Capítulo 7

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"Não me cabe conceber nenhuma necessidade tão importante durante a infância de uma pessoa que a necessidade de sentir-se protegido por um pai." Sigmund Freud.

Após cinco copos de vinho, Margot já encontrava-se zonza. Nicolas, por sua vez, já havia tomado três copos de cerveja, e devido ao seu costume com bebida, o estado em que permanecia ainda era estável. O professor havia levado a jovem para uma colina, logo após comprarem bebidas em um bar nas proximidades da universidade. Por essa colina ser em um pico alto, o frio era árduo. Margot havia pego um agasalho de Nicolas, que estava no banco de trás do carro, ao mesmo tempo que estava abraçando seus joelhos junto ao seu corpo e olhando a vista da pequena Cidade de Boulder, com quase nenhum prédio ao redor, e o céu estrelado, com vários pequenos pontos de luzes flamejantes, que sempre a hipnotizava, desde quando era pequena.

Nicolas, por sua vez, encarava o rosto da garota, percebendo o quão suave parecia depois de alguns goles de vinho. Margot estava com uma tensão impregnada em seu corpo desde o momento em que recebeu aquela ligação de madrugada, e essa tensão parecia que havia acabado de ir embora após a bebida que ingeria sem remediar. — Mesmo que amanhã eu acorde e a dor que tanto aflora em meu peito volte, é bom sentir meus problemas dissipando-se, nem que seja apenas por hoje. — Margot pensou.

— Por mais tempo que te olho, mais dúvidas eu tenho. — Nicolas encarava o rosto da jovem com curiosidade. — Você parece ser uma mulher cheia de segredos...

— Uma dama nunca revela todos seus segredos... 

Uau! — Especulou, dando um grande gole em sua cerveja. — Então comece me revelando coisas mais simples.

— Tipo o que?

— Sua cor favorita — Ele sugeriu em um tom brincalhão.

— Hmmmm... — A garota ponderou. — azul!

— Por que?

— Me lembra uma travessura que fiz quando eu era pequena. — Margot sorriu ao lembrar-se. — Eu sempre gostei de fazer tudo ao contrário do que me mandavam. Por exemplo, eu não tinha nada contra vestidos, mas se me obrigassem a usar vestido em uma festa, eu iria fazer de tudo para ir com jeans e camiseta. A mesma coisa acontecia alimentos, eu gostava de salada, mas quando começaram a colocar todo dia em meu cardápio, como se fosse uma obrigação, eu comecei a deixar a salada de lado. E um dia, quando minha família estava de mudança para uma casa nova, me deparei com um quarto rosa, e do meu irmão, azul escuro. Eu me lembro de falar para o meu pai que queria um quarto azul também, e ele me disse que azul era cor de menino, que eu teria que me contentar com rosa.

— Não me diga que você...

— Sim! Eu pintei as paredes do meu quarto com tinta acrílica azul, usando às mãos. — A jovem interrompeu, soltando uma risada divertida ao expressar essa recordação. — Foi a última vez em que eu enfrentei meu pai, mas a cara que ele fez ao ver o que eu tinha aprontado era impagável. Lembro como se fosse ontem.

O homem bigodudo olhava para feições de sua pequena filha perplexo, aturdido pelo desgosto, e lançando um olhar periférico pelo quarto que estava metade rosa e metade azul. A garotinha estava coberta de tinta, desde a cabeça, com seus cabelos ondulados aderindo a cor azulada nas pontas, até aos pés que grudavam no chão, deixando várias pegadas pelo local.

— Quando você vai aprender a ter disciplina? — O velho lançou um olhar de desgosto para filha. Aquele olhar sempre havia machucado seu coração, pois através daquele simples gesto, ela poderia ver que nunca seria digna em sua família.

— Ela é só uma criança, querido. — A sua mãe apareceu logo atrás de seu pai, e que ao contrário dele, sempre olhava para ela com amor e ternura.

A Morte Te SegueOnde histórias criam vida. Descubra agora