Capítulo Trinta e Seis

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Rol Fisher:

Vários dias depois, despertei bem antes do amanhecer. Sombras irregulares se aglomeravam em meu quarto, oriundas da luz encantada que instalei para quando estou estudando alguns livros de encantamento ou realizando experimentos com o lobo das sombras, que estava habilmente escondido no fundo do guarda-roupa. Como em todas as noites desde o funeral, meus poderes de ver os mortos, e até mesmo minha magia, ampliaram-se em uma escala imensa, e o lobo tremia visivelmente dentro do vidro sempre que me via. Isso me deixou um pouco feliz ao ver esse resultado.

No entanto, tento animar Carmuel, mas ele está realmente péssimo por causa de tudo isso. Já o encontrei chorando várias vezes e ele continua se recusando a comer. Fiquei insistindo para ele pelo menos beber um pouco e permaneci ao seu lado, ajudando-o até que ele se acalmasse. Às vezes, quando ele dormia, eu o via tendo pesadelos sobre o que aconteceu, e até os fantasmas que estavam ao redor olhavam para a cena com pesar. Valmir e Valkar vinham frequentemente ao quarto, mas desapareciam depois que os dispensava, assegurando-lhes que Carmuel ficaria bem.

De vez em quando, nos meus sonhos, ouvia alguém gritando desesperadamente por ajuda. Logo, os gritos se multiplicavam, várias vozes clamando pelo mesmo socorro. Eu sabia que eram os fantasmas, e minha conexão para vê-los estava mais forte do que nunca. Conseguia até mesmo perceber o lobo das sombras diminuindo e crescendo a cada segundo, até se tornar transparente. Quando isso aconteceu, percebi que Carmuel havia piorado, e meu coração acelerou com força.

Agora, eu tinha que aprender magia e treinar sozinho, pois Tri teve que assumir a liderança da alcateia. Com Carmuel ainda fraco e deteriorando a cada dia, tudo desabou sobre ela num piscar de olhos. Tive que tranquilizá-la, garantindo que encontraria uma maneira de ajudar o irmão a melhorar.

Mas havia algo que me incomodava ainda mais: Tri e Leonardo tinham me proibido de continuar a ler livros sobre necromancia, mesmo que eu tivesse desistido da ideia de trazer alguém de volta. Eu entendia a preocupação deles, pois a linha tênue entre o mundo dos mortos e dos vivos estava frágil, o que poderia ser perigoso. No entanto, eu estava mais concentrado em estudar sobre o lobo e como reintegrá-lo a Carmuel.

O pior momento foi quando Santiago me proibiu de entrar em sua biblioteca secreta, que continha vários livros sobre magia antiga, encantamentos de cura e outros assuntos relacionados a qualquer tipo de magia. Ele misturava livros comuns que poderiam me ajudar, mas eu estava impedido de acessá-los.

Eles estão realmente em alerta com o que eu posso fazer, mas isso me faz sentir como se uma coleira tivesse sido colocada em mim. Sinto até saudades da maneira como Carmuel me tratava quando ele disse que estava apaixonado por mim, deixando-me fazer o que eu bem entendesse e me poupando de muitas preocupações.

Pelo menos Tri conseguiu fazer com que os Fishers fossem embora. Infelizmente, minha doce, mas astuta, irmã conseguiu convencê-la a deixá-la ficar aqui, como se estivesse aprendendo os costumes para melhorar o lugar onde a família domina. Ela está morando sob o mesmo teto que Simon e Caio Machado, que ficaram surpresos com isso, mas permaneceram em silêncio diante das minhas ressalvas sobre o assunto.

Isso me deixou ainda mais alerta do que o normal? Posso ser sincero e dizer que estou bastante de olho nela. Está tramando algo, e sei muito bem disso, mas tenho meus próprios assuntos para resolver no momento.

Empurrando as cobertas para me levantar, olhei para a mesa com o vidro do lobo sombra, que brilhava à luz mágica. O lobo levantou a cabeça e soltou um suspiro quase sem fôlego. Já era hora de chamar mais uma pessoa que poderia me ajudar, alguém que conhecia todos os segredos deste lugar. Com um suspiro, falei em voz baixa:

— Manu So-jeff. — Minhas mãos brilharam com um tom leve e, em segundos, um vulto começou a surgir. Primeiro vi o rosto da mulher de cabelos castanhos, logo em seguida, o vestido preto que sempre usava apareceu diante de mim, com um sorriso doce em seus lábios.

O Jovem Soldado(ABO/MPreg)Onde histórias criam vida. Descubra agora