Faíscas

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Acordo bem cedo no dia seguinte com o barulho de algo batendo no ferro, era o Quatro que acorda todo mundo com sua cara arrogante.

— Quero todo mundo no foço, dois minutos.– ele diz e some de nossas vistas.

Passo as mãos no rosto e levanto da cama, visto minhas roupas e penteio meus cabelos com os dedos, começo a colocar meus sapatos e vejo Triz me olhando, parecia querer perguntar algo.

— O que sua mãe achou sobre sua escolha?– ela pergunta e eu suspiro

— Não sei, não tenho contato com ela desde a cerimônia e nem quero, tenho uma nova família agora.– digo sem me importar.

— Facção antes do sangue.– ela mentaliza pra si mesma — Queria ser tão segura assim...

Me levanto após amarrar meu sapato e vou em direção as escadas onde os outros estavam subindo, caminhamos em grupo até o foço e meu dia parecia mais animado ao ver Eric sentado a nossa frente, faço questão de ficar na fileira da frente mas ele nem me nota.

— Existem dois métodos de treinamento, o primeiro é físico, leva seus corpos até o limite e aprenderão os métodos de combate. O segundo é mental, novamente até o limite enfrentarão seus medos e os vencerão, a menos que os vençam primeiro.– Quatro discursa sem tirar os olhos de todos nós.— Treinarão separadamente dos nascidos na Audácia mas serão avaliados juntos. Depois da iniciação a classificação de vocês dirá que ofício terão. Liderança, guarda de cerca ou evitar que as outras facções se matem.

— A classificação determinará quem será cortado.– Eric diz com sua voz grossa, acabo sentindo o mesmo calor de antes enquanto ele caminha lentamente até nós.

— Cortado?– Christina pergunta confusa. Na verdade todos ali estavam confusos.

— Ao fim de cada estágio os mais baixos na classificação nos deixarão.– ele explica

— Pra fazer o que?– um outro garoto pergunta

— Não tem como voltarem para suas famílias então serão sem facção.– todos começam a reclamar baixo, essa regra nova tinha a cara da minha mãe, mas eu não podia dizer nada pois ela não era líder dali.— É uma regra nova.

— Alguém devia ter avisado a gente.– digo e ele me encara

— Porque? Teria escolhido diferente?– ele me pergunta — Minha pergunta é porque escolheu a Audácia se chegou aqui com medo?

— Me disseram que um dos líderes era gatinho.– escuto alguns risos do pessoal ao dizer isso em voz alta, droga não era pra ter saído assim, Eric estreita o olhar pra mim.

— Com a fama que sua mãe tem duvido que era pra você estar aqui agora.– ele rebate parando na minha frente e nós ficamos discutindo bem perto um do outro.

— Mas a escolha era minha. E eu escolhi certo.– digo convicta e vejo um sorriso querendo sair de seus lábios mas ele não sai.

— Se estiverem com medo, saiam agora. Se for um de nós não vai ter medo de fracassar.– ele se afasta e diz a todos — Vocês nos escolheram, agora escolhemos vocês. – ele encara meus olhos de longe e eu sorrio sem me importar com as consequências que minhas respostas poderiam causar.

E as aulas começaram naquele dia, lutas corpo a corpo, corrida, tiro ao alvo e muitas outras coisas, tinhamos que ter corpos fortes para aguentar as batalhas lá fora, e isso me assustava mais que tudo, quando iríamos sair pra lutar de verdade, quando não seria um treinamento. Mesmo assim eu não iria descansar até ser a melhor, até ver meu nome no primeiro lugar daquela classificação idiota, no meio de todo meu treinamento vi o olhar de Eric sobre mim, acho que acabei pintando um alvo nas minhas costas, era o que eu pensava até algumas semanas depois, que ele me colocou pra lutar com a Triz.

