Decisões

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O dia já tinha amanhecido quando o julgamento de Chris Robbins recomeçou. Na verdade, o juiz reabriu a sessão por um motivo extraordinário.

– O Conselho de Sentença requisita uma entrevista com a advogada de defesa – anunciou o magistrado.

O réu imediatamente se curvou ao ouvido de Lena:

– Eles podem fazer isso?

– Não é comum, mas podem – explicou ela.

– Doutora Luthor e ilustríssimo promotor, por favor – chamou o juiz.

Lena se levantou calmamente. Abaixo dos seus olhos, profundas marcas roxas poderiam ser vistas de longe. O pouco que ela dormira fora de mal jeito, sobre uma poltrona.

Logo atrás dela, seu chefe lhe chamou a atenção.

– Lena?

Aproximaram-se.

– Bom dia, George.

Ele colocou a mão direita sobre o ombro dela, encarando seus olhos.

– Está tudo bem?

– Certamente isso é sobre a prova do álibi – disse ela, quase sussurrando.

O doutor Martelli balançou a cabeça afirmativamente.

– Le, sabe o que fazer, não é? Você tem uma carreira inteira pela frente, pense nela antes de pensar nesse único caso.

– Obrigada pelo conselho.

Ele se despediu, por hora, com um sorriso encorajador. A notícia de que Lena havia virado o jogo correra rapidamente durante a madrugada e todos estavam apreensivos quanto à sentença. Já não se dizia com tanta segurança que Robbins seria condenado.

Lena, o juiz e o promotor se retiraram para uma sala bem menor, onde os jurados aguardavam.

– Doutora Luthor, não podemos tomar uma decisão sem esclarecer um ponto – disse o representante do júri.

– Deve saber que existe um precedente legal para isso – informou o juiz.

– Claro. Estou à disposição.

– O recibo de cartão de crédito que supostamente prova que o réu não poderia estar no local do crime na hora em que ele aconteceu não pode ser analisado. Foi um erro não apresentá-lo antes, para que fizesse parte do inquérito.

– É um truque barato! – acusou o promotor.

– A promotoria ainda não foi autorizada a se pronunciar – informou o juiz.

– A doutora deve entender que isso prejudica o caso – continuou o representante do júri.

– A prova foi aceita pelo juiz – disse Lena, mecanicamente. – É tão válida quanto qualquer outra.

– Se este recibo tivesse sido apresentado antes, o inquérito policial teria outros rumos. Com um álibi provado, o réu não teria ido a júri popular. Por que a defesa escondeu essa prova?

Lena encarou todo o júri com franqueza.

– Meu cliente só me avisou sobre esta prova quando se viu acuado, com o inquérito encerrado.

– Poderia ser reaberto.

– O cliente pediu que fosse usada somente em último caso. Eu respondo aos interesses dele.

– Responde em primeiro lugar aos interesses da justiça desse país – disse o juiz.

– Certo.

– Que esse fato não se repita, ou será afastada do Direito.

– Compreendo.

– De qualquer forma, a defesa está certa – continuou o juiz. – A prova foi aceita em julgamento e deve ser considerada pelo júri, como qualquer outra.

– Obrigada, meritíssimo.

– A defesa e a promotoria estão dispensadas até o anúncio da sentença.

A sessão extraordinária foi encerrada. Lena não quis falar com ninguém até a nova e definitiva convocação. Saiu da sua sala reservada, sentou-se ao lado do réu, levantou-se assim que o juiz entrou e ficou ouvindo toda a praxe.

Passado o longo discurso e a repetição de pontos chave dos autos, o silêncio no tribunal era absoluto.

– ...Isto posto, por força de deliberação do Conselho de Sentença, foi julgada IMPROCEDENTE a acusação do Ministério Público contra o réu Chris Robbins, pelo crime de homicídio doloso, por não constarem nos autos provas suficientes e irrefutáveis de sua autoria ou co-autoria no crime.

Os presentes se agitaram. Lena respirou profundamente aliviada e ainda ouviu seu cliente exaltado:

– Isso!

O juiz teve de bater o martelo algumas vezes, chamando a atenção, para terminar de ler a sentença, mas quase ninguém o ouvia. Com o julgamento encerrado, Lena e Chris trocaram um forte aperto de mãos e um profundo olhar de reconhecimento. Nenhum deles teria conseguido sozinho.

