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A verdade era que Adora não conseguiu dormir muito bem na noite que antecedia o julgamento. Foi simplesmente impossível pregar os olhos durante boa parte dela.
Catra a acalmou o melhor que pôde, lhe fazendo carinho, e a confortando o melhor possível. Aos poucos ela relaxou, enquanto a namorada cantava lentamente alguma canção de ninar.

— Desculpa por não te deixar dormir, amor — a loira murmurou, a fazendo parar de cantar e sorrir, beijando o topo da sua cabeça.

— Não me arrependo de nada, princesa — disse, suave. — Eu te disse que sempre iria estar aqui, não foi?

— Eu te amo. Muito.

— Também te amo.

Finalmente Adora conseguiu dormir, o que seu corpo agradeceu, mesmo que não fosse o recomendado.
Parecia não ter se passado muito tempo desde que dormira, e logo Adora se viu acordada, olhando para o teto e com a namorada dormindo no seu peito.

Sua manhã passou como um borrão, sendo que a única coisa que prendeu sua atenção fora a mão de Catra, que em momento algum soltou a sua.
Suas mãos só se desenlaçaram quando Adora fora chamada para falar. Frente a frente com seus agressores, e ao lado do juiz, ela encontrou forças dentro de si mesma ao pensar em todos que a ajudaram tanto até ali. Seus amigos, Catra, sua mãe, até mesmo Adam e Teela...

Contou tudo, mais uma vez, sob voto de dizer apenas a verdade. Se surpreendeu por não chegar a chorar, mesmo quando o advogado de defesa deles fazia insinuações babacas sobre sua sexualidade. Sabia que o objetivo dele era fazê-la hesitar, seu pai deixara bem explicado isso.

Com esforço, Adora se manteve firme. Respondeu todas as perguntas com objetividade e foi o mais fria que conseguiu, mesmo que suas mãos tremessem e tivesse vontade de chorar.
Depois que o advogado (a contragosto) a liberou de mais preguntas, ela voltou para seu lugar, dando a mão para a namorada, que estava sentada logo atrás dela.

Não demorou muito, logo a juíza liberou todos, para que uma decisão fosse tomada pelo júri.
Na sala de espera, Adora foi abraçada pelos amigos e Catra, podendo chorar livremente o que estava “entupido” no seu coração.

— A justiça vai ser feita, Adora — Logan garantiu, fazendo carinho na sua cabeça. — Eu tenho certeza.

— Obrigada, sério, eu amo vocês.

— Vamos estar com você, sempre — Catra garantiu, a beijando levemente.

[...]

— Segundo a decisão unânime do júri, os acusados são considerados culpados pelo crime de estupro, caracterizado pelas investigações como crime de ódio contra Adora Grayskull...

Adora suspirou aliviada, e não pôde deixar de descansar a cabeça na mesa à sua frente. Finalmente... seu pesadelo estava no seu fim. Finalmente, estava acabado.
Se permitiu chorar de alívio.
A partir de agora, tudo iria ser mais fácil. Suas correntes finalmente estavam se quebrando.

— Você está bem? — Catra se aconchegou perto de si, enquanto Randor dirigia para a casa deles.

— Aliviada. Me sinto muito aliviada. Parece que um grande peso foi tirado das minhas costas.

— Agora nós vamos recomeçar — a morena sorriu. — Juntas.

— Juntas. — Adora sorriu de volta e concordou.

[...]

Um ano depois

— Adora, não é assim que se faz caramelo! — uma Catra meio irritada meio risonha foi na direção da namorada, a tirando de perto do fogão, onde a panela com açúcar e água fervia.

— Mas eu segui as instruções — Adora fez bico. — O que eu fiz de errado?

— Eu disse uma colher de água, não meia panela! — a baixinha não sabia se ria ou ficava furiosa.

Era sábado, e as duas tinham resolvido usar a enorme cozinha da mansão para fazer um pudim, aproveitando que os pais de Adora tinham ido viajar e a cozinheira estava de folga. Catra só tinha esquecido que Adora era literalmente a pior pessoa no mundo pra cozinhar. Só havia apreendido a fazer panquecas...

Mesmo assim, ao ver o rosto feliz dela, enquanto tentava ajudar de alguma forma, toda a raiva momentânea de Catra se esvaiu. Desligou o fogo, jogando a panela na pia (por sorte ainda estavam juntando os outros ingredientes para fazer o resto da receita), e se aproximou da namorada, lhe fazendo um breve carinho no rosto.

— Ei, nós vamos acertar na próxima vez, ok? — prometeu, sorrindo.

— Tudo bem — Adora segurou seu rosto entre as mãos, e a beijou.

— Hum, sabe, a gente pode lavar essa louça, depois pegar os salgadinhos que compramos ontem e assistir desenho...

— Deixa que eu lavo a louça e arrumo aqui. Pega os salgadinhos.

Catra assentiu, indo até os armários, e pegou uma grande tigela, colocando os pacotes de salgadinhos dentro dela. Aproveitou pra pegar algumas latas de refrigerante na geladeira, e, quando terminou, Adora já enxugava as mãos com um pano de prato.
Deixou que ela pegasse os refrigerantes e subiram juntas, decidindo o que iam assistir.

Adora estava feliz. Se sentia bem, completa. Ainda fazia sessões de terapia grupal, ainda tinha alguns pesadelos, mas finalmente conseguia colocar sua vida em ordem. Conseguia olhar pra frente sem estar acorrentada ao que aconteceu antes.
Sentia-se livre.

— Vamos assistir Coragem, o Cão Covarde? — Catra sugeriu, animada.

— Vamos — Adora a puxou para o seu colo, encaixando-a entre suas pernas com as costas sobre seu peito.

Enquanto assistiam ao desenho, comiam e bebiam, a Grayskull acariciava lentamente os cabelos escuros da namorada, que ela ainda mantinha curtos pela praticidade.
Silenciosamente, planejava como conseguiria levá-la até a casa delas, cuja obra tinha sido finalizada naquela manhã, depois de um ano sendo construída em segredo.

Seria uma grande surpresa para Catra... mesmo que ela não fosse a única a ser surpreendida.

↬ʟᴜᴄᴋʏ sᴛʀɪᴋᴇ • ᶜᵃᵗʳᵃᵈᵒʳᵃOnde histórias criam vida. Descubra agora