Capítulo Vinte e Dois

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Carmuel So-jeff:

Observo minha irmã e os outros partirem com Rol, me abandonando e me obrigando a lidar com o problema dos Fishers. Juro que, nesse momento, desejo ardentemente mandar essa gente para o inferno e incutir neles um pavor tão grande que jamais pensem em me controlar.

Mas agora a situação era diferente.

Segundo Theodore, devo ser uma pessoa que reconhece as armadilhas e as evita. Em vez de cair nelas, devo fazer com que o responsável pague pelo custo de sua construção.

E quem armou essa armadilha era o diabo entre os submundanos, loucos por poder político e militar, aqueles que se escondem atrás de máscaras de santidade. As mesmas pessoas que desejam matar Rol e tomar sua magia antiga.

Eram precisamente os "pais" de Rol e seus aliados que agiam discretamente.

Olhei novamente na direção que Rol tomou e me lembrei da minha conversa com Theodore.

A maldição que assola a alcateia, até onde se sabe, é tecida com fios de sentimentos negativos. O ódio e o ressentimento contra si mesmos se entrelaçam, formando uma corda que os prende à escuridão. Essa corda se enrola cada vez mais forte, à espera do momento oportuno para se romper e lançar o indivíduo em seu próprio caos.

Para desvendar essa teia sombria, é preciso voltar no tempo e investigar o primeiro líder dos So-jeff. A maldição se manifestou logo após seu filho ascender ao poder, como se a própria liderança carregasse consigo um fardo de negatividade. Desde então, cada líder sucumbiu à loucura, um a um, como se estivessem presos em um ciclo interminável de sofrimento.

Olhares curiosos e ansiosos se fixaram em mim enquanto eu me aproximava. O cansaço, como um manto pesado, já me oprimia. Só queria me deitar e descansar. Barcos, definitivamente, não eram feitos para viver ou viajar.

Com a voz cansada, anunciei:

— Desculpem, mas Theodore explicará o que aconteceu. — Abri caminho pela multidão, desejando apenas o conforto da minha cama.

— Sim, líder! — Os guardas da minha alcateia responderam em uníssono, batendo continência.

Passei por todos sem me importar com seus pensamentos. A única coisa que importava naquele momento era o descanso.

*************

ssim que meus pés tocaram o chão do meu quarto, fechei a porta com força, como se quisesse barrar o mundo lá fora. Joguei-me na cama, exausto, mas o sono não vinha. A mente girava, atormentada por imagens e pensamentos que me consumiam.

Levantei-me, incapaz de suportar a quietude. Fui até a cabeceira da cama e abri a gaveta com dedos trêmulos. Lá dentro, encontrei um pedaço de vidro, um fragmento da estátua que comprei para Valmir no mercado sobrenatural. A lembrança daquela noite me atingiu como um soco no estômago. A raiva, a violência, o sangue...

Com um grito de fúria, arremess o pedaço de vidro contra a parede. O som da quebra ecoou pelo quarto, e me agachei para pegar os cacos, ignorando a dor dos cortes em minhas palmas. O arrependimento me corroía por dentro, uma dor mais profunda do que a física.

Olhei para meu reflexo no pedaço de vidro, as lágrimas se misturando com o sangue.

— Eu nunca vou me perdoar... nem aos deuses. — As palavras saíram em um sussurro estrangulado.

Lentamente, deixei o caco cair no chão, ouvindo o som de sua fragmentação. Suspirei, derrotado.

— Estou igual a esse vidro. Um impacto maior me estilhaçará em pedaços. — Falei comigo mesmo, a voz carregada de tristeza e resignação.

O Jovem Soldado(ABO/MPreg)Onde histórias criam vida. Descubra agora