Capítulo 21

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"Devemos construir diques de coragem, para conter a correnteza do medo."
Martin Luther King

— Meu nome é Marion Sparza, tenho vinte e um anos, e alguns me conhecem por ser filha do senador Robert Sparza, já outros me conhecem pelas polêmicas envolvendo meu nome em cinco assassinatos cometidos em Los Angeles; Inez Hull, Madison Farrel, Molly Berry, Ariana Hudson e Amelie Kemp. — Assumiu, enquanto observava a câmera logo à sua frente. — Por um ano acharam que eu era a sexta vítima, pois eu acabei entrando para lista de desaparecidos. Tinham a convicção que meu corpo nunca havia sido encontrado, mas na verdade, estou aqui, com o coração batendo, sangue correndo nas veias, e mais confusa do que nunca. Esse tempo todo eu não havia desaparecido, mas sim, fugido. Robert Sparza, meu pai, me ajudou a criar uma nova identidade, e passei a viver em Boulder. Esse tempo todo me escondi atrás de um novo nome, e tenho que confessar que viver essa nova vida, por um certo tempo, foi mais fácil do que continuar vivendo a minha antiga vida. Porém, uma pessoa especial me ensinou que uma felicidade inventada, não é felicidade. Nosso passado sempre aparece para nos assombrar, então resolvi me revelar e assumir o peso de ser quem eu sou. — Pronunciou, determinada. — Gostaria de ressaltar que não cometi esses crimes, sou mais uma vítima, e estou sendo constantemente ameaçada. Sinto muito pelo alvoroço que causei, desculpa a todos que dedicaram o seu tempo para me encontrar, sei que gerei muita dor de cabeça enquanto estive longe. Agradeço a compreensão.

— Perfeita. — O rapaz que segurava a câmera especulou. — Vai ser um sucesso quando publicarmos.

Marion havia decidido revelar a verdade para todos após as duras palavras de Nicolas, e após um longo dia pensando nas atitudes que poderia tomar, decidiu telefonar para o jornal mais famoso do Colorado, conhecido pela imensa gama de notícias, tanto em sites, quanto televisivas. Quando ela anunciou quem era, e assunto que seria abordado, no mesmo dia foram visitá-la. O discurso havia sido feito em seu quarto, sem muita preparação, pois o jornalista havia dito que com uma notícia dessas, o cenário seria o item menos importante

— Quando será publicado? — Ela questionou, observando o rapaz guardar o equipamento à sua frente.

— Amanhã no período da manhã.

— Sobre Leonora e Olga, não quero que coloquem nada sobre elas na notícia...

— Sabe que não vão demorar muito para associarem, né?

— Sei. Mas espero que associem sozinhos.

— Tudo bem. Até a próxima, senhorita Sparza. — Especulou, caminhando em direção a saída.

— Espero que não precise ter próxima...

O rapaz estreitou o olhar sutilmente para trás, lançou um sorriso complacente, e sem remediar, disse:

— Depois dessa notícia, acho que iremos nos encontrar com frequência.

Após muitos anos, Marion conseguia sentir com tudo isso uma sensação de nostalgia, e consequentemente lembrou-se das vezes em que desafiava seu pai, antes do falecimento da sua mãe, sua grande protetora. Elisa Sparza sempre havia sido sua melhor representatividade, e ao contrário de seu pai que fazia ela sentir medo, Elisa fazia com que ela se sentisse encorajada. Com sua mãe ao lado não era difícil enfrentar os obstáculos, mas desde que ela faleceu, levou junto uma parte da filha; a parte que tinha voz. 

Marion nunca achou que essa parte perdida iria reaparecer novamente, mas a pessoa capaz de trazê-la de volta havia sido a última que esperava. O professor audaz e paspalhão, que por muito tempo ela havia criticado, e por quem, inclusive, prosseguia negando seus sentimentos.

Nicolas Owen não havia ensinado ela a ter coragem, mas havia ensinado ela a resgatar a coragem que sempre esteve dentro de si. A coragem de enfrentar seus problemas e encarar seus sentimentos. Marion sempre evitou nutrir sentimentos por alguém, pois acreditava que criar laços era a mesma coisa que colocar-se a dispor do sofrimento e abandono. Desde a morte de sua mãe a garota cultivava um medo de perder as pessoas ao seu redor, que somente haviam sido aguçados com os diversos assassinatos de suas amigas. Todos acontecimentos que decorreram em sua vida eram o motivo dela ser uma pessoa retraída e de pouca aproximação.

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