Capítulo Trinta e Dois

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Rol Fisher:

Carmuel retirou a mão lentamente, seu olhar magoado cravado em mim.

— Você tem razão — disse ele, a voz baixa. — Minhas emoções negativas estão trancadas, mas isso não significa que eu não as sinta. Talvez seja por isso que precise tanto de você ao meu lado, para me ajudar a lidar com todas elas.

Ele suspirou, ombros caídos.

— Não estou pedindo que você seja uma ponte para Valmir, nem que ignore o que sente. Só quero que considere a possibilidade de ficar. Podemos descobrir esse novo sentimento juntos, aprender a lidar com a dor e a alegria que ele traz.

Um silêncio pesado se instalou entre nós, quebrado apenas pelo tilintar da colher contra a tigela de sopa. Eu sabia que Carmuel tinha razão. Fugir dos meus sentimentos não era a solução. Mas a ideia de me entregar a algo tão incerto, tão desconhecido, me aterrorizava.

— Eu... preciso de um tempo para pensar — consegui articular finalmente.

Carmuel concordou com um gesto de cabeça, seus olhos cheios de compreensão.

— Claro. Eu entendo. Mas prometa que vai pensar com o coração, e não com o medo.

O silêncio se estendeu entre nós, uma névoa densa e sufocante que pesava sobre a mesa. Meus olhos se fixaram em Carmuel, observando cada nuance de sua expressão, buscando pistas sobre o que se passava em seu interior. Havia mágoa em seus olhos, mas também uma esperança teimosa que se recusava a apagar.

Enquanto ele terminava sua sopa, meu coração se debatia entre a culpa e a incerteza. Suas palavras ecoavam em minha mente, martelando em meu crânio como um tambor insistente.

— Fique — ele havia implorado. — Descubramos esse novo sentimento juntos.

Mas como? Como poderia me entregar ao desconhecido quando o medo me consumia por dentro? As lembranças de Valmir ainda assombravam meus sonhos, fantasmas que me assombravam a cada passo. A dor da perda ainda era recente, uma ferida aberta que sangrava a cada nova emoção.

Levantei-me da mesa, abafando o som dos meus próprios pensamentos. A necessidade de escapar era sufocante, um aperto no meu peito que me obrigava a fugir.

— Preciso ir — murmurei, a voz rouca pela falta de uso.

Carmuel assentiu, seus olhos compreensivos.

— Eu entendo — ele disse, sua voz suave e resignada. — Mas não se esqueça do que eu disse. Pense com o coração, não com o medo.

Saí do lugar o mais rápido que pude, meus pés me levando para longe daquela conversa, daquelas emoções que me consumiam. O ar fresco da noite me atingiu em cheio, mas não conseguiu dissipar o calor que emanava do meu interior.

Meus pensamentos eram um turbilhão, uma tempestade de dúvidas e incertezas. Tiffany e Karen, seria bom ver elas e até conversa com a Karen e sendo o único que entende ela. Com passos apressados, caminhei em direção a entrada que estava com saudades de ver, abri a porta e nas paredes várias tochas que brilhavam com um fogo roxo.

— Lá vou eu — falei, começando a descer os degraus. Foram quarenta degraus até chegar no andar onde se ouviam alguns sons animalescos, e meu lado lobo queria sair, correr atrás desses monstros e lutar. Isso me deixou animada demais.

Encostei-me na parede, respirei fundo, e quando voltei a olhar para cima, levei um susto ao me deparar com um local tão lindo que me lembrava as paisagens de castelos encantados. Minha amiga, com seu sorriso contagiante, me cumprimentou enquanto desviava de labaredas em um tom negro.

O Jovem Soldado(ABO/MPreg)Onde histórias criam vida. Descubra agora