O convite e as Férias

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Depois de rodarem por alguns pubs, motivados pelo encontro não planejado, Winslow, Lena e Andrea acabaram indo parar na Empire outra vez.

Winn não quis ligar para Mike e suas duas amigas sabiam que, mesmo que algumas semanas tivessem se passado, ele ainda estava triste por ter visto o amigo ficando com outro.

Já estavam dentro da boate há mais de uma hora quando, olhando para a entrada, Lena chamou a atenção dos amigos:

– Ora vejam só, não é a pirralha da sua vizinha entrando ali, And?

– Nossa, é mesmo! Droga...

Lena e Winslow a encararam com curiosidade.

– “Droga”?

Andrea não teve tempo de responder porque Kara estava exatamente vindo na direção da mesa deles. Ao vê-la, a garota apresentou um sorriso enigmático. A face de alguém que estava escondendo suas emoções.

– Ka! Que bom te ver aqui! – Winn a abraçou.

– Que saudade, Winn! Tem mais de um mês que a gente não se vê!

– Sim, por onde você andou, sua danadinha?

– Ah, estudando um pouco – virou-se. – Oi, Lena.

– E aí, Pirralha...

Ficaram se olhando por algum tempo. Kara deixando claro que odiava ser chamada daquela forma, mas sorrindo. E Lena sabendo muito bem que ela ficava incomodada e estava disfarçando.

– Aaam... Oi, Kara – disse Andrea.

– Trabalho de faculdade inusitado, esse seu – disse Kara, sorrindo falsamente.

Lena tratou de virar seu drink de uma vez, para não rir da situação. Winn fez o mesmo.

– Não, é que... – Andrea se viu em apuros. – Cancelaram o trabalho de última hora, aí passei na casa da Lena, o Winn estava lá, e... Errr...

– Daí arrastamos ela pra cá – ajudou o rapaz.

– Tudo bem – Kara sorriu falsamente de novo. – Bom, vim cumprimentar vocês, depois eu volto.

– Mas-

– Até mais...

Os três ficaram olhando a garota se afastar. Andrea, totalmente sem graça, Winn muito confuso, e Lena rindo baixinho.

– Eu adoro cada vez mais essa garota – comentou a advogada.

– Ahn? – estranhou Winn.

– Parece que alguém esqueceu de nos contar alguma coisa, não é mesmo? – Lena encarou Andrea, acusativa.

– Eu?

– A pirralha tá p... da vida com você, e para quem até ontem lambia o chão que você pisa... Só pode ter acontecido alguma coisa.

Andrea baixou os olhos.

– Não temos conversado muito. Aí hoje ela me convidou pra sair e eu recusei. Disse que tinha um trabalho da faculdade, e era verdade, vocês sabem.

– Putz! – disse Winslow.

Se acreditou ou não que era só aquilo, Lena preferiu não se pronunciar. Andrea avisou aos amigos que iria ao banheiro e saiu.

– O aniversário da And está chegando – disse Lena. – Ela comentou contigo se faria alguma coisa?

– Não, não disse nada. Por quê?

– Transferimos um cliente violento para outro estado. Estava vendo as datas hoje e é provável que eu tenha de ir para lá na semana do aniversário da And. Uma audiência importante está se aproximando.

– Puxa, que droga. Mas você tem certeza de que não vai poder estar aqui?

– Só estou supondo. Em todo caso, vou precisar da sua ajuda. Talvez a Stacy resolva aprontar alguma coisa.

O garoto pensou por alguns instantes.

– Le?

– Hum?

– Está acontecendo alguma coisa que eu não estou sabendo?

– Não.

– Porque você fez perguntas muito estranhas, mais cedo.

– Você também – devolveu ela.

– Ah, Le, não brinca comigo. Você conhece todo mundo aqui nessa cidade. E aí? A Stacy está com alguém?

– Não.

– Certeza?

– Não, com certeza não sei. Mas suponho.

– Putz, hoje é o dia das suas suposições.

Ela riu, e pediu mais uma rodada de drinks para eles. Winslow percebeu que vez ou outra, o olhar de Lena se desviava do dele. Em silêncio, inquiriu sua amiga, ao que ela respondeu:

– Onde será que a pirralha aprendeu a dançar desse jeito?

Winn se virou e não teve dificuldades de localizar Kara na pista. Queria ter comentado assim que ela havia chegado, mas acabou esquecendo. A garota tinha caprichado no visual aquela noite.

Por fim, ele se voltou para a mesa novamente.

– Ela cresce rápido, não?

Lena sorriu maliciosamente, concordando.

– E a namoradinha de portão dela?

Winn se engasgou com a bebida, rindo.

– Você não perdoa mesmo, né?

– Ué, falei alguma mentira?

– Epa, qual foi o assunto que eu perdi?

Andrea havia acabado de voltar do banheiro. Winn ainda ria, e por isso Lena se encarregou de responder.

– Estamos aqui nos perguntando que fim deu a caipira.

Winn gargalhou, engasgou, gargalhou de novo. Andrea ficou sem entender nada, enquanto se sentava novamente.

– A namoradinha da Kara, And – explicou o garoto.

Foi a vez de Andrea morrer de rir.

– A pirralha e a caipira. Soa até bem – continuou Lena. – Será que elas já pegaram na mão?

– Não foram muito mais longe que isso – respondeu Andrea, ainda rindo.

– Hmm. Conte o que você sabe – pediu a advogada.

– Ah, gente, não vou ficar revelando a intimidade da Kara assim, né? Ela confiou em mim.

