— Isso é lenda. História para colocar medo em criancinha que vai dormir tarde. — Fred pronunciou, olhando para o rosto da namorada.
Frederico Karlsen sabia que sua namorada, Kate, era uma grande amante de histórias de terror, e somente por isso resolveu acampar na Floresta Nacional de Los Angeles com ela. A garota estava animada ao fazer aquilo, e Frederico odiou a ideia de desapontá-la. Na verdade, todos odiaram a ideia de desapontá-la, já que ela conseguiu levar não somente ele para lá, mas também, seus dois melhores amigos, Bexley e Jeremy.
— Alguns dizem que é lenda, outros dizem que é real. — Kate prosseguiu, iluminando o seu rosto com uma lanterna, e fazendo uma cara assustadora. — Eu não sei. De qualquer forma, você parece estar com muito medo, Frederico... Estou sentindo a sua tensão.
— É verdade. Eu tenho uma amiga, que tem uma prima, que tem uma irmã, que conhece essa menina, a Marion. — Bexley, anunciou. Ela mascava um chiclete sem nenhuma sutileza, enquanto alisava as madeixas loiras de seu própria cabelo. — Dizem que hoje em dia ela usa camisa de força e mora em um sanatório.
— Me disseram que ela morreu, e algumas pessoas conseguem escutar o choro de dor dela quando vem acampar por aqui. — Kate voltou a pronunciar, iluminando novamente o seu rosto pálido com uma lanterna. Seus olhos azuis ficavam esbugalhados, e sua boca inclinava para baixo.
Não havia necessidade de lanterna, já que havia uma fogueira no centro do acampamento. Porém, Frederico sabia que sua namorada gostava de deixar as coisas mais emocionantes e assustadoras. Ele admirava a forma com que ela contava aquelas histórias com tanta facilidade.
— Tem um memorial para todas vítimas do Marte. — Jeremy, o mais quieto do grupo, disse. — Dizem que é possível escutar gritos daquele memorial à noite. — Ele mantinha uma expressão séria. — E aqui nessa floresta, é possível ouvir o barulho de pessoas correndo. Alguns dizem que é Inez, outros dizem que é Marte procurando uma nova vítima.
Todos ficaram reflexivos com o que Jeremy havia dito. A partir do momento em que aquele garoto, de poucas palavras, trajando roupas escuras e usando uma franja coberta em seu olho esquerdo, começava a falar, era impossível não sentir nenhum tipo de arrepio ao ouvir.
— Calma, gente. — Bexley tentou tranquilizar. — Dizem também que é uma história de amor. Que ela ficou com o professor Nicolas no final.
— Mas ele não tinha morrido no começo da história? — Frederico indagou, confuso.
— A minha amiga, que tem uma sobrinha, que tem um namorado, que conhece a Marion, dizem que eles casaram. — A loira informou. — E que tem uma árvore aqui que Nicolas escreveu o nome dos dois, mas ninguém nunca encontrou. — Emitiu um suspiro, enquanto esbanjava um sorriso. — É tão romântico, né Jeremy?
— Eu vou dormir. — Jeremy levantou-se, e caminhou em direção à barraca, deixando Bexley emburrada para trás.
— Eu desisto de conquistar esse homem. — Admitiu, levantando-se do chão em que estava sentada, e caminhando em direção à barraca do lado de Jeremy.
Frederico e Kate deram risada da situação, e logo entraram na em seus abrigos também, já que iriam dormir juntos. A fogueira continuava acesa ao lado de fora, e o rapaz, com sua namorada sendo dominada aos poucos pelo sono, questionava-se sobre a veracidade daquela história. Ele já havia visto algumas coisas sobre aquele caso, mas pelo fato do assassino nunca ter sido pego, e Marion não ser muito vista, não tendo nem mesmo redes sociais, várias pessoas cogitam se aquilo de fato aconteceu. O público fazia seu próprio desfecho. Às vezes falavam que era uma história de amor, outras, de terror. — Aonde quer que estejam, se existirem ou não, somente Nicolas e Marion sabem da verdade. — Fred ponderou.
A fogueira cessou.
