Erros

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No dia seguinte à discussão com Lena, para surpresa de todos, George Martelli não apareceu no escritório. A advogada foi chamada à casa dele junto com seu assessor direto, Elias, e ainda Phillip e Jhon, dois dentre os mais destacados advogados da firma.

Em uma conversa rápida, sem brechas para interrogações, George informou que estava saindo de férias com esposa por duas semanas, que seus casos estavam sob controle e que a administração da firma ficaria a cargo dos presentes.

Sobre a conversa no cemitério, George nada disse e Lena concluiu que o assunto estava encerrado, pelo menos por algum tempo. Incluindo Lena naquela comissão administrativa, ele demonstrava sua confiança nela, e dava à advogada pelo menos quinze dias para decidir por si mesma o futuro dela no escritório.

Naquele período em que esteve ocupada com a tarefa extra, Lena deixou seus casos praticamente nas mãos de Henry, Cristine e Marcus. Kara estava atarefada com o circuito simultâneo de provas nas duas faculdades e pouco podia ajudar.

Jim, prudentemente, adotou uma postura discreta. Chegava, ficava trancado em sua sala o dia inteiro e ia embora sem causar alvoroço.

Estranhamente, Lena nada fez contra ele. Simplesmente fingiu que o advogado nem fazia parte do quadro da firma, o que gerou um sem número de teorias conspiratórias entre as secretárias e os estagiários.

Depois do retorno de George, as coisas voltaram ao normal, ou pelo menos o que era normal até antes de ele e Lena terem firmado a sociedade que não deu certo.

Quanto ao namoro da advogada com Andrea, depois de seis meses de duração, era difícil encontrar algo nele que se pudesse ver como um “progresso”. Ao contrário do que imaginava que deveria acontecer, Lena não tinha se aproximado de Andrea, mas sim, pensava que a conhecia cada vez menos.

As brigas por telefone só não eram mais constantes porque Lena sempre interrompia as ligações quando os ânimos se exaltavam. No dia seguinte, as duas tentavam acertar os ponteiros, às vezes com sucesso, outras vezes não. E os ressentimentos se acumulavam na mesma proporção das semanas que já haviam se passado desde o último encontro, desde as últimas carícias trocadas.

Mas com a proximidade da volta de Andrea, Lena sempre acabava se acalmando. Com as duas realmente juntas, pensava a advogada, as coisas seriam diferentes. Seriam, finalmente, como ela sempre sonhara.

Atarefada com o trabalho e ciente do ciúme da namorada, que embora mais contido, era sempre como uma sombra sobre Lena, ela viu sua vida social se resumir a almoços com os clientes e algumas saídas rápidas com seus estagiários.

Tendo sempre muito trabalho para discutir, Kara aparecia em seu apartamento, geralmente nas quintas-feiras, com uma pizza que se tornara uma espécie de tradição entre as duas. Mas sempre que Lena tentava remanejar o assunto, perquirir algo da vida pessoal da garota, Kara vinha com uma piada, uma provocação ou logo arranjava uma maneira sutil de mudar de tema, iniciar outra conversa ou simplesmente fingir que nada tinha importância.

Aquilo já estava intrigando Lena. Atenta aos passos da garota no escritório, a advogada já tinha plena certeza de que, além de noitadas animadas sem destino ou companhia regular, Kara tinha alguém. Mas seu total desconhecimento dos detalhes disso vinha deixando Lena inquieta.

Quando Carina finalmente voltou a dar as caras, depois de um longo período sabático, Lena viu nessa novidade a oportunidade perfeita para resolver várias pendências de uma só vez.

Só o que o seu plano teria de ser posto em prática com muita cautela, porque a vigilância de Andrea sobre cada um dos seus passos vinha aumentando conforme cresciam as dúvidas de ambas com relação a continuidade do relacionamento.

Habilmente, a advogada começou pelo elo mais forte da corrente: Kara, até porque, se alguém fosse arranjar problemas naquela história, seria a estagiária e o seu senso moral. Assim, se não desse certo, Lena nem precisaria avisar Carina e Mike sobre o cancelamento da idéia.

