Capítulo 24

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"No que diz respeito às grandes somas, o mais recomendável é não confiar em ninguém."
Agatha Christie.

— Marion Sparza, filha do senador Robert Sparza, está sendo acusada dos assassinatos de Inez Hull, Madison Farrel, Molly Berry, Ariana Hudson, Amelie Kemp, Leonora Leach, Olga Dyer e a última jovem encontrada nessa manhã, Roberta Sheppard, que havia viajado para Boulder somente com o objetivo vê-la. — Uma jornalista loira e alta pronunciou, seu nome aparecia logo abaixo de sua imagem: Eve Palmer. — Marion morava em uma república e estudava na Universidade do Colorado em Boulder. Esse tempo todo, para fugir de seus crimes, ela forjou seu próprio desaparecimento, começando uma nova vida em outra cidade, com o nome de Margot Franco, que segundo ela, conseguiu com a ajuda de seu pai. Marion ficará presa preventivamente até o dia de seu julgamento, pois há um receio das autoridades com uma nova tentativa de fuga, e ela, no momento, é considerada um perigo para as pessoas ao redor.

Nicolas suspirou ao olhar para televisão. O relógio já beirava às onze da noite, e seu coração por todo aquele momento permaneceu palpitando de maneira dilacerante desde que Marion havia sido levada. Por mais que tentasse não conseguia conter sua extrema amargura. Com as mãos trêmulas e o corpo sobrecarregado por um fio de eletricidade percorrendo em suas veias, o homem batia o pé consecutivamente no chão, enquanto permanecia sentado no sofá. Ele queria fazer algo para livrá-la daquelas terríveis acusações, mas não conseguia pensar em nada.

— Filho, para de ver essas coisas. Você está ficando mal. — Harris parou em sua frente, bloqueando sua visão para a televisão.

O professor nem havia percebido que seu pai já havia chego em casa devido ao estado atônito em que estava. Ao levantar o rosto e encontrar a face envelhecida de seu pai, Nicolas suspirou, deixando lágrimas escaparem de seus olhos, mas que foram impedidas de deslizarem por seu rosto porém, suas próprias mãos fizeram questão de escondê-las rapidamente. Mesmo com uma ânsia em seu corpo querendo entregar-se ao choro, ele havia crescido de uma maneira dura, cujo o choro não fazia parte da conduta que havia aprendido a ter. Amanifestação de sua criança interior gritando para ele não ceder a esse sentimento falava mais alto.

Harris nunca havia visto seu filho entregue daquela forma e aquilo lhe preocupava. Era evidente sua tentativa de reprimir seus sentimentos diante daquela situação, mas ao mesmo tempo, era inevitável não notar o quanto ele estava afetado. O velho sentou-se ao seu lado, passou os braços pelos ombros do filho, e puxou ele para um abraço, sussurrando em seu ouvido:

— Pode chorar, filho. Faz bem.

Alguns segundos após dizer aquilo, Harris sentiu seu pescoço ficando molhado pelas lágrimas de Nicolas, que rolavam desenfreadamente, enquanto sua respiração ficava cada vez mais pesada. Harris lamentava não ter ensinado ao filho desde cedo a importância de demonstrar seus sentimentos. A verdade é que ele nunca havia sido muito presente em sua vida, obrigando que o menino, desde adolescente, se sentisse responsável pela mãe e pela irmã.

A vida em Fort Collins havia sido algo em que ambos preferiam deixar no passado, mas ao mesmo tempo, era impossível negar o quanto ela havia sido difícil. Harris Owen era a única fonte de sustento de sua família, e por passar muito tempo perambulando pelos bares da cidade, chegando até mesmo perder o seu emprego por ir trabalhar alcoolizado, Nicolas, com seus quatorze anos, viu-se obrigado a suprir as necessidades de sua família. Ele conseguiu um emprego em um supermercado próximo de sua casa, e com aquele salário, sustentava a todos. Apesar de reconhecer todos os esforços de seu primogênito, Harris não tinha forças para extinguir a bebida de sua vida, então continuou afundando-se cada vez no vício, chegando ao ponto que até mesmo de sua mulher abandoná-lo. Nicolas, para não desamparar o velho pai que vivia caído pelas ruas, mudou-se para Boulder com ele, deixando sua mãe e irmã em Fort Collins. Com muito esforço, fazendo diversas horas extras em um outro emprego que havia arrumado como garçom em um restaurante de alta classe, o rapaz pagava seus estudos, sustentava a casa, e ainda fornecia dinheiro para a mãe e irmã. Até que seu pai, sentindo-se culpado, procurou um tratamento, e por fim, depois de muito tempo lutando contra suas vontades, conseguiu arrumar um emprego na Universidade do Colorado em Boulder assim que seu filho começou a trabalhar lá como professor, e recomeçou sua vida.

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