Sinceridade

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ROMANCES MENSAIS

LIVRO VIII – LOUCURAS DE AGOSTO

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CAPÍTULO VI - SINCERIDADE

Apreensivo, bato duas vezes na porta e aguardo a permissão para entrar. Como nas outras vezes em que estivesse em sua sala, o diretor Leblanc levanta seu olhar dos papeis que revisava e maneja a mão, indicando que eu deveria me sentar na cadeira de frente para sua mesa grandiosa de madeira. Cuidadoso, fecho a porta e me aproximo.

- Com licença, sr. Leblanc. – Digo e me sento na confortável cadeira.

- Um momento, por favor, Fredward. Eu só preciso terminar de revisar esse documento. – Pede o homem com os olhos presos nos papéis em suas mãos, que pareciam ser de grande importância.

- Sim, senhor. – Concordo, observando o escritório para passar o tempo.

Enquanto passo os olhos rapidamente pela coleção de livros na grandiosa estante da parede próxima a mim, noto a presença de um porta retrato. Ao focar meu olhar, surpreendo-me ao ver que se tratava de uma foto de meu pai ao lado do pai do diretor e proprietário original do Troubled Waters Mental Hospital, David Leblanc.

Sinto aquele aperto doloroso ao ver o sorriso largo de meu pai na foto com o braço por cima do ombro do sr. Leblanc. Apesar de ter visto o pai do diretor apenas umas três vezes quando eu era criança, eu sabia das aventuras que ele havia vivido com meu pai na juventude. Mesmo com a diferença de idade de quinze anos, eles se tornaram grandes amigos depois que meu pai o salvou de um sequestro, levando um tiro no lugar do homem que estava sob a mira de uma arma.

Grato pelo gesto nobre de meu pai de arriscar a própria vida para salvar um desconhecido durante uma viagem de férias em Paris, David Leblanc se sentia em dívida. Lembro-me de como ele chorou desolado no velório de meu pai e de certa forma, eu sentia que compartilhávamos de dores semelhantes. No entanto, depois disso, nunca mais voltei a vê-lo.

Tudo o que eu soube foi que nove anos depois ele também faleceu, vítima de um câncer de próstata. O Troubled Waters Mental Hospital passou a pertencer a Louis Leblanc, o primogênito de David Leblanc. E de maneira surpreendente, ele conseguiu transformar um pequeno hospital psiquiátrico em um império em um pouco mais de dois anos.

- Seu pai era um bom homem. – Comenta o diretor, despertando-me de meus pensamentos. Encaro-o por alguns instantes e vejo que seus olhos estavam sobre a mesma foto que eu encarava com um semblante indecifrável. – Meu pai era muito grato por Leonard Benson. Tanto que no dia que ele morreu, eu me lembro dele dizendo que em breve se encontraria com seu grande amigo Leo.

- Meu pai também considerava muito o sr. Leblanc. Ouvi muitas histórias das aventuras dos dois em minha infância. – Afirmo, sentindo o peso em meu coração.

Observo o diretor por alguns instantes. Eu não o conhecia tão bem. Na verdade, eu nunca ouvi falar de Louis Leblanc até vir trabalhar com ele. Ao que parecia, ele morava com a mãe na França e teve pouco contato com o pai. Por isso, mesmo conhecendo um pouco sobre David Leblanc, tudo o que eu sabia era pela visão do meu pai.

- De qualquer forma, não foi para relembrar momentos tristes que eu te chamei aqui. – Responde o diretor, deixando os documentos que revisava de lado. Ele então pega uma folha que estava sobre sua mesa e me estende. Pego-o e vejo que era a avaliação psicológica de Sam. – A sra. Shay me entregou ontem o relatório sobre a avaliação psicológica da paciente Samantha Joy Puckett. Aparentemente, ela se encontra apta a conviver com os outros pacientes da clínica.

Loucuras de AgostoOnde histórias criam vida. Descubra agora