Parte 14

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Amar contra o destino - Capítulo 14

Um mês de sofrimento para mim e para Augusto, um mês de lembranças, um mês de saudades, um mês onde um foi o apoio do outro, assim foi o primeiro mês após a morte da vovó.

30 dias depois...

Acordei cedo, por que agora quem fazia o café era eu, meu avô nem pra isso servia. Acordava tarde e só esperava na mordomia as refeições. Fiz minha higiene pessoal e logo o Augusto também acordou, tomamos nosso café e fomos andando para a escola, fomos conversando sobre muitas coisas, umas cinco quadras a frente antes de chegar na praça avistei um garoto, eu conhecia aquele olhar, ele estava escorado em um muro, pensativo, aquele olhar, aquela barba por fazer não me era estranha. Era quem roubou meu celular aquela vez, ele me viu e ficou assustado me olhando, ele estava sem aquele gorro cinza e pude perceber que se tratava de um jovem apesar de vestir uma roupa muito suja e rasgada, era um jovem bonito, alto, cabelo bem curto estilo militar, e um olhar que fugia de mim, ele do nada saiu correndo, e o Augusto ficou sem entender nada do que estava acontecendo.

- Bê, que tanto você tava olhando pra aquele cara?

- Não sei Guto, mas acho que foi ele que roubou meu celular aquela vez.

- Ele deve ser perigoso Bernardo, você não pode andar sozinho mais por essas ruas.

- Que exagero Augusto.

- Não é exagero Bê, é preocupação, só me resta você agora maninho, se eu te perder eu juro que não sei o que será da minha vida. Minha vida é você. - Guto disse isso lagrimejando, e me abraçando no meio da rua.

- Ei, escuta aqui. - Disse puxando sua cabeça e seu olhar em direção aos meus. - Você não vai me perder, nunca, vou estar sempre do seu lado, ta ouvindo? Sempre. - Disse dando um beijo em sua testa.

- Eu te amo Bê.

- Eu também, agora vamos, se não vamos nos atrasar.

Continuamos nosso percurso até a escola, dessa vez em total silêncio, uma sensação estranha me dominou depois do que o Augusto me falou, o medo de me perder, vontade que tive foi de beijá-lo, mas não podia nós somos irmãos, e isso não é certo, e eu tenho namorado, um namorado perfeito, que se preocupa comigo, que me ama, que me deu apoio durante esse tempo de tristeza e de muita angústia com a morte da vovó. Chegamos à escola e o Augusto foi encontrar a turma dele, e eu subi para minha sala. Entrando encontrei aquela mesma cena, Ricardo que já havia chegando debruçado sobre sua mesa dormindo, todos os dias praticamente era mesma coisa, e todo dia eu aparecia para acordá-lo. Me aproximei, sentei em minha cadeira e virei para trás.

- Ei, morzinho acorda. - Disse sussurrando próximo de seu ouvido e balançando seu ombro.

- Eu estou acordado Bê. - Disse ele meio chorando.

- Você está chorando? O que aconteceu?

- Nada.

- Como nada amor, como alguém chora sem motivo?

- Fala baixo caralho. - Disse ele levantando a cabeça. Pude perceber seus olhos vermelhos e inchados.

- Credo, você não está bem Rick, que aconteceu? Por favor, me conta.

- Agora não, a aula já vai começar no intervalo conversamos.

- Tudo bem amor, disse segurando suas mãos.

- Melhor parar né, já tem muita gente entrando na sala.

- Tá - Disse fechando a cara pra ele, me virando para frente.

Não consigo entender o Ricardo as vezes, tem vezes que ele faz de tudo para deixar claro pra quem for que nos amamos, que somos namorados, mas tem vezes que ele sente vergonha disso, e me trata como se fosse um amigo qualquer, isso estava me enchendo já. A professora de Português entrou na sala, as duas primeiras aulas seriam com ela, simplesmente terrível, foram dois tempos de 40 minutos onde o assunto era apenas literatura portuguesa e brasileira. Um tédio, português sempre foi à matéria que mais odiava. Passando a aula, saímos para o primeiro intervalo, eu e Rick fomos para o terraço da antiga biblioteca, lá me deitei no chão apoiando minha cabeça em seu colo, seu olhar estava abatido, ele parecia querer me dizer algo mais não tinha coragem.

- Amor, você está me preocupando sabia?

- Desculpa Bê, é que...

- É que o que Ricardo? - Eu já estava muito preocupado, será que é alguma coisa com o tumor, eu já estava desesperando, e meus olhos já lagrimejando.

- Ei ei, olha aqui amor, sei que você deve ta pensando se é alguma coisa relacionada a minha saúde. Fica tranqüilo, não é, é sobre meu pai.

- Precisa de todo esse suspense? Já tava ficando agoniado. Mas o que tem seu pai?

- Ontem eu e minha mãe contamos a ele, sobre mim, sobre nós Bê.

- Nossa, pelo jeito que você está a conversa não foi boa né?

- Não, ele disse que não me quer andando com você, que não aceita um filho viado, e que se nosso namoro não acabar por bem, por mal ele vai acabar.

- Nos não vamos deixar isso acontecer não é?

Ele ficou em silencio, seus olhos vermelhos voltaram a chorar, eu olhei bem pra sua cara e falei:

- Então você está pensando em terminar comigo depois da ameaça do seu pai? É isso que você quer Ricardo? - Disse levantando de seu colo e sentando.

- Eu... eu.. não - Disse ele gaguejando.

- Não sabe. Pelo jeito deve ser isso mesmo. Quer saber, então ta, terminamos aqui esse namoro. - Eu disse isso já me levantando. Ele apenas ficou parado, sem ao menos reagir, saí de lá e fui para o banheiro, já estava chorando, Fiquei um tempo no banheiro sentado no chão até sentir uma mão em meu ombro e me perguntando.

- Posso saber por que está chorando? - Disse Guilherme.

- Nada Guilherme, me deixa em paz.

- Eita, ta me dando troco agora das vezes que te tratei assim? Agora percebi que tratar uma pessoa assim dói mesmo.

- Desculpa cara, não quero te dar troco nenhum. - Disse isso me recompondo de meus choros, ele sentou ao meu lado e me abraçou. Estava me sentindo bem em seus braços, não conseguia acreditar, que no primeiro obstáculo que seu pai impôs ele iria cair. O Guilherme me abraçava forte e percebi sua respiração, seu hálito, quando dei por seus lábios já estavam tocando os meus. Foi um segundo de transe até empurrá-lo.

- Você está louco Guilherme? Eu tenho namorado.

Quando olhei para porta do banheiro avistei o Ricardo, ele tinha visto, seus olhos vermelhos de choro viraram vermelhos de raiva...

... CONTINUA

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