— Primeira a pular, última a pular. Para o ringue– ele grita e eu paro de treinar e caminho até o tatame, vejo o olhar assustado de Triz, eu tinha pena dela, ela parecia não saber onde estava mesmo se passando semanas ali. — Hora de lutar.

— Até quando é pra lutar?– pergunto e ele pisca os olhos lentamente.

— Até uma de vocês não aguentar continuar.– ele responde e Quatro se coloca a frente dele, todo mundo percebia a rivalidade que os dois enfrentavam.

— Ou uma de vocês entregar a luta.– Quatro retruca e Eric continua com o ar de superioridade.

— Novas regras, ninguém se entrega.– ele ordena e eu encaro Triz. — Receberão pontos por isso então lutem!

Me posiciono e nós duas começamos a girar no ringue, uma esperando a outra atacar. Acabo me cansando e começo a ir pra cima dela, e ela acaba descendo do ringue atraindo risos do pessoal, olho para o Eric e ele me incentiva a continuar com o olhar. A careta – era como os caras estavam a chamando – subiu no ringue e veio direto até mim, mas eu desvio de seu golpe, ela tenta me dar outro mas eu desvio e dou um de esquerda acertando a orelha dela, ela toca a mesma que devia estar doendo e vem com raiva pra cima de mim me agarrando pela cintura, me mantenho de pé e dou uns socos na costela dela, ela me solta e eu dou um soco forte no rosto dela, que a faz cair no chão. Eu sinto que não precisava finalizar mas encaro Eric e ele levanta as sobrancelhas, não poderia demonstrar fraqueza então dou um soco com toda a minha força no rosto dela que a faz cair desacordada.

A careta acorda minutos depois, a luta havia acabado, eu tinha vencido e estava tudo bem. Eric nos guia até um quadro que mostrava nossas classificações, eu me irrito ao ver meu nome no décimo lugar, pelo menos não estava abaixo da linha vermelha como a Beatrice.

— Quem estiver no vermelho no fim do primeiro estágio, tá fora.– ele diz e todos nos encaramos.

Eu precisava do primeiro lugar, ele seria meu de qualquer jeito e isso não é só um capricho.

O resto do dia foi a rotina normal de sempre, tomei um banho depois do jantar e fui andar um pouco pra conhecer mais o lugar, achei o local onde eles faziam uma tatuagem e enquanto eu escolhia senti a presença de alguém ao meu lado, quando olhei vi Eric mas fingi não me importar com ele e continuei olhando o catálogo das tatuagens.

— Tá se revelando contra sua mãe?– lanço um olhar interrogativo a ele — Primeiro escolhe a Audácia e agora uma tatuagem?

— Ela não se importa com tudo isso.– digo caminhando com o desenho que queria fazer até o tatuador.

— Difícil de acreditar nisso.– ele diz, me sento na cama e espero o tatuador preparar tudo.

— Todo mundo acha que conhece sobre a minha vida por causa da influência da minha mãe.– digo baixo e ele se encosta na parede na minha frente — Isso é normal pra mim, desde que nasci. – Tiro minha camiseta atraindo o olhar de Eric sobre meu corpo, tudo o que eu queria mesmo, solto um riso e ele desvia o olhar. Ficar de sutiã na frente de um cara já era normal depois de todas essas semanas, por isso nem me importei, iria tatuar uma pena na costela.

— Eu não conheço sobre sua vida, mas conheço sua mãe...

— E isso te dá o direito de dizer o que eu poderia escolher?– ele cruza os braços se divertindo com a situação.

— Você é corajosa, eu tenho que admitir, sabia que não pode falar assim comigo né?– ele parecia irritado com a minha audácia.

— É assim que uma conversa funciona.– ele nega com a cabeça e sai da sala. O cara termina minha tatuagem rapidamente, eu visto minha camiseta e saio dali. Um cara caminha até mim e para na minha frente.

— Max quer falar com você.– ele diz e eu assinto, ele me guia até o escritório do líder.

Flames - Eric ( A Saga Divergente)Onde histórias criam vida. Descubra agora