O rapaz levantou-se, ficando sentado no colchão em que antes tentava dormir, e encarou o rosto de Kate embargado no sono. Ela estava em um repouso tão sereno que ele não conseguia encontrar forças para acordá-la. Frederico decidiu pegar a lanterna que deixava embaixo do travesseiro e saiu da barraca, seguindo em direção às árvores. Se há uma coisa que ele não queria fazer, era adentrar naquela floresta, aquela hora da madrugada, ainda mais depois de ouvir aquela história. Porém, o rapaz tinha necessidades fisiológicas à serem feitas.
Assim que ficou à uma certa distância do acampamento, Fred abriu as calças, e mirou em um canto qualquer, sentindo sua bexiga esvaziar novamente. Emitiu um suspiro de alívio ao realizar aquela atividade.
Quando já estava pronto para seguir seu destino de volta para as barracas, olhou à sua volta, e todo canto que iluminava com sua lanterna parecia ser exatamente igual. O rapaz não lembrava mais de qual local havia vindo.
Em desespero, resolveu seguir por um caminho aleatório, torcendo mentalmente para ser o correto. Fred iluminava com sua lanterna toda área pela qual percorria. O seu rosto suava em agonia, e um calafrio tomava conta de cada partícula do seu corpo. Até que sua lanterna captou algo curioso. Uma árvore, mas não qualquer árvore, pois nela, continha um esboço. Um coração torto, e dentro do coração estava escrito "Nick e Mari". Frederico piscou repetidas vezes para ter certeza que o que estava vendo era real, e sim, aquilo era real. O rapaz, apesar da situação que encontrava-se, não pode evitar um sorriso ao deparar-se com aquilo.
Frederico concluiu que assim que amanhecesse faria a mesma coisa com o seu nome e o de Kate, porém, seus devaneios foram interrompidos por um barulho e um vulto entre os troncos. O rapaz resolveu seguir o barulho, e correu em sua direção. Ele pensou que talvez alguém do grupo também pudesse ter tido uma necessidade fisiológica à aquela hora, mas quando finalmente conseguiu alcançar o som, sentiu-se arrependido.
O rapaz não esperava encontrar aquele individuo com uma máscara preta, touca cobrindo a cabeça, luvas na mão, segurando uma faca consideravelmente grande. Fred não pode evitar o pânico ao ter aquela imagem, que até então fazia parte apenas da lenda, em sua frente. Ele não conseguia correr, porque simplesmente havia ficado paralisado no local.
Havia algo de muito estranho naquilo, e o garoto após reparar que a pessoa mascarada estava em cima de um tronco para ficar mais alto, finalmente percebeu que quem estava vestido de "Marte" provavelmente era muito baixo, esforçando-se consideravelmente para assustá-lo. Não demorou para ele ligar os pontos e deduzir quem era.
— Kate? — Ele questionou, sem ânimo.
— Você precisava ver sua cara! — Ela gargalhava alto, retirando a máscara do rosto. — Parecia que iria desmaiar! — Aproximou-se do rapaz.
— Engraçadinha. — Bufou. — Eu achei uma coisa... sobre a história.
— O que? — A garota questionou, animada. — Uma faca? Provas de crime? Um túmulo? — Kate prosseguiu com suas diversas perguntas. Uma atrás da outra. — Ou melhor, um cadáver?
— Não! — Fred riu.
Kate fazia de tudo para que aquela história ficasse mais horripilante ainda. A prova viva disso era o fato que dela ter se fantasiado de assassina em uma floresta escura, somente para assustar seu namorado. Frederico, com medo de alguma forma decepcioná-la, ou impedi-la de contar sua lenda urbana sobre "Marte", optou por não falar para ela que na verdade, daquela vez, a história havia tido um final feliz, e que em partes, também havia sido uma história de amor.
— Nada. Eram só vultos. — Ele respondeu, observando a fisionomia animada de Kate passar para decepção.
O rapaz pegou na mão da namorada, e torceu mentalmente para ela saber o caminho de volta. Por sorte, ela não hesitou, e começou a caminhar com ele ao lado, sem parecer que estava perdida. Havia sido uma ida no banheiro, mas ele voltou de lá com uma confirmação. — Agora, além de Nicolas e Marion, eu também sou uma testemunha desse amor. — Fred ponderou, com um sorriso no rosto.

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A Morte Te Segue
Mystery / ThrillerNa Universidade do Colorado em Boulder, após o caos ser orquestrado, há paz. Após uma semana intensa de provas, há férias. Após um semestre de recuperação, há festas de fim de ano. Porém, ninguém esperava que os tão esperados jogos universitários se...