Depois disso, Lena se adiantou até a mesa principal, para cumprimentar o juiz, que em seguida se retirou.

– Deve ser difícil dormir à noite com esse seu trabalho, não é mesmo? – perguntou o promotor.

Lena lhe apertou a mão estendida com decisão, olhando-o nos olhos.

– Eu costumo incluir o custo de massagistas tailandesas, em sessões relaxantes semanais, quando apresento o valor dos honorários. Tem dado certo...

Ele balançou a cabeça, incrédulo.

– Vadia.

– Também foi um prazer trabalhar com você – Lena sorriu. – Mais sorte, na próxima vez.


* * *


Kara aplaudiu entusiasmada quando Andrea encerrou sua apresentação. Ela defendia seu Trabalho de Conclusão de Graduação, naquela manhã. Aquele era o último passo antes da formatura. Apresentar uma Monografia que deveria provar sua capacidade de ser uma profissional de Relações Internacionais.

Ainda que soubesse pouco do tema, Kara tinha adorado. Era visível o quanto sua amiga estava bem e segura com o tema apresentado.

Durante a hora seguinte, três professores fizeram alguns questionamentos – os quais ela respondeu brilhantemente – e basicamente se detiveram em elogios. Para todos que assistiam ficou muito claro que Andrea era uma pessoa querida na faculdade e tinha uma ótima relação com os professores.

– Parabéns, And! – Kara a abraçou calorosamente, quando a banca examinadora pediu que todos se retirassem.

– Obrigada, Ka, mas ainda não passei.

– Ah, sua boba, é lógico que vão te dar nota dez!

Ela baixou os olhos, envergonhada. Kara ficou olhando para ela, completamente encantada, quase babando. Em seguida Andrea recebeu um abraço do pai, que tinha saído do trabalho para assistir, mas precisava voltar imediatamente.

– Ligue assim que a nota dez sair, hein? – pediu.

Outra vez ela ficou envergonhada, e acenou para o pai. Tinha pensado em apresenta-lo para Kara, mas com todo o tumulto do atraso do presidente da banca, ficara nervosa demais para pensar em qualquer coisa, antes de iniciar a defesa. E depois, ele tinha saído quase correndo. Bem, pelo menos tinha ido e lhe dado um abraço.

As outras pessoas eram colegas de graduação e dois colegas de estágio. Kara concluiu isso por uma ou outra frase que ouvira.

A deliberação não demorou, todos voltaram para a sala e a nota foi dada sem surpresas: DEZ.

– Bem, acho que isso é o fim – disse Andrea, depois de um longo suspiro, reunindo suas coisas.

Apenas ela e Kara tinham ficado para trás.

– Posso te oferecer um almoço de comemoração? – disse Kara.

– Claro.

– Onde você quer ir?

– Ué, achei que...

– Ou posso cozinhar, também – disse a mais nova, rapidamente.

– É, melhor! Quero ir para casa de uma vez.

– Você tava uma pilha de nervos... – Kara riu.

Foram discutindo amenidades por todo o caminho. Kara tentava conter sua curiosidade com todas as suas forças, mas estava achando muito estranho não ver Stacy ao lado da namorada. Não que estivesse reclamando, claro.

– Muito obrigada mesmo por ter ido, Ka – Andrea agradeceu pela enésima vez quando entravam em seu apartamento.

– Que isso, fora a formatura, era o momento mais importante da sua faculdade, não?

– Era.

– Eu sei que é uma pergunta chata, mas... Cadê a sua namorada? Se você combinou de almoçar com ela, eu entendo, sabe? A gente comemora outro dia e-

– Não tenho mais namorada – disse Andrea, secamente.

Kara arregalou os olhos. Por um segundo, sorriu abertamente, depois se deu conta da bandeira que estava dando.

– Aaam... Puxa, que chato.

– Sabe da melhor?

– Hum?

– Eu me livrei de duas vacas de uma vez só.

– Como assim?

– Flagrei ela com a Lena, de novo.

O queixo de Kara caiu.

– Putz!

– Quero mais é que aquelas duas morram.

