Capítulo 23

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"Se você revelar os seus segredos ao vento, não pode culpar  o ventopor revelá-los às arvores." 
Khalil Gibran.

Ao acordar naquela manhã gelada, Marion sentiu o corpo nu de Nicolas sobrepondo o seu, impedindo que ela sentisse frio. O professor já estava acordado, observando seu rosto sonolento, o que fazia a garota perguntar-se por quanto tempo ele estaria velando seu sono.

— Que horas são? — A jovem questionou, espreguiçando-se.

— Dez. — Nicolas respondeu, despreocupado.

— Tudo isso? — Arregalou os olhos.

— Sim. Acontece quando vamos dormir tarde. — O professor respondeu, esbanjando um sorriso malicioso.

— A minha entrevista já deve ter ido ao ar. — Ela pronunciou, com receio. 

Desde o momento que havia recebido aquela ligação na noite anterior, o medo com a entrevista havia amenizado, dando espaço para o medo de haver alguma próxima vítima iminente. A preocupação de Marion não era devido as consequências de suas palavras, mas sim, as consequências de sua covardia e imprudência. Mais uma vez ela havia ignorado o chamado, e mesmo que por dentro tenha tentando buscar tranquilidade, convencendo a si mesma que a única vítima atingível seria Mikaylla — que ela fez questão de certificar-se que estaria bem — ainda  não podia deixar de sentir-se envergonhada por mais uma vez não ter sido capaz de fazer nada.

— Vai ficar tudo bem. — Nicolas pronunciou, enquanto espremia a jovem em um abraço e depositava um beijo no topo de sua cabeça. — Eu estou com você.

A garota sorriu com seu gesto e acalentou-se em seu abraço, inebriando-se de seu cheiro. A presença dele trazia conforto nela, e era nítido o quanto ambos encaixavam-se na presença um do outro, mesmo que tivessem demorado para de fato assumirem aquilo em voz alta.

— Precisamos ir. — Marion anunciou, saindo do abraço concedido para procurar as suas roupas jogadas ao redor do colchão.

Nicolas, por sua vez, continuou deitado, observando a garota procurar as peças. Assim que ela encontrou seu vestido e iria vesti-lo, o rapaz gritou:

— Para! 

Após ouvi-lo, ela arregalou os olhos e nem atreveu-se em olhar para a região que Nicolas estava focando o olhar;  seus seios. Ela estava convicta que era algum inseto, ou até mesmo, coisa pior.

— Que foi? Tira! — A jovem respondeu, fechando os olhos.

Nicolas levantou-se do colchão e inclinou seu corpo em direção à garota, e sem ponderar, encaixou os seios da dela em suas mãos, enquanto apertava. Marion, em resposta, deu um tapa nas garras traiçoeiras, e o professor riu em resposta.

— Quando acho que você está falando sério... — Ela suspirou, terminando de colocar seu vestido, com uma carranca em sua face.

Não demorou para que ambos já estivessem recolhendo todos os itens que haviam deixado pelo acampamento improvisado, e enfim deixando aquele pico montanhoso para trás. Nicolas sorria para ela enquanto dirigia. Aquele sorriso era o único conforto que Marion conseguia ter  no momento, pois em seu pensamento ainda era dominante pelo horror, desbriamento e afligimento.

Em pouco tempo Marion já estava em frente à sua residência, ela só não esperava que não seria a única que estaria lá. Haviam dezenas de pessoas aglomeradas em frente à sua porta, entre elas; equipe de repórteres, alunos da universidade, protestantes e até mesmo a polícia. Marion sentiu seu coração bater aceleradamente e o ar de seus pulmões esvaindo-se, então ela fechou seus olhos brevemente, e por fim, tentou controlar a frequência na qual respirava; aspirando o ar pelo nariz e soltando pela boca.

A Morte Te SegueOnde histórias criam vida. Descubra agora