– Passar um final de semana na casa de férias? Por que eu veria problemas nisso? – perguntou Kara, assim que Lena a convidou.

– Sei lá... Como estão seus estudos? Nenhum prazo estourando?

– Não – ela respondeu depois de meros instantes de consulta mental. – Nada que não dê pra remanejar.

– Que ótimo. Até onde eu sei, o Mike está ficando com um colega da Ellen, quem sabe o cara possa ir também... – comentou Lena, despretensiosamente. – Então, se você quiser levar a sua namoradinha, tudo bem – sorriu.

Kara ficou analisando aquele sorriso de Lena. Estava claro que a advogada escondia algo.

– Desde que ela não se incomode com o fato de que a Carina estará lá também. E você sabe como é a Carina... – continuou Lena.

Estreitando os olhos, Kara respondeu:

– Por que eu estou achando que você está arranjando meios de me fazer negar ou confirmar que existe a tal “namoradinha”?

– Imagina, Ka. Só quis lhe deixar à vontade – piscou o olho.

– Não vai me pegar nessa – disse a garota, altiva.

– Tira essa idéia da cabeça, Ka. Será um final de semana entre amigos, como sempre foi.

– E o que a sua namorada achou de você convidar a Carina? – devolveu Kara.

Lena mediu as palavras antes de responder:

– Bem... Até o momento ela não achou nada.

– Em algum momento a And vai ter chance de achar? Você vai contar pra ela? – cobrou Kara.

– Para todos os efeitos, tenho uma visita a um cliente detido no sábado e uma entrevista com a família dele, em Registro, no domingo.

– Lena! – ralhou a estagiária.

– E você vai confirmar isso, se for preciso – acrescentou a advogada.

– Por que eu?

– Não tenho culpa se a And confia em você, pirralha.

– E eu, menos ainda, tenho culpa se ela não confia em você. Nada feito, Lena, não farei isso.

– Ah, Ka, vai estragar o final de semana de todo mundo?

– Nem tente inverter a relação de culpa nesse caso, doutora – disse Kara, firme.

– Ah, Kara, o que é que custa??

Enquanto Lena implorava, numa postura nem um pouco profissional, os três novatos entraram na sala e se depararam com a cena. Lena rapidamente mudou de assunto e os três ficaram rindo, após uma piscadela discreta de Kara.

Ao se ver derrotada, Lena desistiu.

– Chata!- disse, olhando para Kara.

Em seguida, Henry comentou o andamento do trabalho que fora incumbido de cumprir na rua, com o auxílio dos dois colegas. Lena fez apenas um comentário trivial, arrancando risos de todos, o que deixou claro que estava satisfeita com a tarefa.

Àquela altura, cansado de ter a mesa sempre confiscada por Lena, Marcus já havia rearranjado a decoração da sala, gerando espaço para todos. Às vezes, por pura implicância, Lena voltava a ocupar a mesa dele, mesmo tendo uma poltrona própria. Naquela tarde, ela fez isso de novo, e aproveitou para acender um cigarro.

– Tenho uma missão para você – disse ela, encarando o garoto com uma expressão séria.

– Pra quando?

– Pra já. Vá chamar o Jim e diga que tenho um assunto sério para tratar com ele.

Todos se encararam com apreensão. A definição daquela situação era aguardada por todos na firma.

Marcus fez conforme o que lhe foi solicitado, e voltou em seguida. Antes que qualquer um deles tivesse chance de inquirir Lena, Jim se precipitou pela porta, com um semblante muito amedrontado.

– Queria falar comigo, Lena?

– Entre – disse ela, secamente.

Ele olhou incomodado para os outros quatro. Lena calmamente apagou seu cigarro antes de se pronunciar.

– Como estão os seus casos?

– Bem, eu... Aaaam...

– Você já os passou para os outros advogados da firma?

