Capítulo 29

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"Há sempre a escolha entre voltar atrás para segurança ou seguir em frente para o crescimento. O crescimento deve ser escolhido uma, duas, três e infinitas vezes; o medo deve ser superado uma, duas, três e infinitas vezes."
Abraham Maslow.

A vida dentro daquela casa tornavá-se mais leve com Nicolas por perto, e nos últimos dias  que decorreram antes do julgamento, eles dedicaram-se em terminar a pintura das paredes de seu quarto, que aos poucos ficaram totalmente azuis. O motivo de tanta demora para pintarem aquelas paredes era que sempre que começavam, acontecia alguma intervenção, seja uma brincadeira inesperada ou até mesmo uma implicância forçada, como por exemplo, o professor criticando incessantemente o gosto musical calmo e pacato que a jovem costumava a ouvir, tentando lhe inserir com persistência algo mais agitado. Nesse dia em especifico, eles tiveram até mesmo que parar a reforma, sentarem um de frente para o outro, e começarem a defender o suas melodias favoritas e artistas que admiravam. Após um longo debate centrado, Nicolas prometeu dedicar-se em analisar a extensão das músicas monótonas de Marion, e por mais que sejam tristes, concentrar sua atenção nas belas letras que traziam. E a garota, por sua vez, prometeu com muita relutância tentar ouvir as músicas extravagantes que Nicolas havia indicado.

A paz durou por um curto período de tempo, especificamente, até chegar o dia seguinte e o professor convidá-la para tomar sorvete em uma sorveteria próxima, e ela anunciar que detestava sorvete e doces no geral. Nicolas tentou assimilar aquela informação em sua mente, mas não conseguiu pronunciar palavras agradáveis ao ouvir aquilo, então proferiu, sem remorso:

— Uma pessoa que não gosta de doces já morreu por dentro faz tempo. — Zombou, enquanto pensava em qualquer outro lugar que pudesse levá-la.

No fim, acabaram em um restaurante bistrô, optando por um cardápio mais diversificado, com vários tipos de alimentos desimpedidos do famigerado açúcar. Apesar de Marion ser restritamente proibida de sair de casa pelo seu pai, — e anteriormente pela polícia, fazendo com que cumprisse prisão domiciliar até seu julgamento — durante esse período conturbado, graças ao vídeo de Alexander fazendo suas confissões sujas, a polícia impôs que não seria necessário se abster da humanidade até a data da audiência, e os repórteres que tanto a atormentavam, começaram a atormentar, dessa vez, a família de Alexander e de Inez Hull. Como sempre, com questões desagradáveis, tirando o conforto de qualquer familiar, principalmente daqueles que já tiveram seus filhos friamente assassinados.

O tempo que passava com o Nicolas a ensinava entender duas coisas importantes na vida, das quais, antes duvidava; os opostos se atraem, e suas picuinhas com aquele homem antes, na verdade, eram um intenso magnetismo, que como ela não conseguia controlar e nem entender, lutava para esconder. A segunda, mas não menos importante; seus medos não cessam apenas colocando em uma caixinha, e sim, enfrentando cada um deles. Sem exceções.

Marion achou que já havia aprendido a parte de enfrentar seus medos, mas havia deixado o pior dos medos par trás; seu temeroso pai. Mas mais uma vez, mesmo que de uma forma inconsequente, Nicolas a fez enxergar a realidade. Seu pai era o principal medo que deveria ser enfrentado para que finalmente conseguisse coragem de enfrentar o restante.

Somente de pensar em tomar uma atitude contra os mandamentos daquele velho poderoso, a garota sentia seu estômago revirar e mãos formigarem. Porém, aquela era uma atitude necessária, e ela estava disposta a fazer algo com relação ao controle que o pai sempre obteve dela. Marion não estava disposta a ouvir ele falando para os repórteres sobre ela ser uma garota mimada, e sobre o fato mentiroso dela ter forjado uma identidade falsa por conta própria, com o objetivo de chamar a atenção. Aquilo era uma calúnia, e a garota pensava que na concepção da justiça, calúnia também deveria ser um crime injustificável.

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