Capítulo 10

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"Em cada um de nós há um segredo, uma paisagem interior com planícies invioláveis, vales de silêncio e paraísos secretos."
Antoine de Saint-Exupéry

Margot Franco nunca achou que iria considerar Nicolas Owen uma refúgio, mas considerava. De certa forma, inconsequentemente, ele trazia uma felicidade que há muito tempo não contemplava. E para ela, associar Nicolas com felicidade, representava bem seu desespero diante daquela situação. Porém, ter alguém para poder contar em meio a todo caos acontecendo, era raridade. 

O professor acolhia ela em um abraço, enquanto estavam sentados na cama do quarto dele. Ele deslizava às mãos pelas suas costas, enquanto a jovem fungava, com a cabeça descansando em seu ombro largo. Nicolas não sabia o que fazer, não havia se preparado para o dia em que precisaria consolar Margot Franco, como Margot Franco nunca havia se preparado para o dia em que precisaria buscar o consolo em Nicolas Owen.

— Então, você está me dizendo que O Masculino na verdade é O Marte?Ele questionou, ainda no abraço.

Após encontrar Margot na calçada, beirando uma crise de ansiedade, levou ela para sua residência, e já que seu pai não estava no recinto, aproveitou para ter a conversa sobre os assassinatos que estavam acontecendo. Para o professor, que ouviu tudo o que a garota falava aos prantos desde que a encontrara, sobre a teoria do deus da guerra sangrenta e justa, conhecido como Marte, fazia muito mais sentido do que o um símbolo representando o gênero masculino, mas ao mesmo tempo que essa informação parecia estar levando eles a algum lugar, na verdade, a sensação era como se estivessem parados no mesmo local, ou até mesmo pior; andando em círculos.

— Nicolas, pare de inventar apelidos, apenas chame ele de assassino. — Margot corrigiu o rapaz, desfazendo o abraço abruptamente. Ela sentia desconforto em chamar a pessoa que cometia essas atrocidades por um nome fantasioso, de forma sensacionalista. Outra coisa que também gerava descômodo nela, no momento, era estar sentada na cama de seu professor. Cama, a qual, era mais desorganizada que a de Leonora. Margot tinha a total certeza que se olhasse embaixo da cama encontraria pizza amanhecida.

— A questão é que, se ele se acha o deus da guerra sangrenta e justa, por qual motivo estaria querendo uma guerra contra garotas inofensivas? — Nicolas coçou a cabeça, ainda não conseguindo associar ambos. — Por qual motivo ele acha isso justo?

Um alvo... — Margot murmurou.

— Mas que alvo?

— Não sei, Nicolas! — A jovem protestou.

— E se for uma assassina? — Ele sugeriu.

— Acho que não. — Meneou a cabeça negativamente. — Mulheres não matariam outras mulheres assim.

— Nem todo mundo pensa como você, linda. — Nicolas sorriu. — Dizem que asfixia é um método feminino de cometer assassinatos.

— Por que? — Ela questionou, surpresa. — Só mulher pode asfixiar alguém agora?

— Não. — Nicolas suspirou. — Acho que dizem isso por ser um ato que não necessita tanta violência, como espancamento, ou outros tipos de mortes.

— Entendo. — A garota concordou. — De todo modo, é uma morte silenciosa, sem chamar atenção. Mas para asfixiar alguém, você precisa exercer o domínio da vítima. Uma mulher não conseguiria dominar a outra dessa forma, sem antes haver uma briga.

— Ou conseguiria. — Nicolas especulou — Drogas. — Argumentou. — E se a vítima não estivesse totalmente lúcida? Seria muito fácil assumir o controle dela.

A Morte Te SegueOnde histórias criam vida. Descubra agora