Jim arregalou os olhos.

– Eu... Era... Era para eu ter feito isso?

Lena, de propósito, demorou a responder.

– Ninguém lhe contou?

– O quê? – quis saber Jim, cada vez mais apavorado.

De novo, Lena ficou em silêncio enquanto torturava Jim apenas com um olhar de reprovação.

– Então esqueça. Era só isso, pode voltar para a sua sala.

– Mas... Aaam...

– Só isso, Jim – cortou ela. – Pode voltar...

Depois que ele saiu, Lena deixou um sorriso sádico brincar no seu rosto enquanto os estagiários tentavam alcançar seu raciocínio.

– Eu achei que você fosse mandar ele embora na nossa frente – comentou Henry.

Lena riu.

– Definitivamente, o próprio Jim achou que isso fosse acontecer – acrescentou Cristine.

– Qual é o plano? – quis saber Kara.

– Tem coisa melhor do que saber que ele não dorme bem há semanas, preocupado que isso possa acontecer a qualquer momento? – declarou Lena, enquanto se levantava.

Os outros riram a valer.

– Lena, você não vale nada! – disse Kara, brincalhona.

Ciente da atenção de todos, Lena respondeu já com a mão na porta:

– Mas é assim que você gosta, pirralha – sorriu, provocativa, ouvindo o riso dos outros. – Não aceito não como resposta, vá fazendo as malas.

Depois que ela saiu, Kara levou um bom tempo para voltar a respirar.

– É impressão minha ou acabamos de presenciar uma cantada? – disse Cristine, resumindo a impressão dos três novatos.

Kara sentiu seu rosto ser tomado completamente pelo rubor.

– Dá-lhe Ka! – exclamou Marcus, atirando uma bola de papel na garota.

– Com essa cara de quietinha, pegando a chefe debaixo do nosso nariz! – comentou Henry, às gargalhadas.

– Vocês três querem já parar com isso? – ralhou Kara, ainda mais vermelha. – Não é nada do que estão pensando.

Eles riram ainda mais, somando à graça do fato a expressão totalmente desconcertada de Kara.

– Não que seja da conta de vocês, mas podem tirar o cavalinho da chuva. Isso está totalmente fora de questão.

Como os risos não cessavam nunca, Kara resolveu deixar a sala. Antes de chegar ao destino planejado, porém, a garota foi apanhar um copo de água e dar um tempo para que suas idéias voltassem à ordem.

Quando entrou na sala de Lena, Kara viu a advogada lendo uma série de documentos.

– Ouvi as gargalhadas daqui – comentou Lena, séria. – Pelo visto eles terão bastante o que comentar pelos próximos dias.

– O que deu em você? – cobrou Kara.

Lena finalmente ergueu os olhos. Não esperava que Kara tivesse se abalado com o fato.

Um segundo depois, a garota percebeu que tinha se excedido.

– Quer dizer... Ah, esqueça – forçou um sorriso.

– Que bom que aceitou – disse a advogada. – Vou avisar o Mike agora mesmo – apanhou o telefone.

Kara rolou os olhos. Sua única saída era se dar por vencida. Mas da porta, ela ainda arriscou:

– A Carina vai levar alguém? Porque se ela for, eu posso deixar uma das candidatas a namoradinha em casa, em consideração ao seu papel de sobrada, né?

Lena só não revidou, porque lembrou de algo naquela mesma hora.

– Vai tirando sarro, pirralha... Agora vem aqui que eu quero lhe mostrar uma coisa – apontou para a tela do computador.

Kara se aproximou e viu uma imagem de um bebê.

– Minha irmã mandou mais uma foto – disse Lena, tentando empregar um tom neutro na voz.

Kara analisou a fotografia por alguns instantes.

– Até que para quem tem o mesmo sangue que você, ele saiu bonitinho – gracejou.

Lena bufou. Kara gargalhou na cara dela e avisou:

– Isso é por você ter contado aquela mentira deslavada sobre a sua família. Eu ainda vou me vingar direito disso. Pode esperar.

