Capítulo Quarenta e Um

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Rol Fisher:

Eu observo os livros que Santiago trouxe para mim da sua própria biblioteca, e fico surpreendido ao notar que a maioria deles trata sobre a criação de crianças. A variedade de títulos me deixa intrigado, e meu choque cresce à medida que folheio cada capa, mergulhando em temas que nunca imaginei explorar. Santiago me observa com um brilho de orgulho nos olhos, como se estivesse compartilhando um segredo valioso. Seu sorriso transmite uma mistura de confiança e expectativa, como se estivesse ansioso para minha reação.

— Sério? — Minha voz sai num tom lento, enquanto tento processar a surpreendente seleção de leitura. Então, um riso escapa dos meus lábios, impulsionado pela ironia da situação. — Não sou pai, e nem tenho planos de sê-lo tão cedo. Na verdade, nem tenho certeza se quero ser pai em algum momento da minha vida.

Não que eu já tenha refletido profundamente sobre o assunto, mas as circunstâncias parecem distintas desta vez. Mesmo com Santiago tendo sido uma figura paterna até o momento, há uma parte de mim que ainda ecoa os ensinamentos do meu progenitor. As páginas dos livros empilhados diante de mim parecem ser portadoras de uma mensagem, como se estivessem tentando me guiar por um caminho que até então não havia considerado. É como se os conselhos do meu pai ainda ecoassem em minha mente, mesmo após tanto tempo.

— Vai me responder com essas palavras? Nos últimos dias, você tem estado ocupado cuidando da Rachel, o Átila parece estar grudado em você sempre que não está com os Klauons ou com a Vilma. — Santiago disse, seu sorriso ampliando-se ao perceber minha expressão de desgosto. — E não podemos esquecer do Steven e do Owen, sempre ansiosos para compartilhar o que aprenderam nas lutas, só para receber seus elogios.

— É um ponto válido, admito. — Deixei escapar um suspiro de resignação. — Mas não vejo eles como meus filhos, nem creio que me vejam como uma figura paternal. Acho que sou apenas alguém que os apoia nos momentos difíceis e consegue entender um pouco do que se passa em suas cabeças. Querendo ou não, são crianças.

— Você tem o dom de se comunicar com as crianças e entendê-las porque se importa genuinamente. Se pensa que isso não significa nada só porque todos vêm até você, posso dizer que perdeu completamente o juízo. Quando perceber que já é uma figura paternal para essas crianças e que jamais será como aquele idiota do seu pai, não há nada com que se preocupar. — Santiago disse com um sorriso sincero, bagunçando meus cabelos. — Além disso, tenho notado que está passando muito tempo com o Carmuel, e ainda mais com as crianças. Dizem por aí que já os viram se beijando.

— Bem, não acredito que as crianças tenham tanta imaginação assim. — Respondi, tentando disfarçar o rubor em minhas bochechas. — Mas, sobre o resto... obrigado, Santiago. Talvez eu realmente esteja fazendo um bom trabalho.

Finalmente, senti um alívio ao desfrutar de alguns dias de tranquilidade, cercado por quatro pessoas que realmente acreditavam na bondade dentro de Carmuel, assim como em sua capacidade de mudar. E o silêncio de Kura, desde que os rumores sobre a recuperação de Carmuel se espalharam, era quase ensurdecedor. Parecia que até ela estava começando a questionar o futuro, enquanto todos ao redor observavam com uma curiosidade misturada com incerteza. No nosso último encontro, notei que sua habitual expressão superior estava ausente, substituída por uma nuvem de dúvida pairando sobre ela.

Kura, normalmente tão segura de suas habilidades de persuasão, agora parecia perdida em um mar de incertezas. Embora não se comparasse ao tormento que vivi na casa dos Fishers, testemunhar sua confiança desmoronando diante de mim despertou um riso inesperado.

Sim, viva com suas próprias dúvidas, assim como eu, que enfrentei os mesmos dilemas sobre minha própria capacidade. Talvez ela não encontrasse outro lugar para desabafar além das cartas enviadas aos pais. E a ironia não escapou de mim, pois suas tentativas de buscar consolo de pessoas confinadas em seu próprio território apenas amplificaram minha diversão.

O Jovem Soldado(ABO/MPreg)Onde histórias criam vida. Descubra agora