"Haja o que houver, os dias e as horas, sempre chegam ao seu fim."
William Shakespeare.Nona vitima. Marion já estava conformando-se com aquele título. Já podia imaginar várias manchetes estampando notícias sobre a acusada que na verdade era inocente, e inclusive, havia sido assassinada na noite do seu julgamento. Seria uma reviravolta na sua trágica história, que havia começado fatidicamente, e iria acabar da mesma forma.
Quando a garota abriu os olhos depois de um tempo desacordada, ainda conseguia ver o plástico em volta de sua cabeça, e através dele, ainda era possível ter uma visão nítida da luz do luar. O saco não estava mais pressionado em seu pescoço, e uma sensação de desconforto pairou em sua garganta. A garota começou a tossir desenfreadamente, e em seguida, retirou o aquele item de sua cabeça, puxando todo ar que havia ao redor para os seus pulmões. Ela respirava intensamente, como se fosse a primeira vez que estivesse fazendo aquilo na vida.
Assim que conseguiu ficar sentada novamente, reparou que nem no céu, nem no inferno, ela continuava naquela floresta, que em sua concepção, era muito pior do que o próprio inferno. Logo barulhos de gemidos agonizantes puderam ser ouvidos ao seu lado, e ao olhar de onde vinham, deparou-se com Nicolas, e o homem que dizia-se ser Charles Hull.
O professor imobilizava o assassino, mantendo seu antebraço pressionado totalmente no pescoço do elemento, e seus joelhos inclinados na barriga dele. Ambos fatores obrigavam Charles a ficar no chão, mas que por sua vez, apesar de velho, era grande e pesado, e de tanto debater-se debaixo de Nicolas, sabia que uma hora conseguiria sair dali.
— Foge, Marion! — Nicolas gritou, com os dentes cerrados, olhando para a garota de relance.
Marion sentia seu coração descompassado e seu corpo trêmulo. Sua respiração que antes era intensa, começou a ficar novamente difícil. Em sua memória veio a imagem de Inez. Seu rosto machucado e seus olhos cheios de lágrimas, proferindo as últimas palavras:
— Marion, me ajuda... ele está atrás de mim!
Haviam sido últimas desperdiçadas. A jovem sempre questionou-se o que aconteceria se ela tivesse encontrado alguém mais corajoso naquela época, como Roberta, Cameron, ou até mesmo Marcus. Inez poderia estar viva se encontrasse alguém que não fugisse. Alguém que não fosse tão covarde.
— Corre, Marion! Vai logo! — O professor gritou novamente, dessa vez, mais raivoso.
Ela não iria fugir. Não daquela vez. Marion afundou as mãos no fundo de sua bolsa, que continuava cruzada em seu corpo, e retirou uma pequena embalagem preta, estampando em suas laterais um punho cerrado. A garota nunca havia usado aquele borrifador de pimenta, mas aproximou-se de Charles Hull abruptamente, e lançou uma quantidade exagerada em seus olhos, fazendo com que o homem gritasse de dor.
Em seguida, a garota pegou seu celular, com o objetivo de ligar para polícia ou pedir ajuda para Marcus, porém, como esperado, o aparelho estava sem sinal devido a área na qual estavam localizados. Ela começou a andar em círculos, enquanto tentava ao menos encontrar o mínimo de rede possível, porém, nada acontecia. Suas tentativas consecutivas de mensagens de texto para o seu irmão também falharam.
— Não consigo sinal. — Marion informou, passando as mãos pelo cabelo.
— Sai daqui, Marion! Eu já disse! — Nicolas gritou, ainda por cima de Charles, que estava cada vez mais descontrolado. — Não vou conseguir segura-lo por muito tempo.
Após dizer aquilo, o velho que debatia-se de todas as formas possíveis na tentativa livrar-se de Nicolas, levantou sua mão esquerda, que envolvia um objeto sólido — facilmente identificado como sendo uma pedra — e acertou a cabeça do professor, que logo caiu inconsciente no chão. Em um sobressalto, Charles já estava em pé novamente, com um olhos ainda mais carregados pelo ódio. Dentro dos bolsos de seu enorme agasalho retirou uma faca, e seguiu em direção ao corpo de Nicolas que jazia no chão.
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A Morte Te Segue
Mystery / ThrillerNa Universidade do Colorado em Boulder, após o caos ser orquestrado, há paz. Após uma semana intensa de provas, há férias. Após um semestre de recuperação, há festas de fim de ano. Porém, ninguém esperava que os tão esperados jogos universitários se...