– Tô tremendo de medo – debochou Lena.

– É bom estar, mesmo – declarou Kara, que enfim deixou a sala.



* * *



Estimulada pela possibilidade de passar dois dias inteiros sem precisar pensar em trabalho, Lena mandou preparar sua casa com antecedência para receber os amigos. Mike comemorou o convite e se prontificou a levar Bartholomew, a fim de apresentá-lo à Kara, Carina e à própria Lena.

A anfitriã foi a primeira a chegar, no meio da manhã de sábado. Ansiosa, ficou tentando conter seus nervos. Carina ainda não dera notícias, e a advogada estava curiosíssima sobre quem Kara traria consigo.

Mike foi o segundo a aparecer, trazendo um Bartholomew muito desenvolto, que logo começou a arrumar tudo e se escalou para cuidar do churrasco.

– A Kara vem com a Carina? – perguntou Mike à Lena.

– Ainda não sei – respondeu ela, com um tom de voz meio distante.

– Não tome essa pergunta como uma intromissão, mas... Você e a Carina estão ficando de novo?

Lena se voltou na direção dele com uma expressão muito surpresa:

– Claro que não!

– Ah, tá – Mike parecia aliviado.

Lena suspirou cansada e explicou:

– A And continua com os dois pés atrás com relação à Carina. Por isso pedi que fossem discretos quanto a esse final de semana.

– Ela não aliviou nem um pouco?

A advogada baixou os olhos.

– Estamos há muito tempo sem um encontro. Isso deixou tudo turbulento de novo.

– Lena, será que vocês nunca vão se acertar?

Dessa vez ela sorriu:

– Vamos sim. A And está voltando para NC – comemorou.

– Já não era sem tempo, hein? Estou com saudades dela.

– E quanto ao Barry? É sério? – Lena mudou de assunto.

– Não estou com pressa – respondeu Mike. – Passamos dois meses apenas flertando e agora estamos nos conhecendo melhor. Sem pressões...

Lena o afagou no ombro, oferecendo ao amigo um sorriso sincero.

– Queria ter essa paciência que você tem. Minhas histórias de amor são sempre tão mexicanas... – fez uma careta.

Mike riu, compreendendo o que ela quis dizer. Lena continuou:

– Acho que nem todo mundo tem a sorte de viver um romance ao estilo do século XIX, aquele amor que vai ganhando espaço aos poucos, de mansinho, e que quando nos damos conta, estamos completamente tomados por ele.

– Talvez seja esse o meu caso com o Barry. Mas ainda é cedo pra saber.

– Bem, por falar em romance clássico, como estão a Ellen e o Andrew?

– Ótimos. Mas mamãe ainda não os convenceu a encomendar os netos dela.

Lena riu. Sabia bem como era aquilo. Ela estava abrindo a boca para comentar algo sobre seu sobrinho quando ouviu a buzina do carro de Carina.

Rapidamente, Lena, Mike e Barry foram para a parte da frente da casa. Carina deixou o carro com um sorriso, seguida por Kara.

Lena prendeu a respiração, inconscientemente. Seus olhos miravam a porta de trás, esperando pela figura que presumivelmente sairia dali, sem saber pelo quê, exatamente, a advogada estava ansiosa.

Mas nada aconteceu. Kara tinha vindo sozinha.

Kara, que sabia desde sempre das intenções ocultas da advogada, aproveitou para se aproximar com um sorriso falsamente inocente:

– Agora você pode fingir que está decepcionada – e piscou o olho.

Carina teve de sufocar o riso. Tivera uma conversa séria com Kara durante o trajeto, onde ficara sabendo das últimas novidades.

Kara e Bartholomew se cumprimentaram calorosamente. Os dois tinham se conhecido pela internet, trocando alguns recados. Mike tratou de apresentar o namorado à Carina e logo todos foram para a piscina.

Somente no final da tarde, quando Kara e os garotos estavam distraídos, Carina e Lena puderam conversar a sós.

