha da Jeanine.

— Falou certo, eu era para as duas opções.– digo com dor no coração de dizer essas coisas — E eu sei como tirar os dispositivos.– mostro meu braço machucado por ter arrancado a pequena peça.

— Nós vamos te ouvir.– Evelyn diz e me chama até a frente, Christina me acompanha e se senta na mesa ao meu lado.

— É um injetor de soro de simulação muito sofisticado.– explico e pego uma faca pra retirar o que estava no braço da Chris. — Isso foi construído pra se defender, esses fios ...– mostro a eles o dispositivo entrelaçar na caneta como demonstração do que acontecia neles — Eles se enrolam na artéria mais próxima, se tirar da forma errada vocês morrem. – ouço burburinhos e largo o dispositivo.

— E você pode retirar de todos nós?– Uma garota me pergunta e Evelyn espera minha resposta.

— Aos que não me atacarem posso oferecer meus serviços.– digo jogando a indireta ao Edgar que parecia empenhado a me atacar.

— Precisamos desses soldados, nos deve isso pelo que sua mãe anda fazendo.– Evelyn fala baixo enquanto os outros gritam comigo.

— Eu vou te dar as minhas exigências, ajudarei vocês nisso mas quando acabar eu quero ajuda pra ir embora e não ser mais encontrada.– digo baixo para Chris não me ouvir, eu sabia que ela ou Quatro não me deixariam ir se soubessem.

— Isso vai ser fácil de conseguir.– ela diz assentindo

— Ninguém pode saber.– ela assente me dando a certeza de que me daria o que eu peço — Ok, cala a boca todo mundo.– exclamo e todos me dão atenção — Quero que façam uma fila, precisamos ser rápidos com isso. – eles vão se organizando e Evelyn me lança um olhar de agradecimento enquanto eu começo meu trabalho.

Flames - Eric ( A Saga Divergente)Onde histórias criam vida. Descubra agora