– Eu sinceramente não entendo a Lena. Por que fazer uma coisa dessas? Tudo bem que a Stacy nunca valeu nada mas... Errr... Quer dizer, desculpa.

– Pode falar, Kara. Eu sei, eu mereço ouvir. Fui muito idiota!

– Não, claro que não! Stacy era sua namorada, supostamente uma pessoa que te ama, te quer bem, te protege, te faz feliz.

– Pelo visto tudo na minha vida só funciona na base do “supostamente”. Supostamente eu posso confiar na minha namorada, supostamente eu terei uma carreira de sucesso, supostamente eu tenho mãe...

– Ah, não fala assim que eu fico triste... – Kara tomou coragem e a tocou, com as costas da mão, na face. – Você é uma garota incrível, And. Não supostamente incrível, mas... Incrível de verdade.

Ela ficou sem graça e baixou os olhos.

– Você sabia também, né?

– Sabia.

– Por que nunca me disse? Achei que fôssemos amigas.

– A Lena é sua amiga há muito mais tempo e você também não acreditou nela.

– A Lena não negou! Você estava aqui, nessa sala. Você viu!

– Certo, não posso falar pelos outros. Mas eu aprendi desde pequena que em briga de mulher e mulher, ninguém mete a colher – riu.

Andrea acabou rindo.

– Boba!

– E você ficou feliz quando voltaram, And. Feliz como eu nunca tinha te visto.

Andrea a encarou, enquanto Kara continuou a falar:

“Apesar de... – mordeu os lábios, nervosa, mas decidiu ir em frente. – Uma parte de mim sempre quis ser a maior causa da sua felicidade. Eu desejei estar no lugar da Stacy mil vezes. Mas mesmo que eu contasse tudo, que entregasse ela, não seria justo. Porque pra mim o principal é que você esteja bem, seja comigo ou sem mim.

– Kara...

– Eu lamento ter dito isso daquele jeito, naquela noite. Não era pra você ouvir. Porcaria de DJ...

As duas riram por alguns segundos.

– Nunca iria me contar? – perguntou Andrea.

Kara deu de ombros.

– Sempre esteve tão na cara.

– Claro que não! Você namorava a Lucy! Ficava me enchendo de perguntas sobre beijo, sobre amor, sempre falando dela.

– Nem!

– Claro que sim, Ka.

– Hum. Eu não poderia ser direta, né? De qualquer forma, discutirmos o passado não muda nada.

– É, acho que não.

Pediram comida japonesa e Kara pagou a conta, já que tinha se oferecido para bancar o almoço. Enquanto comiam, voltaram a falar sobre a defesa e sobre os planos profissionais de Andrea.

Depois que cuidaram da louça, sentaram-se no sofá. Andrea ligou a televisão no volume mínimo.

– Faria qualquer coisa para você não estar com esse olhar triste, agora – disse Kara.

Andrea ficou observando enquanto Kara apanhava a sua mão, carinhosamente.

– Preciso colocar minha cabeça e meu coração em ordem. Está tudo um caos aqui dentro – confessou.

– Não é a toa, né?

– Nossa, parece que foi ontem que você bateu aí na porta, toda tímida, pedindo a chave – lembrou Andrea.

– Já faz quase um ano! O ano mais incrível da minha vida. E o mais louco também.

Por não saber o que dizer, Andrea apenas sorriu. Ficaram olhando uma pra outra, indefinidamente.

– Planos? – Andrea quebrou o silêncio.

– No momento, só um – confessou, implorando por um beijo com o olhar.

– Kara...

– Sim?

– Acho que eu quero ficar sozinha, agora – disse, fechando os olhos.

– Aaam... – tentou voltar a respirar. – Claro.

– Eu ainda estou digerindo esse flagrante que a Lena armou para eu descobrir da Stacy. Ela escolheu um modo horrível de me abrir os olhos.

– Entendo – Kara foi se levantando, devagar.

Ela já estava quase na porta quando Andrea voltou a falar:

– Você disse hoje cedo que tinha uma coisa pra me contar... Era isso?

– Não. Era... É que você tá se formando e eu entrando na faculdade – riu, sem graça.

– Jura?? Nossa, eu tinha esquecido que o resultado do vestibular saía agora! Parabéns Kara! Precisamos comemorar!