– Quem diria, hein, Lena Luthor, a destruidora de lares, finalmente foi parar na coleira! – disse Carina.

Lena estreitou os olhos.

– Não fui parar em coleira alguma – revidou, chateada.

Carina riu.

– Ter de se esconder para ter um final de semana de paz não me parece coisa de alguém livre.

– Isso foi apenas para evitar discussões desnecessárias.

Depois de um longo suspiro, e de assumir uma expressão bem mais séria, Carina disse:

– Como você realmente está, Le? Sabe que pode confiar em mim, não sabe?

A advogada retribuiu com um sorriso.

– Eu nunca pensei que seria tão difícil – confessou.

– Infelizmente acho que posso dizer o mesmo. A gente vivia naquele mundinho, né? Aquela segurança e falsa liberdade. Eu sempre achei que complicado mesmo era viver daquele jeito, e que quando me apaixonasse, saberia exatamente o que fazer.

– Ainda a Charlie? – inquiriu Lena.

– Aquela mulher é mais complicada que eu! – reclamou Carina. – Num dia eu sou o amor da vida dela, no outro, ela pede para nunca mais ser procurada.

– A And anda num morde e assopra terrível, também. Mas sabe que a pirralha andou me abrindo os olhos?

Carina se fez de desentendida e Lena tratou de explicar melhor:

– Antes, eu achava que a And era capaz de me fazer mudar, que isso seria uma coisa automática, assim que ficássemos juntas. Eu meio que esperava um milagre, sabe? – riu. – E não é assim. Eu sou o que sou. Com namorada, ou sem, uma grande parte de mim vai sempre preferir seguir sozinha.

– Não se pode negar a natureza, não é? – Carina riu.

– Exatamente! E o pior de tudo é que a And nunca vai entender isso. Nossa, se ela soubesse que o problema não está nas outras mulheres, mas em mim... Ela acha que eu continuo cobiçando meia National City...

– E isso não é verdade?

– A única coisa da qual eu sinto falta, que eu tinha antes de ficar com a And, é de não precisar dar explicações. Essa é a liberdade que me falta. Eu não preciso ficar com outras. Pra isso, eu tenho a And, eu gosto dela, eu não me importo de dormir só com ela.

Carina riu da inocência da outra.

– Ah, Le, você tem uma idéia de compromisso mais deturpada até que a minha.

A advogada bufou.

– Eu sei que isso não é o ideal. Mas é o máximo que eu consigo fazer. Já estou conformada em passar o resto da vida tecnicamente sozinha, se a And não conseguir se acostumar com isso.

– Sabe de uma coisa? – disse Carina. – Você gostava mais da And quando ficar com ela era algo proibido.

– Até parece, Carina.

– Não, é sério! Pensa comigo: você ficou anos presa naquela promessa com a Helena, aquela coisa ridícula e adolescente – comentou.

Lena fez uma careta, mas Carina continuou:

– Quando a Helena voltou e você teve a chance de ficar com ela de vez, você não quis! Com a And é a mesma coisa. Você a amava só porque não poderia ter. Quer dizer, no fundo, você não amou nenhuma delas de verdade. Amou somente a idéia de que um dia poderia ficar com alguém.

Lena não soube o que responder. Depois de algum tempo, retomou a fala:

– De qualquer modo, estou disposta a tentar.

– Tudo bem, amiga, eu lhe apoio, só tenta não confundir determinação com teimosia, viu?

Lena deu de ombros. Cansada de discutir aquele assunto, resolveu finalmente indagar Carina sobre sua dúvida maior:

– E como anda você com a pirralha?

– Não anda mais – comentou Carina. – Pra sair com aquela ali agora, só marcando hora e com dias de antecedência, e ainda é capaz de ficar em fila de espera!

– Ah é?

– Ué, vocês não se vêem sempre? Não está sabendo?

– Por alguma razão que eu desconheço, a Kara não comenta esse tipo de coisa comigo.

