Capítulo Um

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Rol Fisher:

Julgo que nem consigo lembrar da última vez que utilizei um portal para o submundo, especialmente não estando na minha forma de lobo, algo que geralmente eu mesmo crio.

Sabia da existência de carros capazes de atravessar a barreira do mundo sobrenatural, mas nunca estive dentro de um. Devo confessar que essa foi a pior decisão que tomei, pois parece que seu corpo se desfaz junto com o carro, apenas para se reagrupar em outro lugar, causando uma confusão tumultuante no próprio estômago.

— Como está se sentindo? — indagou Santiago, apertando minha mão.

Observo o pulso dele, decorado com uma pulseira que revela um contrato com Carmuel, um acordo do qual ele optou por não me informar.

Sinto uma aversão profunda por aquele indivíduo que afirmou que ele e sua irmã não podiam compartilhar o mesmo carro que um beta imundo e um simples mundano.

— Estou bem — disse, olhando para a janela e vendo apenas a escuridão do portal, limpando minha boca. — Não entendo por que quis vir. A empresa precisa de você. Fazer esse contrato com ele é uma perda de tempo.

— Você precisa mais. Todos sabem que eu nunca daria as costas para o meu filho — afirmou Santiago. — Não posso ajudar minha empresa enquanto meu garoto estiver em perigo ou sendo escravo de um alfa idiota. Meu contrato com ele trata de outro assunto no qual ele me jurou fidelidade, e eu sei como fazer bons acordos com qualquer indivíduo.

Acabei rindo. Só Santiago, um mundano, para chamar um alfa dominante de idiota na cara dura ou dizer que o incluiu simplesmente em um contrato.

— Vou garantir que ele pare de usar ameaças contra a sua empresa — afirmei, voltando meu olhar para Santiago. — Carmuel não irá destruir seu sonho de ajudar submundanos que não têm como se alimentar e viver como bem entendem.

Não permitiria que o lugar onde ele dedicou uma vida para construir fosse destruído dessa maneira, e se isso acontecesse, seria algo que eu nunca conseguiria me perdoar.

— Rol, posso reconstruir a empresa de outra maneira — disse Santiago docemente. — Não se arrisque mais do que pode fazer, afinal, você é uma pessoa que tem limites. Não vá além deles por uma simples empresa. Negócios podem ser destruídos e logo em seguida reconstruídos.

Sorri, e Santiago apertou minha mão com força, transmitindo preocupação em seu olhar para mim. Eu queria tanto dizer que sei que não posso mudar a mente de um alfa dominante, mas não vou quebrar minha promessa de ajudar o homem que cuidou de mim desde que me conheceu. No entanto, parte do meu orgulho foi desafiado por Carmuel ao me forçar a esse acordo.

— Santiago, sei que posso fazer isso — falei, retribuindo o aperto em sua mão. — Se consegui suportar a humilhação da minha família por anos após descobrirem que sou um beta, posso enfrentar o que um alfa tem para me mostrar.

Minhas palavras devem ter causado preocupação em Santiago, que me olhou atentamente, mas seus olhos se fixaram na pulseira por alguns segundos.

— Confia em mim! — disse, suspirando. — Vou encontrar um jeito de nos livrarmos desse idiota.

— Sempre vou confiar — disse Santiago, mas ele parecia meio estranho ao olhar para a pulseira — Mas não se coloque em riscos desnecessários.

— Não vou — falei calmamente, mas por dentro, sabia que isso iria acontecer. Afinal, se Carmuel provocasse, eu iria revidar com tudo que tenho.

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Conversei com Santiago até que olhamos para as janelas do carro, momento em que a escuridão se desfez.

O Jovem Soldado(ABO/MPreg)Onde histórias criam vida. Descubra agora