– A gente já comemorou nesse almoço – ela sorriu.

– Você deveria estar mais feliz com isso – observou Andrea.

Kara deixou todo o ar escapar dos pulmões.

– Liguei para os meus pais ontem e contei que sou lésbica.

– E aí?

– Parece que daqui para frente eu engrosso o time dos que supostamente têm pai e mãe.

– Ah, Ka, que chato. Mas... Da um tempo para eles.

– Não tem outro remédio, né? Pelo menos eu fiz umas economias durante o ano e o apartamento está pago até março. Depois eu dou um jeito.

Como Andrea não disse mais nada, Kara encerrou:

“Bem, você pediu pra ficar sozinha... Qualquer coisa, bate ali em casa.

– Tá – tentou sorrir, sem sucesso.

* * *

Assim que entrou em casa, Kara decidiu que não ficaria pensando naquilo. Não ficaria remoendo mais um fora. Não ficaria pensando em como tudo dava sempre errado nos seus planos amorosos.

Ligou o computador e apanhou uma barra de chocolate. Internet e açúcar, uma ótima combinação, tendo em vista as suas opções.

A página inicial do seu navegador trazia notícias de interesse geral e uma delas em particular lhe chamou a atenção, porque continha um nome conhecido. Assim que leu a manchete, num impulso, Kara apanhou o telefone.

Alô?

– Le?

Silêncio.

Ora, ora, se não é a mais nova acadêmica de Direito de National City!

Kara riu sem graça.

– Achei que estivesse ocupada demais pra saber de uma coisa dessas.

Ah não, é uma praxe na firma procurar sobrenomes nesse listão. Começamos desde cedo a encomendar macumbas para parentes de juizes malvados.

Kara riu com gosto.

– Ainda bem que sou a primeira da família!

É, mas eu encomendei uma para você também – fez uma pausa. – Bricadeirinha. Tudo bem?

– Uhum. Liguei porque acabei de ler sobre o julgamento. Não é todo dia que eu tenho o telefone de alguém que sai no feed de notícias do google, então...

Por via das dúvidas não quis perder a oportunidade.

– Isso mesmo.

Novo silêncio.

Está tudo bem mesmo, Ka?

– Aaaam... Sim.

Nossa, você quase me convenceu, com tanta convicção! – brincou.

– A tentativa é válida, enfim...

Tá sozinha aí?

– Sim – ela estranhou a pergunta.

Quando se preparava para comentar mais alguma coisa, notou que a ligação caíra. Voltou para a internet e quase deu um pulo da cadeira ao ouvir a campainha, vinte minutos depois.

Respirou fundo antes de abrir a porta, já pensando no que dizer à Andrea.

– Você também não odeia a companhia telefônica? – perguntou Lena, sorrindo.

– Como entrou no prédio?

– Com a chave, naturalmente.

– Hum.

– Posso entrar?

– Ah, claro, desculpa – Kara saiu da frente da porta.

– Oba! Tava precisando disso! – Lena apanhou um tablete de chocolate.

– Fica à vontade.

– Hmm, ótimo – a advogada deixou seu corpo tombar sobre o sofá. – Nossa, dormi no tribunal, estou quebrada!

Kara continuava parada no meio da sala, estranhando o comportamento de Lena.

– Parabéns por ter vencido o caso. Eu estava lendo, foi meio que histórico, né?

– Ah é? Pra mim foi um caso igual a todos os outros.

Kara virou os olhos, não querendo discutir.

– Bom, você não veio aqui pra comer chocolate e dormir no meu sofá...

– Que falta de hospitalidade, Ka! – ela percebeu que não havia convencido e voltou a falar. – Você não está saltitante com o vestibular... Vim ver o que houve.

– Quem disse que eu não estou saltitante?

– Vai, dê uns pulinhos aí que eu quero ver.

Kara apanhou a primeira almofada que estava ao seu alcance e arremessou em Lena.

– Chata, vai se catar!

Lena atirou a almofada de volta.

– Prefiro fazer isso acompanhada – atirou mais uma, acertando o ombro de Kara.

Kara devolveu, com força.

– Veio aqui pra me agredir ou pra rir da minha cara?