– Como se você estivesse falando com estranhos...

– Quem falando em não contar as coisas, não é mesmo? – devolveu Andrea.

Lena se deu por vencida, balançando a cabeça.

– Vou dar uma volta – anunciou, levantando-se.

Winn resolveu segui-la e Andrea ficou sozinha por algum tempo, olhando Kara dançar. Com certeza a garota tinha bebido alguma coisa antes de entrar na boate, estava solta demais.

Tinha evitado a vizinha depois da última conversa. Ela e Kara quase tinham se beijado, e Stacy interrompera tudo. Desde então, Andrea não sabia como agir. Não sabia o que Kara estava pensando ou sentindo...

Num impulso, resolveu ir até ela. Kara sorriu ao vê-la por perto, mas não foi um sorriso inocente ou simpático, como normalmente eram os sorrisos da garota.

– And!

– Posso dançar com você?

– Claro!

Andrea literalmente entrou na dança, pelo menos até conseguir uma desculpa para levar Kara até um lugar aonde pudessem conversar. A garota relutou em deixar a pista de dança, mas acabou seguindo a vizinha.

– Kara, eu queria me desculpar com você.

– Pelo quê?

– Aquele dia... Aquele dia que... Depois do que você falou sobre a sua namorada – começou.

Kara ficou tensa.

– Você e a Stacy se acertaram, finalmente?

– Não. Ela foi lá para conversamos, como amigas. Fazemos isso, sempre. O namoro acabou, mas a amizade pode continuar, não é?

– Não se você continuar interessada nela. Sendo escrava dela.

Andrea mordeu os lábios, indecisa.

– Kara, desculpa. É só o que eu consigo dizer... Me desculpa, por favor.

– Te desculpar pelo quê? – a mais nova se fez de desentendida.

– Quando a Stacy chegou, aquele dia, eu nem te disse tchau.

– Eu fiquei bem, não se preocupe.

Andrea baixou os olhos, tristemente.

– Sinto que agi mal com você.

– Então agimos as duas. Por que não esquece isso? Eu já esqueci – sorriu.

– Tem certeza?

– Claro, And. Eu estava confusa naquele dia. Foi só isso. Só não queria que você tivesse se afastado, porque é a minha melhor amiga aqui.

Ela sorriu com a declaração.

– Ka, você é muito especial, sabia? Tenho muita sorte de ter conhecido você.

– Digo o mesmo.

– E o seu namoro com a Lucy, como ficou?

Kara fez uma careta.

– Terminamos. Pelo menos, eu acho que terminamos.

– Como assim?

– Longa história. Mas como ela nunca mais tocou no assunto, eu também não toquei.

– Não se pode deixar um namoro assim, Kara. O dito pelo não dito – Andrea repensou. – Quer dizer, bem, você sabe o que faz. E se ela for o amor da sua vida, vocês vão se acertar – sorriu por fim.

– É, acho que sim.

Deixa eu ver se eu entendi...

As duas se assustaram. Winn estava ao lado delas e nenhuma havia percebido a presença do amigo.

– Winn!

As duas estão solteiras, é isso?

Kara e Andrea ficaram vermelhas. O rapaz não disse mais nada e saiu rindo de ambas. O clima ficou realmente estranho entre elas. Então, depois de algum tempo, Andrea resolveu falar:

– É meu aniversário daqui a três semanas. Estou pensando em fazer alguma coisa, tipo um jantar, para poucas pessoas. Queria que você fosse a primeira convidada.

Com uma expressão de surpresa, Kara sorriu para ela. Pela primeira vez naquela noite, foi um sorriso verdadeiro, sincero. Mas então, um segundo depois, sua face mudou completamente.

– Daqui a três semanas? Vai ser nas férias!

– Sim.

– Droga, eu ia passar as férias na minha cidade, com meus pais.

– Puxa.

– Ah, mas esquece! Eu arranjo uma desculpa – sorriu de novo. – Não vou perder seu aniversário por nada. Conte comigo.

Sem pensar, Andrea apanhou a mão de Kara e as duas voltaram para a mesa. Ao chegarem lá, viram Lena já acompanhada de uma desconhecida. Winn continuava perdido pela Empire.

– Olha só... Fizeram as pazes? – disse Lena.

As duas soltaram as mãos imediatamente.

– Amiga nova? – perguntou Kara, provocativa.

– Ah sim. Essa aqui é a... A... A...

– Monica – ela mesma se apresentou.

– Isso. E essas são Andrea, minha amiga, e Pirralha, o apêndice.

Lena encarou Kara, sorrindo cinicamente. Kara não deixou por menos:

– Como deve ter percebido, ela tem problemas com nomes. Eu sou Kara. É um prazer, Monica.

Andrea a cumprimentou com educação, e a dupla se sentou. Mas aquele clima estranho, de coisas não ditas, permaneceu por toda a noite. Quando o táxi as deixou em frente ao prédio em que moravam, Andrea e Kara estavam, novamente, silenciosas.

Subiram até o terceiro andar calmamente. Pararam diante da porta de Kara.

– Bom... No final acabamos saindo juntas mesmo – disse Andrea, sorrindo timidamente.

– Que bom. Eu adorei – disse Kara.

Ficaram se encarando em silêncio.

– Aaam... Eu...

Como Kara não disse nada, Andrea desistiu no meio da frase. Ficaram em silêncio de novo.

– Então...

– Boa noite, Ka...

– Boa noite.

Quando entrou em casa, fechando a porta com pressa, Andrea ainda sentia o coração acelerado.

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