Capítulo Trinta e Um

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Rol Fisher:

Com as palavras de Valmir, quis começar a rir. Só pode ser loucura pensar que uma pessoa como Carmuel, com sua força e determinação, iria negar seus sentimentos por puro medo e covardia. Ainda mais os negativos, como se isso fosse tão fácil! Claro que existe esse feitiço, como se fosse a coisa mais comum do mundo: se a pessoa quiser recomeçar com algo novo, ou se tiver sentimentos negativos contra si mesma, pode até mesmo criar um monstro que fará de tudo para se libertar.

— Já faz muito tempo —disse Carmuel. Ele pediu uma sopa leve ao atendente e tentou se sentar, mas ele parou de repente e me analisou. — Vejo que seus treinos já terminaram. Me relataram que você está se forçando a fazer treinamentos mais rigorosos e sempre retruca minha irmã quando ela diz que você vai continuar.

Ele me olhou como se isso fosse algo que ninguém deveria fazer: ir além de suas limitações. Carmuel nunca tinha conseguido entender tão bem suas expressões, ou se ele demonstrava isso tão abertamente sem se esconder. Claro que já notara os gestos dele para si, mas ainda assim era loucura.

— Sim, falei. Preciso estar apto para as coisas. Quanto mais tempo treinar, melhor vou ficar. Posso descansar quando ficar melhor em usar magia sem me desgastar.

— Você deveria respeitar suas limitações, Carmuel disse.

— Posso descansar depois. Não se preocupe tanto, eu sei muito bem até onde posso ir — falei.

Fui corajoso para enfrentar aquele homem. Quando eu era um pouco mais jovem, todos os meus parentes me tratavam da mesma maneira, então eu o fiz o mesmo, soando friamente. Me perguntava se eu deveria colocar um encanto para trancar os sentimentos dentro do meu peito. Sei de todos os riscos que isso pode causar para alguém e o grande problema que pode trazer para a vida de todos.

Uma vez, Santiago disse que quanto mais gentil e amoroso for o homem, mais esclarecido ele será. Ou, quanto mais problemático, menos esclarecido poderá ser.

Essa pessoa é uma pessoa completamente distante.

Carmuel me observava com o cenho franzido.

— Rol, ele disse, sua voz suave mas firme. Você está se esforçando demais.

Quando notei, ele pegou minha mão e fez com que eu desviasse o olhar.

— Eu preciso ficar mais forte. Preciso estar pronto, falei.

— Sim, mas você também precisa descansar, Carmuel disse. Você está se desgastando, e isso não é bom para você nem para ninguém.

Isso me fez suspirar.

— Eu sei, Carmuel. Mas eu não posso parar. Há muito em jogo.

— Eu entendo — Carmuel disse. — Mas você precisa encontrar um equilíbrio. Você não pode se sacrificar completamente. Pense: tem muitos que se preocupam com você abertamente. — Ele sorriu para mim com delicadeza. — Ouvi dizer que seus estudos com a magia estão caminhando muito bem. Posso pensar que isso foi graças a Tri, mas sei que ela é a melhor pessoa que poderia confiar para que você ficasse bem é a melhor bruxa que eu conheço — ele disse soltando um risinho inocente que me fez ficar em descrença, e a colher com a qual se preparava o guisado parou bruscamente a centímetros da minha boca. O olhar claro dele varreu ao meu lado. — Claro que isso também está sendo resultado do seu desejo de aprender, e isso que te faz fantástico.

Quando me dei conta, Carmuel se inclinou na minha direção, pegou minha mão e deu um beijinho na palma.

Entendo por que Valmir o ama terrivelmente. Carmuel é completamente diferente, então era desse jeito que ele mesmo era antes de se fechar tão fundo em seu coração que nem percebeu o que estava fazendo consigo mesmo.

O Jovem Soldado(ABO/MPreg)Onde histórias criam vida. Descubra agora