– Segunda opção – atirou a almofada na direção dela de novo.

– Mas que saco, para!

Lena se levantou e abraçou Kara com força, antes que ela pudesse perceber o que estava acontecendo.

– Será que irritar você é o único modo de te fazer se abrir? – perguntou a advogada.

Kara a abraçou de volta, começando a chorar.

“Vem aqui... – Lena a puxou consigo para o sofá, e Kara ficou com o rosto enterrado no ombro dela, chorando cada vez mais alto.

Lena ficou em silêncio, afagando as costas de Kara ternamente.

– C... Como sabia? – perguntou a mais nova, depois de alguns minutos aos soluços.

– Pelo seu tom de voz. Você é transparente para mim, Ka.

– Hum – ela acirrou o abraço ao redor do corpo de Lena e chorou mais. – Contei para os meus pais – disse, com a voz abafada.

– Imaginei.

– Primeiro eles... Eles... Nem acreditaram, sabe? Aí ligaram uma hora depois, os dois... E... E...

– Shhh... – Lena ficou brincando de entrelaçar os dedos no cabelo loiro da outra, vagarosamente.

– Disseram que eu morri pra eles. Que eles não têm mais filha!

Lena a beijou, na testa. Ficou secando as lágrimas de Kara com as costas da mão.

“Agora eu tô sozinha no mundo, e eu não faço idéia do que fazer!

A advogada não sabia o que dizer, embora soubesse, em parte, como Kara estava se sentindo.

– Sempre existe a possibilidade de eles mudarem de idéia depois de passado o choque.

– Conheço meus pais. Eles nunca vão aceitar.

– Então por que você contou?

– Porque eu não aguentava mais esconder, Lena! Não dava mais, sabe? Ah, não sei...

– Você acreditava, contra todas as evidências, que eles aceitariam bem simplesmente porque te amam.

– É – ela confirmou, com a voz presa.

– Bem vinda ao mundo real. Nele, nem mesmo os pais sabem bem o que é melhor para os seus filhos.

– Cresci ouvindo que os pais sempre sabem.

– Você cresceu num mundo hétero – devolveu a advogada.

– Eu cresci numa bolha absurda e pequena!

– É, eu não quis ser tão cruel, mas... Sim.

Kara acabou rindo, por um segundo. Ergueu os olhos e finalmente notou o semblante exausto de Lena.

– And me contou sobre... Sobre a Stacy. E você.

– Ainda bem que você soube por ela.

– Ahn?

– Sei lá, poderiam ter posto no google também.

Kara balançou a cabeça.

– Você não leva nada a sério, né?

Lena sorriu, encarando Kara.

– Cada um se defende de si mesmo como pode.

Por estar pensando no que responder, Kara ficou séria.

– Você é tão misteriosa, que tem o dom de me fazer esquecer dos meus problemas, só pra me deter em compreender você.

– Quando compreender, o mistério acaba. E a graça também.

Kara continuou séria. Tentava ler os olhos de Lena, mas parecia haver uma parede que os bloqueava. Uma barreira invisível, mas muito forte. Seus lábios buscaram os dela, sem pensar.

Lena correspondeu o beijo calmamente. Passou a afagar as costas de Kara assim que sentiu as mãos dela voltando a acirrar o abraço, que não se tornara lascivo, mas continuava carinhoso como antes.

Perderam-se no tempo, de olhos fechados, com as bocas unidas, dançando num ritmo lento que parecia um acordo entre ambas.

Em acordo, também, se separaram. Lena prendeu a franja de Kara, que caíra sobre o rosto, atrás de sua orelha, e sorriu brandamente.

– Ops... – disse Kara, sentindo o rosto pegar fogo.

Lena permitiu que seu sorriso se abrisse mais.

– Já se sente melhor?

– Um pouco, eu acho.

– Eu preciso ir agora.

– Tá.

– Ligue – disse Lena, já da porta. – E não faça nada de cabeça quente.

– Isso é sobre você ou sobre os meus pais?

Lena sorriu, mordendo os lábios.

– Ambos.

E saiu. Por alguma razão, no último instante, Kara conseguiu ler os olhos dela. E soube, numa fração de segundo, que não voltaria a ver Lena tão cedo.

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