Me afastando.

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Mesmo tendo ido dormir muito tarde, acordei muito cedo, me dando a impressão de quem nem mesmo dormi. 

Sonhos e lembranças perturbaram meu sono e me fizeram acordar assustada e acelerada. Eu vi, como em um filme, todas as vezes que cravei  uma faca na garganta de alguém, em um corte limpo e cirúrgico. Ou quando atirei com uma arma através do travesseiro para abafar o barulho. Todas as vezes que coloquei cianureto na bebida de alguém e observei a pessoa em convulsão até que parasse, estática e morta. 

Não sentia prazer em matar. Na verdade, não sentia nada. Apenas um grande vazio. Afinal, me foi ensinado que deveríamos chegar a fins extremos se os meios pedissem. E eu nunca tinha acreditado que os meios não pedissem. 

Vi a imagem de Ellen na minha frente, novamente. Sentindo falta de ar, saí do abraço de Bucky e peguei uma toalha, entrando no banheiro e me despindo. Liguei a água e coloquei em uma temperatura quase congelada e fiquei parada, imóvel. 

Tentei esvaziar a mente. Tentei me lembrar do momento exato em que um Agente da Shield se infiltrou na Hydra e eu descobri. O pânico nos olhos dele, a duvida pesada no meu peito com relação ao que eu faria... Então, ele disse aquelas palavras. 

*FlashBack on*. 

Minha arma estava apontada para a cabeça do homem. O olhei e apontei para o celular dele. 

-Para quem você ligou? 

-Shield. 

-Você não devia ter feito isso. - Engatilhei a arma. 

Se eu o entregasse e deixasse meu pai feliz, então, talvez, eu pudesse sair do complexo só um pouquinho no dia seguinte. Eu ficava tanto tempo lá, no meio das paredes de aço e ferro, que se não fosse o relógio digital na parede, teria perdido a noção do tempo. 

-Você é a Kaya? - Ele perguntou, num sussurro desesperado. Fiz final para que andasse  na frente. Ele passou por mim. - O Soldado está te procurando. 

Estaquei. E enfiei a arma nas costas dele, o presssionando contra a parede. 

-O que  você sabe sobre isso? 

-O Soldado Invernal... O Bucky... Ele está te procurando há meses. Há mais de um ano, na verdade. 

-Ele me abandonou!

-Ele não te achou depois que vocês mudaram a base. Eu estava avisando que você está aqui. 

Pisquei, confusa e o soltei. Levei as mãos ao meu cinto. 

-O que acontece se ele souber que eu estou aqui? 

O cara esfregou o braço. 

-Vamos invadir a base. Ele te resgata. 

Joguei uma chave para ele. O cara arregalou os olhos. 

-Diz para ele não demorar. E à propósito... Me dá um soco. 

-Que? 

Revirei os olhos, dando um chute na lateral dele. 

-Soco. Tem que achar que você fugiu, se não, eu morro. 

O cara me deu um soco no queixo. Eu deitei alí no corredor e esperei. 

*FlashBack off*. 

Comecei a esfregar a esponja com sabão na pele, até ficar vermelha. Eu queria me livrar daquela sujeira que a Hydra tinha impregnado em mim. 

Finalmente, desliguei o chuveiro. E me deixei olhar no espelho. Analisei o meu corpo sem nenhuma roupa. E todas as marcas e tatuagens que fizeram em mim. 

A Herdeira. - Bucky Barnes. Onde histórias criam vida. Descubra agora