No Caos do Universo (Nova Versão)

06 - Persuasão e Exaustão

  EU HAVIA PASSADO o resto do meu feriado em casa. Minha mãe estava cismada, dizendo que eu deveria me recuperar das crises de pânico* que andava acontecendo comigo. Aconteceu apenas uma vez, mas eu entendo o quanto ela se preocupa comigo. Nesse meio tempo, os meus amigos vieram me visitar — incluindo o Tyler, mas ele percebia o quanto eu ficava desconfortável com a sua presença e sempre acabava indo embora mais cedo que os outros. Parece que ele não desistiu de recuperar a minha confiança. No dia em que eu fiquei internada no hospital, ele me deu um pequeno ursinho de pelúcia com os dizeres "sinto muito por ter magoado você, sinto a sua falta". Eu aceitei o presente, mas ainda não o perdoei pelas palavras cruéis, as quais me magoaram tanto e me fizeram o detestar ainda mais.

— Bom dia, raio de sol — Meu pai murmurou, enquanto me envolvia em um abraço aconchegante — Como está se sentindo?

  Não vou negar. No momento em que meu pai me chamou de raio de sol, eu lembrei do Tyler. Eu não queria, mas era impossível não lembrar e me sentir triste.

— Bem — Respondi com um sorriso fechado.

— Se sente bem para ir a escola? — Minha mãe perguntou.

  Assenti, me sentando na mesa em silêncio.

— Espero que não castigue os meus ouvidos com as suas músicas bregas hoje — Lia mudou de assunto, me roubando uma risada baixa.

  Ela sabia o quanto aquele assunto me deixava desconfortável, então fazia de tudo para que eu esquecesse aquilo.

— Eu vou te dar um desconto — Me virei para ela, que suspirou aliviada.

  Exagerada.

— Podem me passar o queijo?

  Fiz uma careta, observando meu pai beber suco de beterraba e lhe entreguei o queijo. Comi um pote de morangos inteiro e bebi um suco de laranja.

  Depois que terminei, coloquei a salada de frutas dentro de um recipiente e guardei na mochila.

— Vocês são incríveis — Lia riu, enquanto observava meu pai e minha mãe discutindo sobre coisas banais.

  Me despedi dos meus pais e desejei um bom dia, antes de sair com a minha irmã.

— Se você quiser, eu posso te buscar hoje, no colégio — Lia falou de repente.

  Lhe enviei um sorriso fraco e balancei a cabeça.

— Não precisa se preocupar, eu posso voltar com o Kyle.

— Qualquer coisa você sabe que pode contar comigo, não é? — Assenti sob o seu olhar e sorri.

— Pode parar aqui? — Apontei para a loja de vinis à direita.

  Lia estranhou o meu pedido, mas não interviu. Ela sabia o quanto eu gostava dos discos de vinil, como gostava de passar o dia inteiro dentro de uma biblioteca.

— Não vou demorar — Avisei, enquanto saía do carro e seguia em direção a entrada da loja.

  O cheiro amadeirado me recebeu junto ao som de I Know It's Over. A música antiga soava baixa, tornando a voz da banda The Smiths suave. Eles não eram tão bons — ou pelo menos, não aparentavam ser —, mas eu não poderia julgá-los apenas por isso. Seria hipocrisia dizer que eles não tem muita afinação, sendo que eu mesma não possuo nenhuma.