Capítulo Dezesseis - 2°parte

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Carmuel So-jeff:

Depois de me limpar, decidi ir deitar, e Tri ofereceu-se para ficar de olho no barco inimigo. Não tinha noção de quanto tempo permaneci encolhido na dura cama do quarto, sentindo a dor persistente em meu peito. Recordações dolorosas da época em que matei Valmir e vários outros inundaram minha mente.

Em meio a essas lembranças, vislumbrei cenas do passado de Rol, fragmentos de sua infância torturada. Vi seus pais usando um bastão de madeira para castigá-lo, queimando sua pele, e até mesmo a irmã o empurrando de uma escada. Uma onda de ódio cresceu em mim, incapaz de suportar ver alguém machucando-o daquela maneira, enquanto percebia que ele segurava suas lágrimas.

Agora, compreendia o motivo de Rol ter fugido de casa e se escondido no mundo humano. Entendia a ligação especial que tinha com Santiago, enxergando-o como uma figura paterna. Santiago fora a primeira pessoa a oferecer carinho e amor, estendendo a mão nos momentos mais difíceis. Lamentei não ter expulsado aqueles desgraçados da alcateia assim que percebi sua chegada.

Fui arrancado desses pensamentos quando uma voz emergiu da escuridão:

— Então, este é ele? O grande líder da alcateia So-jeff? O Carmuel, que é o mais sanguinário dos jovens soldados? — Uma voz zombou.

Levantei a cabeça, mas tarde demais para afastar a mão que se aproximava.

Num instante, ela segurou o colarinho da minha nova camiseta e me ergueu, prensando-me contra a parede.

Forçando os olhos através do cansaço e da agonia, observei um grupo de guardas sobrenaturais formando um semicírculo ao meu redor.

Eram talvez cinco deles, incluindo o que me mantinha preso à parede, com a mão cerrada em minha camisa. Todos vestiam trajes pretos, tão brilhantes quanto óleo. Nenhum usava chapéu, e seus cabelos variavam entre longos, curtos e outros estilos. A marca do salão real brilhava em suas roupas, um símbolo de olhos brancos e dourados.

— Tirem as mãos de mim — Falei, irritação se manifestando. — Os Acordos proíbem que toquem em qualquer submundano que não tenha provocado...

— Você diz que não provocou, mas veio ao lado das neves sem nosso consentimento — O guarda à minha frente disse, puxando-me e jogando-me novamente contra a parede. — Essa parte é proibida para todos.

Em circunstâncias normais, tal ato poderia ter causado algum dano, mas este não era um caso comum. A dor física causada pela marca de Rol já havia feito um estrago considerável.

— Onde está a minha irmã? — Perguntei, prontamente para avançar contra o guarda à minha frente.

— Estou aqui, pode se acalmar — Tri falou, emergindo das sombras. — Eu que chamei eles. Conheço alguns desses guardas. Mas não imaginava que conseguiriam criar uma cena tão idiota para parecerem sérios.

Todos no círculo riram, e um deles estendeu a mão para me ajudar a levantar.

— Desculpe, queríamos ver como é lutar com um jovem soldado! — brincou um deles, enquanto eu me erguia e revirava os olhos.

— O que eles fazem aqui? — Perguntei, ainda um tanto desconfiado.

— Estão atrás de dois recrutas que vieram salvar uma amiga — Tri explicou, e a imagem dos dois garotos que eu tinha visto anteriormente surgiu em minha mente. — Encontrei-os em um barco que estava praticamente se desfazendo. Pode-se dizer que estava em pedaços e prestes a afundar no abismo marinho. Deixei-os subir a bordo, precisavam de feitiços de oculatamento para chegar até aqui.

— Recrutas inconsequentes — murmurei, lembrando-me dos dois garotos que vi no bote motorizado. — Queriam salvar uma amiga e acabaram se metendo em problemas maiores.

O Jovem Soldado(ABO/MPreg)Onde histórias criam vida. Descubra agora