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Catra não sabia o que era um encontro. Pelo menos nunca tivera a experiência de um.

Tomar cerveja no bar onde trabalha, e foder em um carro, ou mesmo no beco atrás do estabelecimento, não contava como encontro.

Ela não contava.

Então com Adora andando ao seu lado, ainda mascarava aquilo como “saída de amigas”. Bem, nem Adora, lerda como só ela, acreditava nisso.

As duas andaram por entre as vitrines em silêncio, chegando até a área do cinema. Claro que poderiam ter ido até o Cinema propriamente dito, que ficava do outro lado da cidade, mas onde estaria a graça?

— Eu pago os ingressos, e você a pipoca — Adora disse, sem deixar brecha pra discussão, quando chegaram perto dos cartazes.

A morena consentiu, não por concordar, mas pelo choque de vê-la tão “autoritária”. Choque esse que percorreu sua espinha, e virou uma onda de calor, se alojando no ventre. Deus, ela ficava tão sexy naquela postura mandona...

— Só se me deixar pagar um sorvete na saída — provocou.

— Feito — Adora lhe dirigiu um sorriso afável. — O quê vamos assistir? 

— Tem um filme de ação que eu ‘tô doida pra assistir, mas não tive tempo ainda — Catra mordeu os lábios e encolheu levemente os ombros. — Mas, se você quiser, podemos ver outra coisa...

— Você sabe que eu amo filmes de ação, Cat — a loira riu. — Eu sou Marvete, lembra?

— Eu ia perguntar com quem você viu Ultimato, mas acho melhor não.

— Todos os filmes da Marvel que saíram depois que nos afastamos, eu assisti sozinha — a mais alta deu de ombros, lendo atentamente a sinopse do filme que Catra indicou. — Se eu não podia ver com você, não tinha sentido procurar outras pessoas.

A morena piscou, atônita, e de repente uma onda de remorso a fez tremer. Ela levara Emily ou Scarlett pra ver alguns dos filmes... simplesmente porque imaginou que Adora fazia o mesmo.

Talvez a loira soubesse disso. Ou talvez não.

Se manteve em silêncio, observando enquanto ela ia até a bilheteria, parecendo animada. Seu andar gracioso arrancou um suspiro de Catra, que não conseguiu desviar os olhos daquelas pernas torneadas envoltas no fino tecido preto.

Sacudiu a cabeça e foi comprar as pipocas e outras besteiras para comerem durante o filme.

[...]

Era missão impossível se concentrar totalmente no que passava no telão.

Não que Adora fosse barulhenta, ou que a desconcentrasse de propósito. Porra, era só o perfume levemente floral dela, que vinha como um tapa toda vez que ela se inclinava para pegar o próprio copo de refrigerante ou um punhado de pipoca.

Catra se sentia ofegante, porque o cheiro de Adora a excitava, o modo como as pernas grossas estavam cruzadas a excitava, até o jeito como ela puxava o canudinho de papel com a língua até o envolver com os lábios...

Se virou bruscamente, obrigando seus olhos a focarem no filme.

Não era hora pra isso!

Adora era lerda, e qualquer atitude precipitada poderia por tudo a perder com ela, que afinal iria se assustar com uma investida direta.

Mas, porra, não era de ferro também.

Quando o filme finalmente acabou, as duas saíram rindo e comentando as melhores partes do filme, além de trocarem suas opiniões sobre a atuação do elenco.

— Sinceramente, se tiver continuação eu mesma pago pra gente assistir — Catra riu, colocando o óculos 3D no coletor.

— Pode apostar que eu vou cobrar isso — Adora piscou, jogando o lixo delas nas latas de reciclagem. — Então, o sorvete ainda está de pé, Cat?

— Você comeu meio balde de pipoca, uma barra de chocolate, fora os dois pacotinhos de M&M's e o Fini, além de beber meio litro de refrigerante, pra onde vai tudo isso? — a morena riu, a acompanhando pra área de alimentação.

— Eu faço academia, gatinha, gasto muita caloria — a mais alta deu de ombros. — É raro eu comer tanta, huh, porcaria. Não estraga minha festa.

