No Caos do Universo (Nova Versão)

23 - Suco de uva, blusas manchadas e reconciliação

  O SOL ESTAVA QUASE me cegando naquele momento. Não fazia nem cinco minutos que havia acabado de abrir os olhos e a claridade do sol entrou pelas janelas, ofuscando qualquer sinal de beleza que existia nas outras estações. A Primavera enfim, dava o ar da graça aquele dia, empurrando para trás todo vestígio de que algum frio havia passado por ali. Era como em um reino de estações, a Primavera ficava sobre o domínio de tudo, literalmente no topo — era encantador, claro.

  Suspirei pesado, antes de me levantar e andar preguiçosamente em direção ao banheiro.

— Maldito seja quem inventou essa coisa de levantar as seis da manhã para ir estudar. Ninguém merece frequentar aquele inferno que chamam de escola — Guardei a escova no lugar, enquanto resmungava baixinho e me enfiava debaixo do chuveiro na água gelada.

  Haviam se passado quatro dias desde o episódio nas arquibancadas e Tyler parecia ter desistido de correr atrás do meu perdão — o que eu admitia, me deixou com o coração apertado. Ele me tratava com indiferença e eu não estava mais aguentando. Precisava dele para me fazer rir igual uma louca e ouvir sua risada rouca.

  Marcus se tornou bastante presente em minha rotina desde aquele dia, sempre me arrancando risadas com seu jeito despojado de ser. Ele e Louise ainda discutiam por bobeiras, na maioria das vezes debatendo sobre quais eram os melhores clássicos dos anos 80, pois ambos gostavam de filmes antigos. Aquilo me causava muitas risadas altas, e quando eu tentava me intrometer na conversa para expressar minhas opiniões sobre tais filmes — a maioria eram dos quais Louise defendia como se fossem a sua coleção de sapatos da Scarpin —, Marcus me olhava com indignação, antes de estreitar os olhos e falar para eu não me meter, porque nas palavras dele, o assunto era de seríssima importância.

  Depois de estar totalmente limpa e com cada fio de cabelo cheiroso, decidi ir à procura de uma roupa que não me faria morrer de calor. Optei por uma regata branca, uma saia jeans com um cinto preto, uma jaqueta jeans, porque apesar do sol estar brilhando lá fora, aquele horário da manhã fazia frio. E por último, um all-star vermelho de cano alto, antes de descer para tentar beliscar alguma coisa.

  Estavam todos a mesa quando me sentei para tomar café.

— Bom dia — Saudei, como um karaokê – enquanto me servia com um copo de suco de laranja.

— Bom dia, meu amor — Mamãe respondeu, com um sorriso doce.

— Bom dia, raio de sol. Dormiu bem? — Papai perguntou, enquanto levava uma xícara de café cheia aos lábios.

— Sim! Dormi muito bem. — Mamãe estava linda. Apesar de eu não elogiar muito – preferia ficar quieta no meu canto. — Mãe, você está radiante.

  Ela usava uma camisola que dei para ela no aniversário dela — muito cara inclusive.

— O que você quer?

— Não quero nada. Não pode fazer mais um elogio?

— Quando você me elogia assim, é por que você quer alguma coisa...

— Mãe! Eu não quero nada. Só estou te elogiando, por que eu nunca faço isso. Estou muito triste agora... — fazia uma cara de triste.

— Ah, minha filha — Mamãe se aproximava de mim. — Desculpa... Obrigada. — Ela voltava o elogio para mim. — Aonde você vai toda estilosa desse jeito, huh?

— Para aonde você acha que eu vou, não é mamãe? Para a escola...

  Ela ria.

— Toda bonita assim?

— Eu não estou achando nada bonito... — Papai falava pela segunda vez.

— Deixa ela meu amor... Ela vai paquerar uns gatinhos na escola.