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Pov – Catra

Eu não consegui processar bem o que tia Marlenna me disse. As únicas coisas que meu cérebro absorveu foram que: a) Adora sumiu; b) ela não atendia o celular; c) ninguém sabia dela desde as sete da noite.

Já eram exatas onze e quarenta e sete. Meu turno ia até às duas, mas Netossa me liberou antes. Minhas mãos tremiam como vara verde, e foram necessários alguns copos de água com açúcar até que eu conseguisse me acalmar, pelo menos o suficiente pra conseguir guiar a moto.

A verdade era que Adora nunca foi de sair sem avisar, nunca deixou de atender ligações (por mais que o momento fosse inconveniente), nunca deixava de dar notícias.

Isso não era normal.

Ela não tinha porque ter saído de casa, não tinha porque sumir. Não fazia sentido.

Nada fazia sentido.

Respirei fundo, guiando até a mansão dos Grayskull. Eu não podia me desesperar ainda mais. Não agora. Primeiro avaliar todas as opções.

Deus, por que logo agora? Era justo?

Seria algum castigo por algo errado que eu tinha feito? Eu estava pagando por ter feito ela sofrer?

Me identifiquei no portão, sendo logo autorizada a entrar. Estacionei a moto perto do jardim, descendo em seguida, deixando o capacete de qualquer jeito. Não tinha cabeça pra isso.

Havia um carro ali, e eu o reconhecia. Era de um dos amigos da Adora. Bati na enorme porta da mansão, tentando não chorar e parar de tremer.

Tia Marlenna em pessoa atendeu, me abraçando de maneira forte ao me ver. Ela parecia absolutamente triste e cansada. A abracei de volta, tentando confortá-la o melhor que podia.

Os amigos de Adora estavam ali. Sparkles, Logan, uma garota baixinha com cabelos azuis (provavelmente Phoebe, ou Frosta como costumavam chamá-la), prima da Sparkles, mas que gostava muito da minha namorada, também estavam ali Penelope, e, pro meu espanto, Scarlett.

Cumprimentei todos com um aceno de cabeça, mas Scarlett fez questão de me abraçar assim que tia Marlenna me soltou.

— Estamos tentando ajudar a procurar alguma informação sobre a Adora — Penelope disse, baixo, depois de se aproximar também.

— Ela não falou com vocês?

— Na última vez que ela mandou uma mensagem no grupo, foi pra falar que tinha uma novidade pra te contar — Sparkles disse, ao lado de Logan, que a abraçava pelos ombros. — Depois disso...

— Novidade pra me contar? Eu não falei com ela desde a hora que me despedi pra ir trabalhar — fechei a mão com força, certamente meus nós dos dedos estavam brancos. — Isso foi umas seis da tarde.

— Catherine, querida... — tio Randor saiu do seu escritório. Percebi que todos olhavam pra ele com expectativa. Talvez estivesse em um telefonema.

— Vim assim que Netossa me liberou — o abracei. — A Adora...

— Nem sinal dela — ele respondeu minha pergunta sem conclusão, o que fez com que me sentisse um pouco pior. — Acabei de falar com uma amiga nossa, do departamento de polícia.

— Mara disse alguma coisa? — minha sogra voltou a se apoiar em mim.

Quem segurava quem, eu não sabia.

— Ela prometeu ficar de olho. Também avisou a Hope, no hospital...

A informação caiu sobre nós como água fria. Eu entendi o que significava: não havia nada a ser feito, além de esperar. E essa era a pior parte.

Os outros foram embora, pedindo que nós os mantivéssemos informados. Provavelmente eu também teria ido embora, mas não conseguia me mexer. Todo o meu autocontrole se esvaiu assim que Scarlett me deu um último abraço, e depois saiu.

As primeiras lágrimas vieram silenciosas, eu mal as senti, mas logo elas começaram a vir em abundância, molhando meu rosto e me fazendo soluçar. Minha garganta doía, meu peito doía, e era uma dor insuportável.

— Calma, querida — tia Marlenna me aninhou nos seus braços, se sentando comigo no sofá espaçoso. — Shiii, vamos encontrar a Adora, tudo bem? Não vamos desistir.

— Leve-a pro quarto da Adora, querida — tio Randor pediu, também abatido. — Acho que Catherine precisa de um pouco de descanso. Eu vou ficar atento ao telefone, aviso qualquer novidade pra vocês.

— Obrigada, querido — eles trocaram um selinho, e logo ela me conduziu escada acima.

Eu não conseguia me acalmar.

O fato de que a polícia e até hospital já estavam envolvidos me fazia sentir medo. Eu queria acreditar que ela estava bem, que ia ficar segura.

— Ela... ela não avisou, que ia sair? — perguntei baixo, assim que entramos no quarto da Adora.

— Foi como a Rosalie disse — ela acariciou minha mão, se sentando ao meu lado na cama. — Ela disse que tinha algo pra te contar, e saiu.

— Eu não entendo — olhei pra tia Marlenna. — Ela não me mandou nenhuma mensagem... o que pode ter levado...

— Cat, por favor, suposições só nos levam ao desespero maior — a voz dela tremia, e eu me toquei que provavelmente só iria piorar as coisas.

— Não posso perdê-la — fui honesta.

Há muito tempo não era tão franca e sincera como estava sendo, deixando os meus sentimentos livres para que ela pudesse ver.

— Você é o mais importante pra Adora, querida.

— E ela pra mim — enxuguei o rosto. — Céus, eu reprimi tanto... escondi de tudo e de todos. Eu tive tanto medo de que ela jamais me retribuísse. Cheguei a beijar outras bocas, tentando esquecer de algo que nunca tive. Agora que eu a tenho ao meu lado, não posso deixar que fuja. Eu não posso aceitar que Adora me deixe. Não é justo...

Senti seu abraço novamente.

Me sentia segura nos braços de tia Marlenna. Era familiar ao aconchego que Adora me trazia, só que mais maternal... eu estava tão cansada, tão exausta. Dormi com seus carinhos, sem perceber, mergulhando num sono conturbado cheio de pesadelos, como há três meses não tinha.

Só acordei horas depois, e desci as escadas em seguida, como se pressentisse algo.

Tio Randor acabava de desligar o telefone, não parecia ser mais que sete da manhã.

Tia Marlenna tinha um olhar suplicante, enquanto o dele estava perdido.

— Adora foi encontrada — ele murmurou. — Hope disse que ela acabou de dar entrada no hospital.

↬ʟᴜᴄᴋʏ sᴛʀɪᴋᴇ • ᶜᵃᵗʳᵃᵈᵒʳᵃOnde histórias criam vida. Descubra agora