— Então... podemos passar no banheiro antes? Eu sinceramente não tô aguentando segurar...

Adora concordou, e, depois de fazer suas necessidades, ela foi lavar as mãos, aproveitando pra se checar no espelho. Não costumava se produzir tanto... mas gostara bastante do resultado.

— Vai ficar namorando o espelho, ou ainda quer o sorvete? — Catra sorriu de lado, vendo no reflexo o quanto as bochechas dela coraram ao ser pega no flagra.

— Idiota — Adora passou por ela e saiu de lá primeiro.

Obviamente, a outra não reclamou, afinal assim poderia secar descaradamente a bunda redondinha e empinada que ela possuía. Definitivamente, a decisão da academia era acertada.

Catra comprou duas casquinhas, uma de creme e outra de chocolate (preferência de Adora), e voltou para onde deixou a loira, que ainda namorava a vitrine de uma livraria.

— Então, vai levar algum? — questionou, lhe entregando o sorvete.

— Ah, bem que eu queria, mas não posso. Tenho trabalho essa semana, e no tempo livre preciso, definitivamente, descansar. — Adora suspirou, antes de levar o doce até os lábios, sorvendo dele com a ponta da língua. — Humm, tinha esquecido como o sorvete daqui é bom.

A cacheada levou dois segundos pra voltar a funcionar. Ela estava só a definição daquele meme: “Pane no sistema, alguém me desconfigurou”. Adora com certeza tinha queimado seu único neurônio funcional. Sentia o rosto arder, assim como todo o corpo.

Puta que pariu.

— Sorvete é tudo igual, loira de farmácia — ela enfiou o próprio sorvete na boca, se obrigando a esconder seu rubor.

Se era verdade que sorvete congelava o cérebro, então que seja.

— Não sei, na companhia certa ele tem um gostinho especial — ela lambeu os lábios, sorrindo ao encarar a amiga. — Meu Deus, Catra, sua boca está toda lambuzada...

Catherine engasgou.

Agora sim, seu sistema tava fodido.

Alguém chama uma ambulância meu pai!

Adora não podia falar uma coisa daquelas tão naturalmente pra uma pessoa como Catra! Definitivamente, a morena não sabia mais respirar.

— Catra, pelo amor de Deus, você está bem? — Adora se desesperou. — Me dá isso, vamos ali beber uma água.

A loira jogou as duas casquinhas quase no fim na primeira lata de lixo que viu, enquanto a outra tossia. Depois de alguns goles de água, Catra voltou a respirar (arfando), e o rosto voltava ao tom normal.

— Desculpa... eu não...

— Tudo bem, Adora... não tem problema...

A maior assentiu, ainda meio cabisbaixa. Catra se odiou por fazê-la ficar assim. MAS ERA MESMO UMA OTÁRIA! ADORA ERA TÍMIDA! ERA LÓGICO QUE IA DEVAGAR, MAS NÃO QUER DIZER QUE NÃO PODIA JOGAR UM FLERTE DAQUELE, CACETA! Qual a necessidade da reação exagerada????

Ao olhar de novo o rostinho rosado da sua princesa, ainda se xingando mentalmente, a mais baixa observou o cantinho da boca rosada um pouco suja de sorvete.

Ótimo, tudo que Catra mais odiava na vida era um clichê, mas olha ele ali!

Melhor do que nada, né?

Se aproximou da loira, que recuou um passo, mas relaxou ao ver o sorriso afável da outra.

— Tem um sujo aqui, deixa que eu limpo — ela sorriu, levando a língua até o lugar, lambendo lentamente o doce. Sem perder a coragem, aproveitou para dar um selinho singelo nos lábios dela.  — Vamos embora? Temos aula cedo amanhã!

Aparentemente, Adora era quem estava em pane, agora.

↬ʟᴜᴄᴋʏ sᴛʀɪᴋᴇ • ᶜᵃᵗʳᵃᵈᵒʳᵃOnde histórias criam vida. Descubra agora