01 - The Beatles não é brega

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  ALGUNS ANOS ATRÁS, se me perguntassem o que eu sonho para mim mesma, eu diria — com toda certeza —, que estudar para garantir uma boa faculdade e um futuro decidido. Sem brincadeira. Eu diria isso. Pelo menos era o que eu pensava, antes de um Outono tão louco.

  Atualmente, eu penso em como era sem sentido pensar daquele jeito. Quero dizer, nós temos uma vida inteira pela frente — ou não —, para desperdiçar pensando apenas em um futuro — indefinido —, onde não saberemos se era realmente aquilo mesmo que queríamos. Então, eu resolvi me arriscar. Oh, não! Não me arriscar de um jeito como: me jogar na frente de um carro; beber até não me lembrar de mais nada no dia seguinte; cometer um crime no meio da madrugada e ser presa — com certeza não, se eu fizesse isso, ficaria de castigo pelo resto das minhas férias. Mas começar a viver de verdade. E foi a experiência mais incrível da minha vida.

  No momento, eu estou me arrumando para ir ao colégio — finalmente. Revirei a gaveta e os armários à procura da minha bandana — não que eu saiba onde ela está, mas os meus cachos não podem ficar sem um único detalhe fofo.

  Suspirei aliviada, quando encontrei o acessório vermelho entre toda a bagunça na penteadeira branca. Os pincéis totalmente desordenados em gavetas aleatórias. Eu quase surtei e não pude deixar de parar para tirar os pincéis de sombras da gaveta de pincéis de base.

  Um miado vindo dos lençóis da cama, me chamou atenção. Sorri nervosa para a bola de pelos branca como a neve. Ela me olhava com os olhos azuis e verdes intensos, como se estivesse me repreendendo.

— Eu sei, Snow, mas você sabe que eu detesto desorganização. Vai ser rapidinho, ela nem vai se dar conta de que estou demorando.

  Mas eu estava definitivamente enganada.

  Novidade., pensei.

  Minha irmã favorita — e única — socou a porta do meu quarto, fazendo-me pular de susto.

— Esquece o que eu disse. — Murmurei para Snow.

— Chloe, eu vou arrombar essa porta se você não descer agora! — Gritou impaciente, dando mais batidas na porta.

  Revirei os olhos.

  Lia era a minha irmã, dois anos mais velha — dois anos —, mas era insuportável. Não me deixava quieta nem por um segundo. Eu levava isso no humor, preferindo pensar que ela sentia minha falta e não conseguia ficar longe de mim por muito tempo.

— Você não consegue ficar longe de mim nem por dez minutos, irmãzinha? — Zombei, recebendo um sorriso irônico como resposta.

— Ah, claro! Nem por dez minutos. Prova disso é a ansiedade que eu estava sentindo para te despachar no colégio logo. — Respondeu, sorrindo ainda mais com a minha falsa expressão de ofendida.

— Quando você aprendeu a se defender? — Perguntei como se estivesse realmente surpresa — Deveria usar seu talento mais vezes.

— Você é muito engraçada. Deveria procurar emprego em um circo, talvez consiga o cargo de palhaça. — Devolveu no mesmo tom — Vamos logo, estamos atrasadas. — E me deu as costas, descendo as escadas.

  Peguei minha mochila — que estava na cama —, e me aproximei de Snow para lhe dar um carinho, antes de descer as escadas apressada.

— Bom dia. — Falei, depositando um beijo na bochecha da minha mãe.

— Bom dia, raio de sol. — Meu pai falou, me abraçando e depositando um beijo na minha testa.

  Sorri para ele e me aproximei da fruteira, pescando uma maçã.

No Caos do Universo (Nova Versão)Onde histórias criam vida. Descubra agora