Capítulo Dezesseis - 1°parte

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Carmuel So-jeff:

Examinei o mapa, uma representação precisa do labirinto de nevascas e perigos que cercava nosso trajeto. A concentração era palpável, até que uma dor aguda e penetrante se abateu sobre meu peito. Foi como ser atingido por uma flecha, e cambaleei, buscando apoio na beirada do barco, com o mapa amassado em minhas mãos, agora marcado pelas garras que emergiram involuntariamente.

A dor era intensa, quase insuportável, obscurecendo meu pensamento e quase impedindo minha respiração. O aperto no peito parecia ser o elo frágil que me ligava à marca de Rol, enquanto suas memórias inundavam minha mente.

Virei-me apressadamente e corri para a parte inferior do barco, buscando a orientação de Tri sobre o que estava acontecendo. Ao abrir as portas do andar de baixo e entrar, a dor no peito momentaneamente diminuiu. No entanto, enquanto cambaleava pelo corredor, a sensação de calor intenso invadiu meu corpo, e o suor encharcou meus cabelos. Arremessei minha blusa de frio, sentindo como se uma onda de calor avassaladora me envolvesse.

Engasguei, meu coração pulsando em uma mistura de pavor e desespero. Seria apenas a distância da marca que me afetava, ou a joia estava tentando me levar à loucura completa? Nunca experimentara algo semelhante, nem mesmo nos piores momentos da maldição da loucura.

As imagens das memórias de Rol desapareceram abruptamente de minha mente. Tudo se tornou branco por um instante, e o corredor, antes escuro, iluminou-se como se ácido tivesse sido derramado sobre mim.

Curvado até os joelhos, vomitei, tentando expulsar a sensação avassaladora. Quando os espasmos cessaram, levantei-me, ainda cambaleante, afastando-me do local como se tentasse escapar da própria dor.

Apoiei-me na parede do banheiro, abri a porta e liguei a torneira, mergulhando as mãos na água gelada. Encarei meu reflexo pálido e assustado no espelho. Minha camisa exibia uma mancha vermelha, no exato local onde a marca de Rol fora feita.

Com mãos trêmulas, segurei a pia para evitar a queda, desconfiado até mesmo de meus próprios pés. Sob a luz fraca do pequeno espaço, vi o símbolo da marca da escravidão se formando na parte inferior da minha barriga, revelando-se em sangue. Toquei para verificar sua realidade, constatando que minhas mãos estavam cobertas de sangue e água, a mesma água que usei para limpar o sangue do peito, revelando o símbolo que agora desbotava e borbulhava como ácido. A dor me deixava confuso, minha mente envolta por segundos de perplexidade diante do que acabara de ocorrer. No aperto sufocante do banheiro, o eco dos meus soluços misturava-se com o som da água corrente, e minha respiração ofegante ecoava contra as paredes estreitas. A imagem no espelho refletia um rosto pálido e desesperado, os olhos dilatados trazendo a angústia de uma dor que não se limitava ao físico, mas penetrava fundo em minha alma.

A dor persistia, não apenas no peito, mas como se cada batida frenética do meu coração trouxesse consigo uma onda de desespero e confusão. A sensação de calor ainda envolvia meu corpo, tornando-o quase insuportável.

Meus dedos tocavam a marca na barriga, uma marca que parecia agora pulsar com uma vida própria. Sangue escorria pelas mãos, uma mistura de vermelho e água, testemunhando a manifestação do símbolo da escravidão. Era como se a própria marca estivesse reagindo, uma resposta viva à distância de Rol.

Afastei-me do espelho, cambaleante, como se fugisse da verdade que se revelava diante de mim. A cada passo, a dor persistia, como uma ferida aberta que se recusava a cicatrizar. O corredor do barco, antes um refúgio familiar, tornou-se um labirinto escuro e desconhecido.

A voz de Tri, preocupada, ecoava na minha mente, mas as palavras pareciam distantes, perdidas na névoa da minha agonia. A ideia de enfrentar o que quer que estivesse acontecendo tornou-se um desafio avassalador. Cada respiração era um esforço, e a confusão turvava meus pensamentos.

O Jovem Soldado(ABO/MPreg)Onde histórias criam vida. Descubra agora