– Bem que ela faz – disse Carina. – É meio que um ato de caridade, sabendo que você tá há tempos na seca, se ela começasse a contar, você correria o risco de enfartar de inveja!

– Aham... Logo eu... – Lena virou os olhos. – Ela é só uma pirralha. Está engatinhando nesse mundo.

– Le, acorda! – alertou Carina.

– Bem, eu sei que de totalmente inocente ela não tem mais muita coisa, mas... Está sabendo com quem ela tem saído?

Carina sorriu misteriosamente.

– Curiosa?

– Você vê algum problema nisso? – rebateu Lena.

Outro sorriso de Carina.

– Não, nenhum – desconversou.

– Então... Quem é?

– Não sei.

– Ah, Carina, pra cima de mim?

– Por que quer tanto saber?

– Pelo simples fato de que a Kara não quer me contar.

– Só isso?

– O que mais seria? – desafiou Lena.

– Por uma dúvida tão pequena, você não teria arriscado tanto, armando esse encontro de final de semana. Eu sei muito bem que a idéia era fazer a Kara sair da toca. Você não dá ponto sem nó, doutora... – provocou.

A resposta de Lena foi um sorriso safado.

– E a danadinha conseguiu me enganar de novo.

– Essa aí é páreo duro.

Ao mesmo tempo, as duas permaneceram fitando Kara, que gesticulava dentro da piscina, contando uma anedota a Barry. Como se tivesse sentido que era o assunto principal, a garota se virou. Lena conseguiu disfarçar a tempo de não ser apanhada, mas Carina preferiu devolver o olhar, aproveitando para provocar a garota.

Já que Lena parecia decidida a não tomar atitude alguma, Carina não se sentiu culpada. Não estava nem um pouco a fim de passar aquela noite sozinha...



* * *


Winn achou estranho o celular de Kara ter passado o dia inteiro desligado. Havia tempo que ele devia um jantar para a garota e justamente naquele final de semana tinha conseguido manejar a sua agenda para cumprir o prometido.

Na verdade, ele pretendia juntar dois objetivos. O segundo dizia respeito à Andrea, que avisara ao amigo que Lena fora viajar. Segundo ela, a advogada não fora muito específica sobre o motivo de passar o final de semana fora, e ela tinha esperanças que Winn conseguisse arrancar alguma pista de Kara, já que ela fazia estágio na Martelli.

O segundo passo do rapaz foi ir até o prédio onde Lena morava. Lá, obteve do porteiro a confirmação de que ela só voltaria no domingo à noite. O que ele achou estranho foi a informação de que Lena saíra com o próprio carro, o que era incomum em viagens de trabalho.

Com a pulga atrás da orelha, Winn foi procurar por Mike. No apartamento dele, ninguém atendeu. Tomando coragem de ligar para os pais do ex-namorado, forçou uma desculpa qualquer e tentou iniciar uma conversa.

E dali veio a confirmação do que ele já desconfiava: Mike estava na casa de férias com as amigas, e provavelmente, com o novo namorado.

– Filhos da mãe! – exclamou ele, assim que encerrou a chamada.

Ele não poderia negar que estava imensamente ofendido por não ter sido avisado da reunião. Afinal, nos anos anteriores, ele era sempre o primeiro a ser convidado por Lena.

Motivado pelo ciúmes e pelo despeito muito mais do que pela missão a qual fora incumbido, o garoto apanhou o telefone mais uma vez e ligou para Andrea.

– Seu sexto sentido anda certeiro, hein, amiga? – disse ele, logo de cara.

– O que foi? Já falou com a Kara?

Em poucas frases, Winn explicou o que tinha feito e por quê. Andrea apenas ouvia, sem nada questionar. Pela respiração dela, o amigo notou o quanto ela ficava mais tensa a cada segundo.

– Estão todos reunidos na casa de férias. Provavelmente rindo da nossa cara, pelas costas! – acusou.

Andrea perdeu a fala.



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